Personagens da Reforma – dia 15 “Thomas Cranmer. O tutor da Reforma inglesa”

Este artigo pertence a uma série intitulada Projeto Reforma, uma compilação de escritos sobre a celebração do Dia da Reforma Protestante publicados pelo site “Soldados de Jesuscristo” em espanhol . Tradução ao português via Projeto Castelo Forte. CONFIRA os outros dias AQUI

por Matthew Westerholm e Armando Marcos

Quando o rei Henrique VIII estava em seu leito de morte, ele queria um homem para acompanhá-lo e segurar sua mão. Surpreendentemente, aquele homem foi um dos maiores defensores da Reforma Protestante de seus dias.

Embora Thomas Cranmer tenha ajudado a liderar a Reforma na Inglaterra, ele é um herói incomum em comparação com Lutero, Calvino e outros reformadores. Ele não escreveu nenhum livro de teologia ou foi pastor de nenhuma igreja importante. Nem adotou nenhuma das verdades centrais da Reforma até relativamente tarde em sua vida. No entanto, durante os anos da Reforma Protestante, ele moldou a teologia inglesa mais do que qualquer outra pessoa que já viveu.

A semente da separação

Cranmer nasceu em 1489 na pequena cidade de Aslockton e cresceu perto da mesma floresta de Sherwood onde Robin Hood se escondeu séculos antes. Ele era um leitor lento, levando oito anos para concluir seu estudo de graduação de quatro anos na Universidade de Cambridge. Ele perseverou em seus estudos, completou um mestrado, foi ordenado ministro e escolhido para ensinar em Cambridge. Ele construiu uma reputação de incentivar seus alunos a estudarem a Bíblia por conta própria.

Enquanto Cranmer passava seus dias servindo pacificamente em comitês acadêmicos, a turbulência reinava na Inglaterra. Henrique VIII queria anular seu casamento com Catarina de Aragão. Por meio de uma estranha combinação de circunstâncias, Cranmer sugeriu a alguns dos conselheiros de Henrique que o rei da Inglaterra, em última instância, não estava sujeito ao governo do papa (para grande deleite do rei). Assim, sem querer, o conselho de Cranmer plantou a semente para a separação entre a Igreja da Inglaterra e o Catolicismo Romano.

O político reformado

Cranmer trocou o catolicismo romano pela doutrina reformada no final de sua vida, uma transformação que refletiu a turbulência e a divisão da Reforma Inglesa. Embora tenha lido Martinho Lutero com ceticismo enquanto estudava em Cambridge, ele se entusiasmou com o pensamento reformado depois de fazer amizade com Simon Grynaeus e Andreas Osiander. Ele acabou rejeitando a doutrina da transubstanciação após conversas com seu amigo Nicholas Ridley. Mais tarde, Cranmer esclareceu suas reformas litúrgicas por meio de conversas com o reformador italiano Pietro Martire Vermigli  e o alemão Martin Bucer.

A teologia de Cranmer mudou drasticamente para os católicos romanos ingleses e muito lentamente para os evangélicos de mentalidade reformada. Para alguns (até hoje), as reformas de Cranmer pareciam muito pessoais e motivadas politicamente. No entanto, ele não teve o luxo de elaborar suas crenças abstratas na companhia de estudiosos imparciais. Sua teologia foi formada em meio a caldeiras políticas e crises pastorais.

O pai da igreja da Inglaterra

As maiores realizações ministeriais de Cranmer ocorreram durante o reinado de Eduardo VI, quando ele reescreveu as liturgias públicas no Livro de Oração Comum, os sermões pastorais no chamados “Livros das Homilias”, as orações privadas nas chamadas “Coletas” e os princípios de fé contidos nos chamados 42, depois “39 Artigos da Religião”, definem a estrutura doutrinária e a piedade pessoal que mais tarde se desenvolveriam na Igreja Anglicana, pelas quais ele é lembrado.

Cranmer queria que todos nas igrejas inglesas adotassem a justificação somente pela fé. Ele escreveu:

Esta proposição – que somos justificados somente pela fé, gratuitamente e sem obras – é declarada a fim de eliminar todo mérito em nossas obras, como insuficiente para merecer nossa justificação nas mãos de nosso Deus; e, portanto, expressa claramente a fraqueza do homem e a bondade de Deus, a imperfeição de nossas obras e a graça mais abundante de nosso Salvador Cristo; e, portanto, atribui totalmente o mérito de nossa justificação somente a Cristo e seu precioso derramamento de sangue (The Works of Thomas Cranmer, 131).

Retração dupla

Quando rainha católica Maria I – chamada de  “a sanguinária”, por conta das perseguições violentas aos protestantes – chegou ao poder, as convicções reformadas de Cranmer custaram-lhe a vida. Durante um período agonizante de três anos, ele foi preso, isolado, humilhado, interrogado e torturado. Ele foi forçado a assistir seus amigos Nicolas Ridley e Hugh Latimer serem queimados vivos.

Mais tarde, em sua própria execução, Cranmer quase sucumbiu e chegou a retirar suas crenças ao assinar um documento no qual rejeitava as doutrinas que ele ensinava; no entanto, esse estadista geralmente quieto e hesitante demonstrou poderosamente sua fé em Cristo ao renegar esse documento, de público se arrepender e ser queimado vivo na fogueira. Ao ser lançado às chamas, ele mesmo primeiro colocou nelas a mão que assinara a retratação….

A mão.

No entanto, o momento que melhor ilustra o legado duradouro de Cranmer não foi o dia de sua própria morte, mas um dia nove anos antes, quando ele estava deitado no leito de morte do rei Henrique VIII. Em 27 de janeiro de 1547, o rei Henrique estava morrendo. Um cortesão perguntou quem ele queria ter ao seu lado. O rei chamou a Thomas.

Quando Cranmer chegou, o rei Henrique não conseguia mais falar. Foxe conta a história.

Então o arcebispo o exortou a colocar sua fé em Cristo e clamar por misericórdia, e embora ele não pudesse falar, ele deveria dar algum sinal com os olhos ou com a mão de que confiava no Senhor. Então o rei, com a mão na sua, apertou-os com toda a força (Livro dos Mártires de Foxe, 748).

A cena enfatiza docemente a amizade mais importante da Reforma Inglesa. Independentemente do que o rei Henrique acreditou naquele dia em que apertou a mão de Cranmer, Deus usou o vínculo entre eles para libertar a Inglaterra do catolicismo romano e trazer de volta o verdadeiro evangelho.

FONTE: https://somossoldados.org/thomas-cranmer-1489-1556-el-cabildero-del-evangelio/