J.C.Robertson
Capítulo 8 – Cipriano PARTE I (250-253 d.C.)
Aproximadamente na época de Orígenes viveu Cipriano, bispo de Cartago. Ele nasceu no ano 200, e foi conhecido como professor de paganismo antes de ser convertido aos 45 anos. Ele desistiu de ser chamado de mestre e – como os primeiros cristãos em Jerusalém (Atos 4.34f) – vendeu uma bela casa e jardins que possuía perto de Cartago e deu o preço com uma grande parte de seu dinheiro próprio para os pobres. Ele se tornou um dos clérigos de Cartago, e quando o bispo morreu, cerca de três anos depois, Cipriano era tão amado e respeitado que ele foi escolhido em seu lugar (248 d.C.).
Cipriano tentou com todo o seu poder realizar os deveres de um bom bispo e livrar-se de muitas coisas erradas que cresceram em sua Igreja durante a longa paz que tinha desfrutado. Mas cerca de dois anos depois que ele foi feito bispo, a perseguição sob o imperador Décio estourou, quando, como foi dito no último capítulo, os perseguidores tentaram especialmente atacar os bispos e o clero e forçá-los a negar a fé. Agora Cipriano estaria pronto e feliz de morrer, se tivesse servido para o bem do seu povo; mas ele lembrou-se de como nosso Senhor havia dito: “Quando forem perseguidos num lugar, fujam para outro.” (Mateus 10.23), e como Ele mesmo se retirou da fúria de Seus inimigos, porque a Sua “hora ainda não era chegada.”(João 8.20, 59; 9.54), pareceu ao bom bispo que, por enquanto, seria melhor sair do caminho de seus perseguidores. Mas ele observava constantemente tudo o que era feito em sua igreja, e ele muitas vezes escreveu para seu clero e povo a partir de seu esconderijo.
Entretanto as coisas estavam indo mal em Cartago. Muitos se chamavam a si cristãos nos tempos de paz. E agora, quando o perigo estava perto, um grande número deles correu para o mercado em Cartago, e pareciam bem ansiosos para oferecerem sacrifício aos deuses dos pagãos. Outros, que não sacrificaram, subornaram alguns oficiais do Governo para dar-lhes certificados de adoração, certificando que eles haviam sacrificado. Eles conseguiram convencer-se de que não haviam feito nada de errado com sua covardia e engano! Havia, também, alguns homens maliciosos entre o clero, que não desejavam que Cipriano fosse bispo, e tinham rancor dele desde que ele foi escolhido ao cargo.
Naquela época, era habitual, quando se sabia que qualquer cristão tinha sido culpado de um pecado grave, que (como é dito no nosso Serviço de Comunhão[1]), ele deveria ser “posto em penitência aberta” pela Igreja; isto é, que ele deveria ser obrigado a mostrar seu arrependimento publicamente. As pessoas que estavam nesse estado não tinham permissão para receber o santo sacramento da Ceia do Senhor como todos os outros cristãos o recebiam. Os piores pecadores foram obrigados a ficar de fora da porta da igreja, onde eles imploravam aos que estavam entrando para que orassem para que seus pecados fossem perdoados, e os penitentes que eram deixados entrar na igreja tinham lugares separados deles de outros cristãos. Às vezes a penitência durava anos, até que os penitentes tivessem feito o suficiente para provar que estavam realmente sofridos por seus pecados, para que o clero pudesse esperar que fossem recebidos à misericórdia de Deus pelo amor do Redentor.
Como era uma grande e gloriosa coisa morrer pela verdade de Cristo, e os mártires eram altamente honrados na Igreja, os penitentes tinham o hábito de ir até eles enquanto estavam na prisão esperando a morte e imploravam para que os mártires pedissem por eles à Igreja pelo abreviação da penitência designada. E era habitual, por consideração dos santos mártires, perdoar aqueles a quem eles haviam dado ordem que desejassem que os penitentes fossem tratados gentilmente. Mas agora essas pessoas em Cartago, ao invés de se mostrarem humildes, como verdadeiros penitentes seriam, avançaram de forma insolente, como se tivessem o direito de reivindicar que deveriam ser restaurados para a Igreja; e as cartas dos mártires (ou melhor, o que eles chamavam de cartas de mártires) eram usadas de uma maneira muito diferente de qualquer coisa que já havia sido permitida. Cipriano teve muitos problemas com eles; mas ele tratou sabiamente sobre o assunto, e finalmente teve a capacidade de resolver isso. Mas como as pessoas estão sempre prontas para encontrar a culpa de uma maneira ou de outra, alguns culpam-no por ser muito rigoroso com os caídos, e outros por ser muito brando; e cada um desses partidos foram tão longe que chegaram a colocarem bispos contra ele. Depois de um tempo, no entanto, ele conseguiu a melhor perante esses inimigos, embora a seita mais rigorosa (que era chamado de novacionismo, nomeada assim por causa de Novaciano[2], um presbítero de Roma) durou por trezentos anos ou mais[3].
[1] Da Igreja da Inglaterra (nota do revisor)
[2] O Novacianismo foi um movimento durante o cristianismo primitivo formado pelos seguidores de Novaciano e que se recusavam a readmitir em comunhão os os cristãos batizados que tinham renegado a sua fé e realizado sacríficios aos deuses pagãos – durante a perseguição de Décio em 250 d.C. Eles foram posteriormente declarados como heréticos. (Wikipédia)
[3] Este movimento cismático encontrou muita recepção na África e na Ásia Menor, onde absorveu o que restou dos montanistas. Sua doutrina era igual à das igrejas católicas. Foi apenas a questão de disciplina que questionavam: condições para ser membro da igreja e perdão de certos pecados específicos. Enquanto Cipriano admitia a reconciliação dos caídos “após uma penitência severa e prolongada”; Novaciano considerava que “reconciliação alguma lhe pode ser concedida”. Para Novaciano a igreja se identificava com um pequeno grupo de espirituais que estava em conflito obrigatório com a cidade terrena. Crendo que as igrejas católicas eram apóstatas, os novacianos rejeitaram as ordenanças delas. A crença na regeneração batismal era quase universal nesta época. Os novacianos deram tanta importância à necessidade do batismo ser ministrado por pessoa devidamente qualificada que rebatizavam os que vieram das igrejas católicas. http://www.pcamaral.com.br/2010/08/seitas-e-heresias-na-igreja-crista.html
FONTE: https://www.ccel.org/ccel/robertson/history.html
TRADUÇÃO: Douglas Moura
revisão: Plábyo Geanine
edição: Armando Marcos
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História Da Teologia Cristã de Gerald Bray