Esboços da História da Igreja – CAPÍTULO 4: POLICARPO DE ESMIRNA (século II)

Esboços da Historia da Igreja

J.C.Robertson

CAPÍTULO IV: POLICARPO DE ESMIRNA (166 d.C.)

 

Policarpo, bispo de Esmirna, foi condenado à morte na mesma ocasião que Justino o Mártir. Era um homem muito idoso, havia quase noventa anos desde que havia sido convertido do paganismo. Conheceu o Apóstolo João, que deve ter colocado Policarpo como bispo de Esmirna. Policarpo tinha sido amigo de Inácio, que, como vimos, sofreu o martírio cinquenta anos antes. Por todas essas coisas, e devido a seu caráter sábio e santo, foi considerado um pai por todas as igrejas, e seu conselhos moderados, por vezes, acabou com as diferenças de opiniões que, sem ele, poderiam se transformar em brigas duradouras.

 

Quando a perseguição chegou a Esmirna, no reinado de Marco Aurélio, muitos cristãos suportaram o sofrimento com grande firmeza, e a multidão pagã, sendo provocada pela recusa dos cristãos em renunciar à sua fé, clamou pela morte de Policarpo. O velho bispo, embora estivesse pronto para morrer por seu Salvador, lembrou que não era certo se atirar no caminho do perigo; então, deixou a cidade e foi primeiro a uma aldeia e depois a outra. Mas foi descoberto em seu esconderijo, e quando viu os soldados que procuravam por ele, disse calmamente: “A vontade de Deus será feita!” Policarpo desejou que dessem comida para os soldados e, enquanto eles estavam comendo, passou o tempo em oração. Ele foi então colocado em uma mula, e conduzido para Esmirna; quando estava perto da cidade, um dos magistrados pagãos levou-o para dentro dela de sua carruagem. O magistrado tentou persuadir Policarpo a sacrificar aos deuses; mas descobrindo que ele não podia fazer nada com o idoso, afastou-o da carruagem com tanta rispidez que o velho caiu e quebrou a perna. Mas Policarpo suportou a dor sem mostrar o quanto sofria. Os soldados o levaram para o anfiteatro, onde um grande número de pessoas estava reunido. Quando todos estes o viram, soltaram altos gritos de raiva e de alegria selvagem; mas Policarpo pensou, ao entrar no lugar, que ouviu uma voz dizendo-lhe: “Seja forte e seja homem!” E não prestou atenção a todos os gritos da multidão. O governador queria que ele negasse a Cristo, e disse que, se ele quisesse, sua vida seria poupada. Mas o fiel bispo respondeu: “Oitenta e seis anos eu servi a Cristo e Ele nunca me fez mal; como então posso agora blasfemar meu Rei e Salvador?” O governador reiterou o pedido, falando de maneira amigável para que Policarpo sacrificasse; mas o bispo recusou-se. O governador ameaçou que soltaria as bestas selvagens sobre ele, e como Policarpo ainda não mostrava medo, disse que o queimaria vivo. “Você me ameaça”, disse o bispo, “com um fogo que dura pouco tempo, mas você não conhece aquele fogo eterno que está preparado para os ímpios.” Então, uma estaca foi instalada, e uma pilha de madeira foi colocada em torno dela. Policarpo caminhou até o lugar com um olhar calmo e alegre, e, como os carrascos iriam prendê-lo na estaca com ferro, implorou-lhes para não se darem ao trabalho. “Aquele que me dá força para suportar as chamas”, disse ele “permitirá que eu permaneça firme”. Ele estava, portanto, apenas amarrado à estaca com corda, então, proferiu uma ação de graças por ter sido permitido a ele sofrer de acordo com o padrão de seu Senhor e Salvador. Quando sua oração terminou, a madeira foi incendiada, mas é dito que as chamas somente rodeavam, parecendo a vela de um navio inchado pelo vento, enquanto ele permanecia sem ser ferido no meio deles. Um dos carrascos, vendo isso, enfiou uma espada no peito do mártir, e o sangue correu de tal forma que apagou o fogo. Mas os perseguidores, decidindo que os cristãos não deveriam ter o corpo do seu bispo, colocaram fogo na madeira novamente e queimaram o cadáver, de modo que apenas alguns dos ossos permaneceram; e a estes os cristãos juntaram e deram um enterro honorável. Foi na véspera de Páscoa que Policarpo morreu, no ano 166 de nosso Senhor.

 

FONTE: https://www.ccel.org/ccel/robertson/history.html 

TRADUÇÃO: Douglas Moura

revisão: Cibele Cardoso

edição: Armando Marcos