O Papa, afinal, era Católico Romano? O ‘Evangelho’ de Bento XVI

Por Stephen McAlpine

Com a morte do Papa Bento XVI, a Igreja Católica Romana perde um de seus grandes intelectuais. Não apenas dos últimos anos, mas também através dos séculos. Bento realmente era um homem incrível com uma mente igualmente incrível. Sua compreensão das pressões culturais que as pessoas de fé enfrentam hoje foi consideravelmente grande. Ele viu a natureza enervante do secularismo sem transcendência pela forma como isto se mostrava.

Mas, o Papa Bento também era católico romano. Sem surpresas, não é mesmo? Contudo, eu tenho que mencionar isso. Porque, apesar de algumas esperanças revisionistas dos evangélicos que o admiravam, ele estava comprometido com a teologia católica romana. Especialmente em torno dos meios pelos quais os seres humanos são salvos e, consequentemente, ou talvez por esta causa, de sua compreensão da natureza santa de Deus.

Não tenho dúvidas de que Bento XVI era um homem profundamente piedoso; suas últimas palavras foram relatadas como tendo sido “Senhor, eu te amo”. Uma ótima maneira de deixar esse mundo.

Mas, em um momento em que vejo uma corrida em direção ao catolicismo romano por alguns evangélicos, especialmente os mais jovens, devido a percepção de que o Catolicismo está mantendo uma linha mais forte em questões éticas na praça pública (e porque oferece descaradamente uma “historicidade agradável” da qual muitos evangélicos positivamente fogem), quero afirmar a grande diferença soteriológica entre Roma e o protestantismo. Não é simplesmente por causa da teologia; é por causa da realidade existencial do que o evangelho realmente faz!

Na verdade, dolorosamente, tenho visto pessoas que conheço bem no ministério evangélico romperem com o protestantismo e debandarem para Roma. Eu quero mostrar a eles que estão desistindo mais – muito mais – do que eles pensam que estão ganhando.

Mas, para mim, a certeza da salvação é absolutamente central por que acredito que o centro teológico de Bento XVI é insuficiente, mesmo que seus escritos éticos e insights teológicos fossem surpreendentes, oportunos e corajosos.

Escrevendo em louvor a ele no jornal australiano nesse fim de semana, Tess Livingston cita seu livro de 2016, “Bento XVI, o Ultimo Testamento”. Bento faz esta observação astuta sobre a vida após a morte: “Deus é tão grande que nunca conseguimos terminar a nossa busca. Ele é sempre novo. Com Deus há um encontro perpétuo e sem fim, com novas descobertas e novas alegrias. Tais coisas são questões teológicas. Ao mesmo tempo, em uma perspectiva inteiramente humana, estou ansioso para me reunir com meus pais, meus irmãos e meus amigos; e imagino que será tão adorável quanto foi em nossa casa terrena.”

Um grande lembrete, de fato, de que o objetivo da nova criação, em primeiro lugar, será Deus, enquanto os benefícios colaterais serão os bons frutos de sua criação renovada, aprendendo e crescendo para sempre ao nosso lado.

Mas, Tess Livingston também cita Bento com aprovação quando diz o seguinte:

“Nunca alguém há de presumir que Deus é misericordioso”, ele também escreveu que quando ele encontrou o Senhor, “vou implorar diante dele por clemência para com a minha miséria.”

E é aí que eu acho que está o problema. Veja, suplicar a Deus por clemência quando o enfrentamos não é o evangelho. “Isso não é bom.” Pelo menos não é uma boa notícia para mim. Não é uma boa notícia para aqueles que exigem – na verdade – justiça pelas coisas pecaminosas que lhes foram feitas.

O Evangelho não é presumir que Deus é misericordioso, isso é verdade, mas é confiar na misericórdia de Deus. Apoiar-se na misericórdia de Deus. Cair sobre nossos rostos diante da misericórdia de Deus. E onde se encontra tal misericórdia? Não na clemência a Deus, mas na suficiência da obra consumada do Senhor Jesus Cristo em meu favor.

A beleza do evangelho é que, por causa da obra suficiente de Cristo em meu favor na cruz, a ira santa de um Deus justo que não pode suportar o pecado, e não será indulgente para com ele de uma maneira “Ah, mas isso não importa”, é saciada. A ira de Deus para com o meu pecado é satisfeita por causa da cruz. A cruz não torna Deus indulgente para com o pecado. Em contraste, demonstra sua ira santa e justa em relação a cada pingo dela.

No entanto, por causa da cruz de seu Filho amado e da grande troca que ocorreu lá, Deus me vê como justo. Uma justiça que não é minha– a justiça do Senhor Jesus – está por minha conta.

Isso é misericórdia, não clemência. O Evangelho – as boas novas da salvação através da fé somente pela graça somente – me humilha e glorifica a Deus como nada mais faz. E acabamos glorificando a Deus por causa disso, em vez de glorificar a nós mesmos.

Vejam, eu olho para o meu próprio pecado e não quero clemência. Meu pecado não merece isso. Eu vejo minha raiva, minha preguiça, minha luxúria, minha insensatez para com aqueles que estão sofrendo, meu tédio geral e mal serviço feito a Deus e eu não quero chegar a Deus e ouvir-lo dizer “Ah, tanto faz!” O que desejo ouvir de Deus é: “Olhe para o que o meu Filho perfeito tem feito em seu nome e para a minha glória!”

A clemência de Deus não me obrigará nem me capacitará a deixar meu pecado de lado. Mas, no poder do Espírito Santo, sua misericórdia vai!

Para por um ponto final nesse assunto, não quero clemência para quem pecar contra mim. Quero justiça! No entanto, se no centro do caráter de Deus está a misericórdia e não a indulgência, então eu preciso exibir a mesma misericórdia para com os outros que Deus exibiu para comigo. Isso não fará pouco do pecado dos outros, mas fará muito da misericórdia de Deus.

Olha, sinceramente, eu sei onde Bento quer chegar. À medida que envelheço, também penso no dia da minha morte com mais frequência. Todos os dias, isso acontece. Eu olho para a lentidão da minha santificação e me pergunto: “Sério? Eu não deveria estar mais adiantado do que isso?” E além disso, eu poderia morrer hoje. O que então me impede de entrar em desespero, a auto-percepção de que Deus meramente pode ser leniente para com o meu pecado no meu último dia? Não é a esperança de que ele seja leniente, mas a convicção de que ele é justo e no centro dessa justiça está a obra suficiente de Seu Filho.

No entanto, se o chefe da Igreja Católica Romana depende de leniência para ser aceito por Deus no julgamento final, então é lógico que isso é porque o centro da teologia dessa igreja pode realmente estar tendento a pensar dessa forma também. Embora eu tenha muitos amigos católicos romanos que, sem dúvida, amam Jesus e estarão cantando seus louvores comigo ao redor de Seu trono, isso será apesar do que está no centro da teologia daquela igreja, não por causa disso.

Portanto, não preciso que Deus seja indulgente com minha miséria. Isso não é nenhuma esperança ou conforto para mim nesta vida ou na próxima. Eu preciso que ele seja gracioso e misericordioso, com base na obra de salvação alcançada para mim por seu Filho, e nada mais. Aliás, se o que eu disse está causando alguma consternação para você, há um livro útil de um pastor australiano que agora ministra em Dubai, Ray Galea, que anteriormente era católico romano de herança maltesa. “Nada em minhas mãos eu trago: entendendo as diferenças entre católicos romanos e crentes protestantes.”

Eu não quero parecer muito grosseiro em relação a alguém que eu considero ter sido um bom homem e um grande teólogo, mas se eu quero um Deus brando, eu nem preciso tentar o cristianismo. Todas as outras religiões me darão isso também. E eu digo isso pensando no número crescente de jovens evangélicos que flertam com o catolicismo romano com base nisso, dando-lhes um impulso extra para suportar uma cultura secular azeda.

Portanto, é oportuno, ao terminar este post, lembrar que este último dia de Ano Novo também marcou o 250º aniversário do hino que talvez seja o mais conhecido de todos os tempos, “Amazing Grace”. Precisamos de um lembrete da diferença entre a visão de Bento de como Deus veria sua miséria e como John Newton a via?

Amazing Grace, how sweet the sound/That saved a wretch like me” (Maravilhosa Graça, quão doce é o som/Que salvou um pecador, como eu)

Deuses lenientes não são dignos de nossos hinos. Que tipo de Deus é? Que tipo de Deus assegurará que continuemos a cantar este hino por mais 250 anos se Cristo demorar?

Aqui está o tipo de Deus: um Deus misericordioso e gracioso, o Pai, que habita em luz santa e inacessível, mas por grande amor às Suas criaturas pecaminosas e rebeldes sacrificou Seu Filho; um Filho voluntário que, através de Sua encarnação, viveu a vida que não vivemos, mas morreu a morte que merecíamos e, ao fazê-lo, entregou a grande troca na cruz por nossa causa; o mesmo Filho que agora glorificou, compartilha os benefícios de Sua morte expiatória e ressuscitou a vida conosco pelo poder do dom residente do Espírito Santo de Deus.

Um Deus tão misericordioso e gracioso é digno de nosso louvor

TRADUÇÃO: Dave Farias

FONTE: https://stephenmcalpine.com/was-the-pope-a-catholic/