Manjares perigosos – Arthur Pink

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“Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti” (Pv 23:1).

 

 

Supõe-se que este verso tem pouca ou nenhuma aplicação para muitos de nossos leitores, visto como não há quase ninguém que possa vir, algum dia, a ser convidado para jantar com o presidente dos Estados Unidos ou com o rei da Grã-Bretanha. Infelizmente esse é o tipo de pensamento que pode encontrar lugar na mente de qualquer cristão. Infelizmente essa é a tendência de carnalizar a Palavra de Deus que é agora tão generalizada. Infelizmente esse é o [verso] que nossos intérpretes espirituais dos Oráculos Divinos têm quase banido da terra. Mas ainda que não haja um professor ungido para abrir as Escrituras, não deveria ser auto-evidente que o Espírito Santo nunca teria colocado um verso como este na Palavra se não possuísse aplicação para todos os do povo de Deus? E não deve esta mesma consideração nos levar a buscar em oração seu significado oculto?

“Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti”. Há outros “governantes” mencionados nas Escrituras, além dos civis. Não lemos sobre o “principais da congregação” (Êx 16:22), o “chefe da sinagoga” (Lc 8:41), bem como dos “dominadores deste mundo tenebroso” (Ef 6:12)? Perceba que nem todos os “chefes” da cristandade hoje foram escolhidos por Deus. De fato, longe disso. Pessoalmente o escritor duvida muito que dois a cada mil dentre os pregadores, ministros, e missionários, por todo mundo, foram chamados por Deus! Muitos deles se auto-indicaram, alguns foram enviados por homens, a maioria cresceu sobre a tutela de Satanás. O leitor atento dos Velho e Novo Testamentos perceberá que o número dos falsos profetas, em todas as eras, superavam em muito o número dos verdadeiros. É por essa razão que Deus nos ordena a “não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (I Jo 4:1). Por isso a admoestação dada em Provérbios 23:1 tem sempre sido atual para o povo de Deus prestar muita atenção, e talvez nunca tenha sido tão necessário dar um alerta sobre isso do que neste tempo apóstata e degenerado em que todos nós fomos lançados.

A pregação que ouvimos, e que em certa medida é absorvida, tem precisamente o mesmo efeito sobre nossas almas, assim como a comida que comemos tem efeito sobre nossos corpos: se for saudável, é nutritivo; se danosa, nos fará mal. “Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti”. É uns fatos trágicos que muitos dos próprios filhos de Deus são tão pouco espirituais, e tão ignorantes espiritualmente, que eles mal sabem como “atentar bem” o que está “diante deles”. Eles não sabem quais testes usar, nem como examinar o que ouvem. Se o pregador for “ortodoxo” e aprovado por aqueles que ele mesmo considera “sadios na fé”, eles pensam que sua mensagem deve estar correta. Se o pregador apenas crê nos “fundamentos” da fé, eles creem que deve ser um verdadeiro servo de Deus. Se o pregador se achega à letra das Escrituras, eles imaginam que suas almas estão sendo alimentadas com o verdadeiro leite da Palavra. Que tristeza a credulidade de tais almas desavisadas.

O leitor está prestes a perguntar, “Mas que outros testes devemos aplicar?” Vamos ajudá-lo a responder sua própria pergunta ao perguntar outra. Que critérios você aplica à comida material que você come? Você se satisfaz se ela foi preparada e cozida conforme os melhores livros de culinária? Claro que não. O principal é, o que sua comida produz? Ela satisfaz ou incomoda seu sistema digestivo? Ela promove ou ataca sua saúde? Nós concordamos, não? Muito bem, agora aplique a mesma regra ou teste à comida espiritual – ou, deveríamos dizer, mais acuradamente, a comida “religiosa” – que você está saboreando; que efeito ela está tendo sobre seu caráter e conduta, o que está produzindo no seu coação e na sua vida? Mas não devemos parar aí com uma mera generalização. Se as almas precisam de ajuda hoje, o servo de Deus deve ser preciso, e entrar em detalhes. Pondere cuidadosamente estas questões, querido leitor.

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Como se conduzir na Caminhada Cristã – Jonathan Edwards

Carta escrita por Jonathan Edwards para uma jovem que pediu suas orientações sobre o viver cristão, datada de 1741

Minha querida jovem amiga,

Como era do seu desejo que eu a mandasse, por escrito, algumas diretrizes em como conduzir-se a si mesma em sua Caminhada Cristã, agora o faço. As doces lembranças das coisas maravilhosas que vi em sua igreja inspiram-me a fazer qualquer coisa que estiver a meu alcance, contribuindo para a alegria e prosperidade espirituais do povo de Deus que aí está.

1. Aconselho-te a manter o esforço e o fervor na religião, como se estivesse em seu estado natural, procurando converter-se. Aconselhamos pessoas com convicção a serem fervorosas e violentas para o Reino dos Céus; mas elas não devem ser menos vigilantes, trabalhadoras e fervorosas na seara quando já convertidas, porém, ainda mais, pois há infinitas coisas a mais a se fazer. Por ser esta uma característica que nos falta, muitas pessoas, em poucos meses de conversão, começam a perder seu doce e vivo senso das coisas espirituais, crescendo geladas e em trevas, “desviando-se da fé e a si mesmos se atormentando com muitas dores” (1 Tm 6; 10), enquanto se tivessem atentado às palavras do apóstolo em Filipenses 3; 12-14, seus caminhos seriam como “a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4; 18)

 

2. Não deixe de procurar a Deus, de jejuar e orar pelas mesmas coisas que exortamos a pessoas não-convertidas a orar e jejuar, tendo você já passado por este processo. Ore para que seus olhos estejam abertos, para que receba a visão correta, conhecendo-te a ti mesma, e para seus pés descansem em Deus. Que você veja a glória de Deus e Cristo, e tenha o amor de Cristo derramado em todo o teu coração. Aqueles quem tem a muitas destas coisas, ainda assim precisam orar por elas, pois ainda há tanta cegueira, dificuldade, orgulho e corrupção, que necessitam ter o trabalho de Deus sobre eles a fim de receber luz e vida, sendo trazidos da escuridão para a maravilhosa luz de Deus, recebendo como que uma nova conversão e ressurreição dos mortos. Há poucos deveres convenientes a um não-convertido que também não o são, de certa maneira, para o povo de Deus.

 

3. Quando ouvir a um sermão, ouça por si mesma. Mesmo que provavelmente o que está sendo pregado seja para não-convertidos ou para aqueles que, de outras maneiras, estão em diferentes circunstâncias que você. Assim, deixe com que a principal intenção de sua mente seja a ponderação: em quais aspectos isto é aplicável a mim? E em que posso melhorar para o próprio bem de minha alma?

4. Apesar de Deus ter perdoado e esquecido seus pecados, não os esqueça: lembre-se sempre deles, de como era uma escrava sem esperança na terra do Egito. Traga à memória suas ações de pecado antes de sua conversão, assim como o apóstolo Paulo está sempre mencionando sua antiga atitude de blasfêmia, em que perseguia o Espírito e maltratava o povo de Deus, humilhando seu coração, dizendo ser “o menor dos apóstolos”, indigno de “ser chamado apóstolo”, “menor dos santos” e “o maior dos pecadores”. Confesse sempre seus pecados a Deus e deixe com que este texto esteja sempre em sua mente: “para que te lembres e te envergonhes, e nunca mais fale a tua boca soberbamente, por causa do teu opróbrio, quando eu te houver perdoado tudo quanto fizeste, diz o SENHOR Deus.” (Ez 16; 63)

5. Lembre-se que você tem muito mais motivos para lembrar-se e humilhar-se dos seus pecados agora, desde que se converteu, do que antes. Tudo isso se deve a suas muitas obrigações para com a vida com Deus, olhando para os escolhidos de Cristo, amando sempre sua amabilidade, apesar de toda a sua falta de valor desde sua conversão.

6. Esteja sempre vigilante para com seu contínuo pecado e não pense que você se preocupa muito com ele. Ainda sim, não esteja desencorajada nem permita que ele anule seu coração, pois, apesar de sermos exageradamente pecadores, temos um Advogado com o Pai, a saber, Jesus Cristo, o Santo. O sangue cuja preciosidade, o mérito cuja retidão, a grandeza cujo amor e fé infinitamente sobrepujam as mais altas montanhas de nossos pecados!

7. Quando começar a orar, ou tomar parte na Ceia do Senhor, ou participar de qualquer outra atividade de adoração, venha a Cristo como Maria Madalena fez!  Venha, e coloque-se aos Seus pés, e os beije, derrame perante Ele o doce óleo perfumado de amor oriundo de um coração puro e quebrantado, como ela derramou o perfume precioso de sua jarra de alabastro! “E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento.” (Lc 7; 37-38)

8. Lembre-se que orgulho é a pior víbora do coração, o grande distúrbio da paz da alma e da doce comunhão com Cristo: foi o primeiro pecado e se encontra bem baixo na fundação da obra de Satanás, sendo muito dificilmente arrancado fora, pois é o mais escondido, secreto e arruinador de todas as luxúrias, inserindo insensibilidade no meio da religião e até mesmo sob a desculpa de humildade. “O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço.” (Pr 8:13)

9. Que você faça um correto julgamento de si mesma, vendo sempre nos outros as melhores descobertas, o melhor conforto, pois têm esses dois lados: uns te fazem menor e insignificante, como uma criança. Outros, animam e consertam seu coração em uma disposição firme em negar-se a Deus, passar tempo com Ele e por Ele.

10. Se em algum momento você se encontrar em dúvidas sobre o estado de sua alma, em partes escuras e sem sentido, é necessário rever sua experiência passada. Mas não invista muito tempo e esforços neste caminho. Ao contrário, disponha-se com todo o seu ser a procurar ardentemente uma nova experiência, nova luz, novas ações de fé e amor. Uma nova descoberta da gloriosa face de Cristo fará mais sobre aterrorizadoras nuvens negras do que examinar experiências passadas durante um ano, sob as melhores nuances que podem dar.

11. Quando pouco se exercita a graça e a corrupção prevalece juntamente com o medo, não tente tirar isto de seu coração de qualquer outra maneira além de reviver o amor a Deus. Assim, o medo será efetivamente expulso, como a escuridão desaparece de um quarto quando os deliciosos raios de sol penetram-no.

12. Quando aconselhar e alertar as pessoas, o faça com vontade e afeição, com firme convicção. Lembre-se que estará falando ao seu próximo deixando que suas palavras contenham expressão de sua própria pequenez, mas também da graça soberana que te faz diferente.

13. Se você organizar encontros devocionais com jovens mulheres como você, uma vez a cada certo tempo, além de participar de outros encontros gerais, será muito proveitoso e útil.

14. Em quaisquer dificuldades, necessidades ou longos períodos de escassez, qualquer caso específico, para você ou outros, separe um dia para oração secreta e jejum. Gaste o dia, não tão somente pelas petições que faz, mas procurando seu coração olhando para sua vida, confessando seus pecados perante Deus. Não como se costuma fazer quando se ora publicamente, mas como um resumo a Deus de todos os pecados de sua vida, desde a infância, antes e depois da conversão, incluindo as circunstâncias e decaídas em relação a eles, apresentado diante d’Ele todas as particulares abominações de seu coração da maneira mais completa possível.

15. Não permita que os adversários da cruz reprovem a verdadeira religião. Quão retamente deveriam se comportar os filhos remidos e amados do Filho de Deus! Ainda, “caminhem como filhos da luz e do dia” e “adquira a doutrina de Deus seu Salvador”. E, especialmente, pondere sobre as virtudes cristãs que te fazem parecida com o Cordeiro de Deus. Seja humilde e submissa de coração, pura, celestial, amando a todos. Faça atos de amor aos outros e auto-negação pelos outros. Que haja em você uma disposição em pensar sobre os outros maior do que em você mesma.

16. Na sua vida, caminhe com Deus e siga a Cristo como uma pequena, pobre e desprotegida criança tomando a mão de Cristo. Mantenha seus olhos nas marcas das feridas em Suas mãos e lado, donde veio o sangue que te purifica do pecado, escondendo sua nudez nas vestes brancas celestiais.

17. Ore frequentemente pelos ministros da igreja de Deus, especialmente para que Ele continue seus glorioso trabalho que tem começado, até o dia da terra estar cheia de Sua glória.

 

ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM CONHECIMENTO SALFÍVICO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA

FONTE: http://gracegems.org/26/Edwards_letter.htm

Tradução: Projeto Castelo Forte

 

 

 

O que é Crer – J.C.Ryle

titulo_crerA fé e a crença, tratados por mim anteriormente, são uma graça de suma importância e serão, naturalmente, falsificadas, portanto, precisamos estar preparados para isso. Assim como existe uma fé morta, também existe a fé viva; a fé dos perversos, assim como a fé dos eleitos por Deus; a fé que é vã e inútil e a fé que justifica e salva. Como o homem saberá se ele tem a fé verdadeira ou não? Como ele saberá se acredita na salvação de sua alma? Há como descobrir. Um etíope é reconhecido pela sua pele, assim como um leopardo por suas manchas. A fé verdadeira pode ser reconhecida por algumas marcas. Elas estão expostas claramente nas escrituras. Leitor, vou me esforçar para deixar essas marcas de forma clara diante de você. Observe-as cuidadosamente e teste sua própria alma com o que vou dizer.

1.  Aquele que acredita em Cristo tem, dentro de si, paz e esperança.  Está escrito “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”, “Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso” (Rm 5:1, Hb 4: 3). Os pecados do cristão são perdoados e suas iniquidades são levadas embora, sua consciência já não está mais carregada com o peso de suas transgressões não perdoadas. Ele está reconciliado com Deus e tornou-se um de seus amigos, podendo olhar para a morte, o julgamento e a eternidade sem temor. A tormenta da morte é afastada e quando o julgamento do dia final for realizado e os livros forem abertos, não haverá nada posto a seu cargo. Ele estará preparado para quando a eternidade chegar, porque sua esperança está no céu e na cidade sólida. Ele pode não ser completamente sensível a todos esses privilégios, seu senso e visão sobre estas coisas podem variar enormemente dependendo do momento e podem ser frequentemente obscurecidos por dúvidas e medos. Como uma criança que ainda é muito nova, mas herda uma grande fortuna, ele pode também não estar ciente do valor de suas posses, mas com todas as suas dúvidas e temores, ele tem uma esperança verdadeira, sólida e real que o fará suportar as provas e poderá dizer “Tenho uma esperança que faz com que não me sinta envergonhado”. (Rm 5: 5.)

2.  Aquele que acredita em Cristo tem um novo coração. Está escrito, “Assim, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo“, “mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos quais crêem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”, “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus” (2 Co 5:17, Jo 1:12,13, I Jo 5:1). Um cristão não tem mais a mesma natureza de antes. Ele está mudado, renovado e transformado à imagem de seu Senhor e Salvador. Aquele que se preocupa primeiro com os assuntos da carne, não tem fé. A verdadeira fé e regeneração espiritual são companheiras inseparáveis. Uma pessoa não convertida não é cristã!

3.  Aquele que acredita em Cristo é uma pessoa cujo coração e vida são santos. Está escrito que Deus purifica “os seus corações pela fé” e que cristãos são “santificados pela fé”, “E qualquer que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo” (At 15: 9, 26: 18, I Jo 3: 3). Um cristão ama aquilo que Deus ama e odeia o que Deus odeia. O desejo do seu coração é caminhar segundo as ordenanças de Deus e se abster de qualquer costume maldoso. Seu desejo é andar segundo o que é justo, puro, honesto, amável e de bom testemunho e purificar-se de toda impureza da carne e do espírito. Por diversas vezes ele está muito aquém de seus propósitos e vê sua vida diária como um duelo constante contra a corrupção que habita nele. Ele luta e se recusa a servir o pecado. Onde não há santidade, podemos ter certeza de que não há fé salvífica. Um homem profano não é cristão!

4.  Aquele que acredita em Cristo trabalha na obra de Deus. Está escrito que a “fé opera pelo amor” (Gl 5:6). Uma crença verdadeira nunca fará um homem perder tempo, nem permitirá que ele fique imóvel, satisfeito com sua própria religião. Essa crença o motivará a realizar atos de amor, bondade e caridade quando perceber uma oportunidade. Ele será compelido a andar pelo mesmo caminho que seu Mestre, que “andou fazendo o bem”. De uma forma ou de outra, fará com que ele trabalhe. As obras que ele faz, talvez não atraiam os olhares do mundo. Elas podem parecer insignificante para muitas pessoas, mas não serão esquecidas por Ele, que nota até um copo de água gelada oferecida em Seu nome. Onde não há um trabalho por amor, não há fé. Um cristão preguiçoso e egoísta não pode caracterizar-se como cristão!

5.  Aquele que acredita em Cristo vence o mundo. Está escrito que “todo o que é nascido de Deus, vence o mundo, e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (I Jo 5:4). Um verdadeiro cristão não se regra pelos padrões mundanos de certo e errado, verdade ou mentira, não depende da opinião do mundo e não se importa com o reconhecimento do mundo. Ele não é movido pela censura do mundo, nem busca seus prazeres, tampouco ambiciona as recompensas dele. Ele olha para o que não se pode ver. Ele vê um Salvador invisível, um julgamento por vir e uma coroa de glória que não se desvanece. Tudo isso faz com que ele pense pouco do mundo. Onde o mundo reina no coração, não há fé. Um homem conformado com esse mundo, não pode se denominar cristão!

6.  Aquele que acredita em Cristo, tem um testemunho interno de sua crença.  Está escrito que “quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho” (I Jo 5:10). A marca diante de nós, requer um manejo delicado. A testemunha do Espírito é, inquestionavelmente, um assunto muito difícil, mas não posso temer em declarar minha própria convicção, de que verdadeiros cristãos sempre têm sentimentos dentro de si que são peculiares a eles, sentimentos que estão conectados com sua fé e que fluem dela, sentimentos que descrentes desconhecem. Ele tem o Espírito da adoção, pelo qual ele olha para Deus como o Pai reconciliador e o observa sem temor. Ele tem o testemunho de sua consciência, borrifada pelo sangue de Cristo, de que, tão fraco quanto possa ser, ele descansa em Cristo. Ele agora tem esperança, alegria, medo, dor, consolação e expectativa, coisas que não conhecia antes de crer. Ele recolheu evidências que o mundo não consegue entender, mas que são bem melhores para ele, mais do que qualquer livro de evidências existente. Os sentimentos são, sem dúvida alguma, muito enganosos. Mas onde não há sentimentos religiosos, não há fé. Um homem que não sabe nada sobre religião interna, espiritual e experimental, não é, ainda, um cristão!

7.  Por último, aquele que acredita em Cristo, tem um olhar especial em sua religião à pessoa de Cristo. Está escrito, “E assim para vós, os que credes, é preciosa” (I Pe 2: 7). Esse texto merece uma atenção especial. Ele não diz que o cristianismo é precioso, ou que o evangelho é precioso, ou que a salvação é preciosa, mas que Cristo é precioso. A religião de um cristão não consiste em mero consentimento intelectual a algumas afirmações e doutrinas, não é uma crença fria de um conjunto de verdades e fatos concernentes a Cristo. Ela consiste em união, comunhão e camaradagem com uma Pessoa que vive: Jesus, o Filho de Deus. É uma vida de fé, confiança e descanso em Jesus; uma vida de sugar o máximo dEle, falar com Ele, trabalhar para Ele, amá-lO e ansiar pela Sua segunda vinda. Essa vida parece entusiasmar a muitos, mas onde há fé verdadeira, Cristo será sempre conhecido e visto como um amigo vivo e pessoal. Aquele que não vê a Cristo como seu pastor, médico e redentor, não tem conhecimento algum sobre crer!

Leitor, agora coloquei diante de você, as sete marcas de quem crê e peço para que considerem-nas. Não estou dizendo que todos os cristãos as têm igualmente, e também não estou dizendo que aquele que não tiver todas essas marcas, não será salvo. Sei que muitos cristãos são tão fracos na fé, que passam todos os dias de sua vida duvidando até deles mesmo. Digo apenas que existem marcas para as quais o homem deveria direcionar-se primeiro, caso queira responder à questão: você crê?

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FONTE: Trecho do sermão “Você Crê?” pregado por J.C.Ryle e em breve na integra em nosso Projeto Ryle – Anuciando a Verdade Evangélica

O Estudo da Bíblia – Arthur Pink

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A partir das cartas que recebemos, concluímos que nestes dias difíceis, não são poucos os que lamentam o fato de que já não têm mais o mesmo tempo livre para uma leitura diligente, tempo este que antes eles tinham. As condições de trabalho têm exigido tanto, a competição é tão acirrada e impiedosa, e o ritmo se tornou tão acelerado que a maioria está demasiadamente exausta no final do dia para dedicar-se a qualquer coisa que envolva muito esforço. Nós compreendemos estes exaustos trabalhadores e ofereceremos a eles as seguintes orientações.

Primeiro, Deus não é um capataz egípcio, lançando sobre nós um fardo insuportável.

Segundo, não há nada mais relaxante e que traga mais alívio a uma mente sobrecarregada, do que gastar meia hora a sós com Deus, que sejam cinco minutos na leitura de um salmo ou uma porção dos evangelhos, 15 a 20 minutos diante do Trono da Graça – agradecendo a Deus por suas misericórdias do dia, expondo à Ele nossos problemas, buscando pelo refrigério da graça – e então a leitura de um capítulo das epístolas.

Terceiro, vá descansar meia-hora mais cedo que de costume, e levante-se mais cedo pela manhã, então gaste esse tempo com Deus, preparando-se para as exigências do dia.

Quarto, esteja mais determinado a observar estas sugestões aos domingos, a fim de que você gaste algumas horas lendo a Palavra de Deus e livros edificantes. Pois, não honra ao Senhor correr de uma reunião para outra, deixando para si mesmo pouco tempo para a devoção particular.

No entanto, há ainda uma outra classe de pessoas mais jovens ou aqueles que não são tão pressionados pelas exigências da vida moderna, que nos escrevem e perguntam o que consideramos ser “a melhor maneira de estudar a Bíblia”. Ultimamente nos parece que o termo “estudo”, neste âmbito, soa presunçoso e cheira à carnalidade. Não seria quase que irreverente empregar este tipo de linguagem aqui, desvalorizando a santa e única Palavra de Deus, trazendo-a ao nível de meras produções humanas? É um entendimento claro ou uma consciência sensível, que é a mais essencial para beneficiar-se da revelação Divina? É mais provável que qual destas, seja na prática, chamada de “estudo” adequado? “Qual método você recomenda para o estudo da Bíblia?” Não parece que tal pergunta indica que aquele que faz estas perguntas, supõe que as Sagradas Escrituras são endereçadas sobretudo ao intelecto? Aquele que questiona pode não estar ciente disto – pois o coração é muito enganoso – porém, não é isto que está realmente implícito? Você pode imaginar alguém que tenha recebido uma carta de seu amor, propondo que se sentem e a “estudem“? Esta expressão não seria totalmente absurda em tal relação?

Mas não foi o próprio Deus quem nos exortou que “estudássemos” Sua Palavra? Onde? Em qual passagem? O termo atual para “estudar”, ocorre somente cinco vezes na Bíblia. Duas vezes em Provérbios (v. 15:28; 24:2) onde tem o significado de “meditar” antecipadamente; uma vez em Eclesiastes capítulo 12 verso 12; novamente em 1 Tessalonicenses 4 verso 11 – “Estude para viver tranquilamente”; e finalmente, “estude para apresentar-se a Deus aprovado, um obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja bem a  Palavra de Deus” (v. 2 Tm 2:15), o qual é endereçado a um pregador, e significa que ele deve fazer deste seu interesse primordial, esforçando-se para agradar a Deus em todas as coisas, e para não poupar esforços em equipar-se a fim de ministrar a Palavra em tempo oportuno às almas carentes, de forma que cada uma receba sua porção necessária. Nem o verso, nem o seu próprio contexto, fazem qualquer referência a separação das Escrituras, atribuindo um livro para este determinado fim e outro para aquele determinado fim – o que é uma sutileza do Inimigo para roubar dos filhos de Deus, muitas das porções necessárias de seu alimento espiritual.

Estamos insinuando, então, que o povo de Deus deveria devotar menos tempo às Escrituras, ou que deveriam ser encorajados a examiná-la superficialmente? Não, de maneira nenhuma! Aquilo contra o que estamos protestando aqui é a idéia, que desonra à Deus, de que Sua Palavra é meramente uma peça de literatura, a qual pode ser “dominada” por um mero método de “estudo“. Aquilo contra o que advertiríamos é a atenção indevida aos aspectos técnicos da Bíblia. Sem hesitar, leia e releia toda a Bíblia em sequência, de forma a tornar-se familiarizado com seu conteúdo. Sem hesitar, “examine as Escrituras diariamente” (v. Atos 17:11) com o objetivo de por à prova tudo o que você ouve e lê; “compare” uma parte com outra, a fim de que você obtenha uma visão clara do que está diante de você. Ore sempre para que vocês tenha a direção e a iluminação do Espírito, para que Ele possa lhe dar discernimento dos mistérios divinos; pondere calmamente cada palavra em cada verso. Acima de tudo, rogue a Deus que escreva Sua Palavra mais claramente e de forma plena sobre as tábuas do seu coração.

A bendita Palavra de Deus não é deve ser dissecada pela fria faca do intelectualismo, mas ela deve ser guardada no coração. Ela não nos foi dada para exibirmos sabedoria e “esplendor“, mas para que nos curvemos diante dela em verdadeira humildade. Ela não foi concebida para que se tornasse um passatempo para nossas mentes, mas para governar nossas vidas diárias. Muito, muito mais importante que o “método”, é nossa motivação quando nos achegamos à Palavra. Não para que nos ensoberbeçamos acerca de nós mesmos, mas para que o orgulho seja dominado e sejamos levados a suplicar diante do escabelo da misericórdia; isto é o que deveríamos buscar. Que valor tem o conhecimento dos originais em Hebraico e Grego – ou um conhecimento apurado acerca da história, geografia e cronologia da Bíblia – se o coração permanece frio e duro diante de seu Autor?

Portanto, duvidamos muito que essa palavra, “estudo”, é apropriada para ser aplicada a nossa leitura das páginas inspiradas. O que pensaríamos de uma criança, longe de casa, que dissesse que ela estava indo “estudar” as cartas que recebeu de seus pais? A Bíblia consiste em uma série de cartas dada pelo Pai Celeste a seus amados filhos. Então, vamos tratá-las assim e agir de acordo com isto.

Assim como escrevemos recentemente a dois amigos nos Estados Unidos, “eu me pergunto se vocês ficariam surpresos se eu dissesse que, duvido seriamente que Deus tem pedido ou exigido de vocês que ‘estudem’ sua Palavra – o que vocês tem que fazer é ‘alimentarem-se’ dela. Quantos nutrientes seus corpos iriam obter do estudo das propriedades químicas dos nutrientes das frutas e cereais – ou pela busca da compreensão dos diversos tipos de solos nos quais foram cultivados, ou os diferentes tipos que se derivaram – ou o significado de seus nomes em latim? Absolutamente nenhum! E estou convencido de que grande parte do moderno ‘estudo da Bíblia’, é incapaz de prover alguma espiritualidade. Verdadeiramente, o estudo, como mencionado acima, alimentaria o orgulho – adquiriria um conhecimento que muitos de seus amigos não possuem; mas isto ajudaria na digestão?

Não seria mais prático dar mais atenção ao fato de assegurar uma dieta nutricionalmente  balanceada? Não seria muito mais proveitoso se você desse mais atenção à mastigação de seu alimento? Assim, queridos amigos, é com seu alimento espiritual“. “Desejem sinceramente o leite da Palavra, para que assim cresçais” – v. 1 Pe 2:2. Este é o único alimento realmente nutritivo para nossa alma!

Não se prenda unicamente aos seus livros favoritos da Escritura, de forma que venha a negligenciar outros igualmente necessários, mas varie sua leitura e então você obterá uma dieta balanceada. Memorize um verso ou dois ao dia e medite neles sempre que tiver tempo, mesmo quando estiver a caminho do seu serviço ou nele, e então você mastigará seu alimento. Coloque os preceitos em prática, atente às orientações das Escrituras, e então você absorverá aquilo do que se alimentou.

Atenção: É necessário que deixemos bem claro que este breve artigo não é voltado para pregadores e professores.

ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM CONHECIMENTO SALFÍVICO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA

FONTE: http://gracegems.org/Pink2/bible_study.htm

Tradução: Geison Pimentel

Revisão: Thiago McHertt