O Evangelho para os Não Convertidos (Spurgeon)

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N° 1389

Sermão pregado na noite do Domingo 19 de Agosto de 1877

por Charles Haddon Spurgeon

Pregado numa noite livre para visitantes, a congregação regular já havia deixado seus lugares

Tem confiança. Levanta-te, Ele te chama” – Marcos 10:49

Queremos que estes serviços abertos a todo o público sejam puramente evangelísticos, como vocês compreenderão. Sem dúvida temos entre nós um grande número de crentes, muitos deles bem estabelecidos na fé, que gostariam de ouvir uma exposição de doutrina, a interpretação de uma figura, ou um símbolo apocalíptico decifrado, mas realmente não posso me dirigir a eles esta noite. Sinto-me um pouco como Lutero quando pregava diante de uma congregação mista. Dizia até onde me recordo, palavras como: “Vejo na igreja o Doutor Justo Jonas e a Melanchton, e a outros eruditos doutores. Agora, se prego para a edificação deles, o que vai acontecer com o restante? Por conseguinte, com a permissão deles, vou esquecer que está entre nós o Doutor Jonas e vou pregar à multidão”. Assim, devo fazê-lo nesta boa hora, pedindo àqueles de vocês que se adiantaram na vida divina que unam suas orações à minha, para que subam de maneira contínua, para que a palavra do Evangelho possa ser bendita para os não convertidos.

Queridos amigos, há muitos de vocês que têm ouvido durante muitos anos a proclamação do Evangelho, na linha divisória, quase junto à terra de Emmanuel, mas não de todo nela, desejo profundamente que seja o tempo de sua decisão pelo Salvador. Que já não continuem sendo só ouvintes, mas que sejam crentes sem demora, e depois, praticantes da palavra.

Há cavaleiros na Inglaterra que se podem dar ao luxo de conduzir uma grande carruagem de quatro cavalos, de povo em povo, sem levar ninguém, levando sua viagem simplesmente como passatempo. Mas eu não sou capaz e não tenho o desejo de fazer algo parecido. A menos que tenha minha carruagem carregada com passageiros que vão para o céu, preferiria que ela nunca se colocasse a caminho, e que minha equipe estivesse presa no estábulo. Devemos levar almas ao céu, pois nosso chamado vem do alto, e nosso tempo é muito precioso para ser desperdiçado na simples pretensão de fazer o bem. Não podemos brincar de pregar: pregamos para a eternidade. Não podemos nos sentir satisfeitos apenas pregando sermões a um aglomerado de pessoas indiferentes, ou às mais atentas multidões.

Ainda que nos deem as boas-vindas com sorrisos ao iniciar, e nos saúdem com beneplácito ao terminar, não estamos contentes a menos que Jesus traga a salvação por nosso meio. Nosso desejo é que a graça se engrandeça e que os pecadores sejam salvos. Costumavam se esquivar do Tabernáculo de Moorfields e do que está em Tottenham Court Road, chamando-os de armadilhas de almas do Sr. Whitefield. Um nome excelente para um lugar de adoração; que assim seja este Tabernáculo! Deve ser uma armadilha de almas, e nos sentiríamos decepcionados, de verdade, se algumas almas não caíssem na armadilha esta noite. Meu coração estaria verdadeiramente triste se Deus não abençoasse a palavra nem a fizesse tão potente para que alguns de vocês se aproximem da proclamação do Evangelho e entrem na vida eterna.

Antes de tentar me ocupar do meu texto, deixem-me descrever-lhes o plano da salvação. Vocês o conhecem, a maior parte de vocês. Oh, que possamos chegar aos milhares de pessoas em Londres, que não o conhecem, às multidões que nunca entram em uma casa de oração ou não prestam atenção à mensagem do Evangelho. Nosso coração está ansioso para chegar a eles: mas que mais podemos fazer por eles? Perecem em uma ignorância voluntária. Damos graças a Deus porque muitos deles estão aqui esta noite; vou aproveitar esta oportunidade para pregar o plano da graça.

Ainda que muitos de vocês o conheçam, permitam-me repeti-lo outra vez. Pelo pecado, pela injustiça, pela violação da lei de Deus, rompemos nossa paz com Deus. Estamos perdidos, porque Ele deve castigar o pecado. Não é possível que Ele seja justo governador do Universo e que permita que o pecado permaneça sem ser castigado. Castigar o pecado não é um propósito arbitrário de um Deus irado. É inevitável no universo que ali onde há maldade, deve haver sofrimento. Cada transgressão deve receber seu devido castigo, se não nesta vida, na vida vindoura.

A pergunta é, como podemos ser perdoados? Como, consistentemente com a justiça divina, podem ser apagadas nossas iniquidades? Este não é um problema extremamente complicado que nos foi dado para que o resolvamos. O caminho de Deus para alcançar a paz é apresentado com clareza pela revelação. Deus, por meio de Sua palavra infalível, nos disse quais são os meios e os instrumentos pelos quais os pecadores culpáveis podem ser feitos justos diante Dele; e que, no lugar de serem afastados de Sua presença ao final, possam ser aceitos e possam habitar à Sua direita. Ele nos disse que, como o primeiro pecado que nos arruinou não foi nosso, mas de Adão, e pela transgressão de um homem todos caímos, assim pôde ser possível que Ele, em consonância com a justiça, ordenasse que outro homem viesse no futuro por quem pudéssemos nos levantar e sermos restituídos. Esse outro homem veio: “O segundo Adão, o Senhor do céu”.

Mas a tarefa de levantar foi muito mais dura que a de derrubar. Um simples homem pôde nos arruinar, mas um simples homem não podia redimir-nos nem resgatar-nos. Por conseguinte, Deus mesmo, o sempre bendito, vestiu-se a Si mesmo com a natureza do homem, nasceu de uma mulher, dormiu no presépio de Belém, viveu aqui na terra uma vida de humilhação e de abnegação, e por último tomou sobre Si mesmo os pecados dos homens em uma carga monumental.  Assim como a fábula de Atlas, que diz que ele levava o mundo sobre seus ombros, assim Ele tomou sobre Si o pecado e a culpa e os carregou em Seu próprio corpo no madeiro. Na cruz, Jesus morreu como o substituto por toda nossa raça que crerá Nele alguma vez, e nesse lugar e nesse momento, por Seu sofrimento, tirou toda a transgressão e iniquidade dos crentes, de maneira que agora podemos pregar a toda a humanidade, dizendo: “todo aquele que Nele crer não se perde, o que crê no Filho de Deus tem vida eterna”.

Quando vocês vão a uma cidade no estrangeiro pela primeira vez, ficando num hotel, podem se perder quando saírem, e talvez não consigam regressar com a facilidade desejada; por conseguinte, é geralmente recomendável que os viajantes aprendam as principais ruas de cada cidade que visitarem. Em Roma[1] chegamos a conhecer o sentido em que corre a rua do Corso e quando tivemos uma ideia da localização desta rua tão importante, pouco a pouco fomos capazes de encontrar nosso caminho através da cidade. Agora notem, a rua principal do Evangelho é a substituição. “Ao que não conheceu pecado, por nós Deus o fez pecado, para que nós fossemos feitos justiça de Deus nele.” A rua principal do Evangelho corre em forma de cruz; sigam-na, e, em pouco tempo vocês conhecerão as entradas e saídas das outras grandes ruas. Esta é a Rua Principal da Cidade da Graça: “Cristo nos redimiu da maldição da lei ao fazer-se maldição por nós”. Cristo tomou nosso lugar e sofreu para que nós não sofrêssemos. Ele “morreu, o justo pelos injustos, para nos levar a Deus”.

Quem crê em Cristo é salvo do poder de condenação do pecado e livrado da ira vindoura. Considerem este feito em toda sua largura e comprimento, nunca duvidem dele, e assim vocês terão a chave do Evangelho. Digo, pois, que quem confia sua alma ao Senhor Jesus Cristo, descansando neste sacrifício que Ele ofereceu, e nessa morte que Ele suportou, é salvo. Que não duvide disso. Isso tem a palavra de Deus como base. Que creia e que se alegre nisso. “Aquele que crê nele não é condenado”, porque, “como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que crê nele tenha vida eterna”. Uma confiança no Senhor Jesus, simples como a de um menino, dá à alma que está cheia de confiança, salvação imediata e completa.

Bem, essa é a rua principal da cidade. A pergunta é como entrar nela; eu desejo de todo o coração, e espero devotamente, ser o meio de conduzir a alguns homens para ali, com a ajuda de Deus. Que o Espírito Santo dê testemunho da verdade e a converta em poder de Deus para salvação. Nosso texto diz: “Tem confiança. Levante-se, Ele te chama”.

Nosso primeiro ponto é que alguns que buscam a Cristo necessitam de grande consolo. Em segundo lugar, seu melhor consolo está no fato de que Jesus os chama. Mas, em terceiro lugar, se aceitam o consolo desse chamado, os anima a uma ação imediata: “Levante-se”. “Tem confiança. Ele te chama”.

 

  1. Primeiro, pois, MUITAS PESSOAS QUE REALMENTE BUSCAM AO SALVADOR NECESSITAM DE GRANDE CONSOLO.

Sei que há aqui esta noite muitas dessas pessoas. Vocês anseiam pela vida eterna. Deus implantou em vocês um desejo de serem reconciliados com Ele, mas precisam ser animados, porque vocês se cansam sob uma espécie de temor indefinido de que essas coisas boas não são para vocês. Em parte sua consciência de si mesmo, em parte sua falta de fé e em parte Satanás, esses três se juntaram para jogar uma névoa sobre vocês, e vocês realmente pensam que não podem ser perdoados.

Pode até ser que vocês não coloquem isso tudo exatamente nesses termos, mas assim é o rumo dos seus pensamentos. Vocês têm uma vaga ideia de que há muitas boas pessoas santas que serão salvas e, certamente, que há alguns grandes transgressores que serão salvos; mas não pensam que vocês possam sê-lo. Oh, que eu possa destruir esse pensamento incrédulo! Há salvação, há misericórdia, há perdão, e é gratuito para cada alma que quer vir e tomá-los; É sem nenhum custo, como o ar que respiram, ou como a água que salta dessa fonte. “Aquele que quiser, tome da água da vida gratuitamente”.

Vocês estão equivocados em todas essas reflexões sombrias. Vocês escrevem coisas amargas contra si mesmos, mas Deus não as escreveu. O que aconteceria se recobrassem ânimo e tivessem uma esperança: “talvez possa eu encontrar vida eterna esta noite. Talvez possa sair esta noite desta casa livre da carga do meu pecado”. Seria um bom começo se tivesse uma esperança assim, mas poderia ir muito mais longe com essa grande confiança.

Pode ser que você esteja abatido porque pensa que tem buscado em vão. Você, jovem, começou a orar faz alguns meses, e me dá gosto ouvir isso. Mas ainda não obteve a paz. Não deixe de orar. Sei que está desanimado, mas não deixe de buscar. Eu mesmo fui durante muitos meses um sério buscador de Deus por meio da oração. Pensava que pela oração inoportuna devia encontrar perdão. Não entendia que Ele tinha dito: “Creia no Senhor Jesus e será salvo”. Assim, pus-me a trabalhar orando. No entanto, estou grato por não ter cessado de orar, ainda que frequentemente parecesse que desperdiçava minhas palavras e gastava minhas lágrimas em vão.

Não se desalente. Este cego não foi ouvido no princípio, ainda que gritasse com força. Teve que gritar por sua vista repetidas vezes, aumentando sua veemência cada vez mais. Não se deixe levar pelo desespero. Pode haver atrasos, mas nunca haverá uma negativa para aqueles que clamam verdadeiramente. Tenha consolo. Continue, querido coração, continue, e encontrará a paz e o consolo.

Talvez, também, estejam tristes porque há muitos ao redor de vocês que os desanimam. Dizem-lhes que não há nada na religião. Como poderiam saber disso? É uma estranha paixão. Há muitos indivíduos no mundo que são considerados honestos nos negócios: vocês aceitariam suas firmas, confiariam em sua palavra em relação as coisas que vendem e, no entanto, quando essas boas pessoas começam a dizer que estão conscientes de uma vida nova dentro delas, que descobriram que Deus é real e espiritual, e que receberam um Espírito que habita dentro deles, ou que têm uma comunhão com Deus, na mesma hora muita gente diz que isso não é verdade, chamando-os de mentirosos. E por que não é certo? Em que se baseiam ao desacreditá-los? Simplesmente porque essa gente que mencionamos, diz que nunca sentiram algo assim. Mas se houvesse um mundo cheio de gente cega e, entre eles, umas pessoas abençoadas com visão, cujos olhos foram abertos, se estes começarem a falar da luz do Sol e da cor, todos os cegos poderiam dizer, “isto não é verdade”. Por quê? “Porque nós nunca vimos a luz do Sol e a cor”. Acaso isso prova que não é verdade? Mesmo que vocês não possuam a faculdade da visão, outros, sim, a possuem.

Se esses homens são honestos em outras coisas, têm tanto direito de serem cridos nesse assunto como nos demais. Afirmamos solenemente que há algo real na religião. Não é somente um credo, é uma vida. Os regenerados pertencem a uma nova criação. Se algum homem está em Cristo, ele é uma nova criatura com novas faculdades e novos poderes, de maneira que é introduzido em um mundo completamente novo. Então, não acreditem naqueles que lhes dizem que não há nada, porque eles não sabem e por conseguinte não são testemunhas aceitáveis. Não podem atestar nada senão somente o fato de que não participam do segredo.

O homem levado a juízo por um assassinato e contra quem se apresentaram seis testemunhos disse que não devia ser condenado, porque ele poderia trazer sessenta testemunhas que viram que não o cometeu. Claro que podia. E dessa maneira poderíamos trazer sessenta mil pessoas que disseram que não há vida espiritual porque elas nunca sentiram essa vida. O que prova isso? Somente prova que eles não sabem nada a respeito. Mas se trazem uns (ainda que sejam poucos) homens retos, honestos, de mente sincera a quem vocês acreditariam em outras coisas, vocês estão obrigados a aceitar seu testemunho acerca disso.

Há algo real na fé em Jesus. Há uma paz que ultrapassa todo o conhecimento e é obtida por meio do perdão do pecado. Há um novo nascimento, e nós o sentimos. Há uma nova vida, e nós a desfrutamos. Há uma alegria que salta por cima dos estreitos limites terrenais: há um descanso do coração similar ao descanso que gozam os benditos que estão no céu, e pode ser desfrutado aqui e agora. Milhares de nós somos testemunhas de que assim é.

Então, não se desanimem, pois não estamos contando velhas fábulas, mas a própria verdade que nós mesmos temos atestado e provado. Vocês que estão buscando a vida eterna não necessitam ser desconcertados pelos céticos. Nós somos homens sinceros, e estamos lhes dizendo o que experimentamos por nós mesmos. Vocês encontrarão que é tal como Deus o declara.

Talvez uma razão pela qual vocês não obtiveram consolo é porque ainda não conhecem todo o Evangelho. As boas novas contadas pela metade, com frequência, podem parecer más notícias. Li que, nos dias da sinalização por faróis, chegou à Inglaterra uma mensagem, uma mensagem concernente ao Duque de Wellington, e ele leu a metade dessa mensagem como aparecia no farol, que assombrou toda a Inglaterra com a triste notícia. Dizia assim: “Wellington derrotado”. Todos se afligiram quando a leram, mas aconteceu que não haviam lido toda a mensagem. Havia interferido a névoa, e quando pouco a pouco foi ficando nítido e o telégrafo voltou a emitir seu sinal pela segunda vez, se recebeu assim: “Wellington derrotou os franceses”, que é algo completamente diferente, totalmente o contrário do que a metade da primeira mensagem havia levado a temer.

Assim, quando vocês escutam a metade do Evangelho pode parecer que os condena; mas somente têm que ouvir a outra metade para descobrir suas confortantes boas novas. Eu diria, sejam inteligentes ouvindo o evangelho. Sejam diligentes estudando no Livro Sagrado que Deus nos deu. E quando conhecerem a verdade mais plenamente, acharão que a fé vem a vocês pelo ouvir e entender a Palavra de Deus. Deixem esses ministros que pregam só uma porção do Evangelho, e tratem de conhecer toda a mensagem de amor, e pela iluminação do Espírito Santo, logo perderão seus temores.

Não pensam vocês que algumas pessoas que buscam não encontram o consolo porque se esquecem que Jesus Cristo está vivo? O Cristo da igreja de Roma sempre é visto em uma de duas posições: ou como um bebê nos braços de sua mãe, ou morto. Esse é o Cristo de Roma, mas nosso Cristo está vivo. Jesus “uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre”. Em Turim, foi-me solicitado que, junto com outros, me fosse mostrado o sudário com o qual se sepultou o Salvador. Devo confessar que não tinha a suficiente fé para crer no sudário, nem tinha a suficiente curiosidade para querer ver o lenço fictício. Para mim, era um objeto sem valor, ainda se soubesse que era genuíno. Nosso Senhor deixou seu sudário e sepulcro e vive no céu. Esta noite vive de tal maneira que um suspiro de vocês o alcançará, uma lágrima o encontrará, um desejo do coração o trará para vocês. Tão somente busquem-no como um Salvador que vive e que os ama e ponham sua confiança Nele que se levantou dentre os mortos para nunca morrer, e o consolo virá a seu espírito. Eu confio que assim será.

Talvez, também, vocês tenham a ideia que a conversão é algo terrível. Uma jovem se aproximou de mim outro dia, depois do serviço, para me perguntar se realmente era certo o que eu havia dito quando expus que aquele que acreditava em Jesus Cristo era salvo neste instante. “Sim”, disse-lhe; e dei-lhe as citações das escrituras para isso. “Oh”, disse-me, “meu avô me contou que quando encontrou a religião lhe tomou seis meses, e que quase o tiveram que pôr em um asilo de loucos. Estava num estado de ânimo espantoso”. “Bem, bem”, respondi, “isso acontece algumas vezes. Mas sua angústia não o salvou. Isso era simplesmente sua consciência e Satanás que se uniram para mantê-lo longe de Jesus Cristo. Quando foi salvo, não foi por seus sentimentos profundos; foi por crer em Jesus Cristo”. Logo procedi a apresentar Cristo como única base de esperança em oposição aos sentimentos internos. “Já vejo”, disse ela; e me regozijei ao observar a luz brilhante que passou sobre seu rosto, um relâmpago de luz celestial que com frequência tenho visto no rosto dos que têm acreditado em Jesus Cristo, quando a paz inunda sua alma até a borda, e ilumina o semblante com uma transfiguração menor.

Assim é. Você tem apenas que confiar em Cristo e está feito: mas você tem medo. Nunca escutaram falar do homem que perdeu seu caminho em uma noite, e chegou à beira de um precipício (assim creu ele), caiu, e se agarrou numa velha árvore, pendurando-se nela, apegando-se ao seu frágil apoio como toda a sua força, pois sentia que se faria em pedaços se caísse? Aí esteve se agarrando até que caiu num estado de febril desespero, e suas mãos já não podiam sustentá-lo; por fim, caiu alguns centímetros, nada mais, em uma suave cama de musgos, na qual descansou, sem nenhuma ferida e completamente a salvo. Agora notem, muitos pensam que os espera uma destruição segura se confessarem o seu pecado e puserem tudo nas mãos de Deus. É um temor vão. Renunciem a todo sustento que não seja Cristo, e deixem-se cair. Será suave e musgoso o terreno que os vai receber. Jesus Cristo, por Seu amor e pela eficácia de Seu precioso sangue, dará a vocês de imediato descanso e paz. Deixem-se cair agora. Soltem-se imediatamente. Esta é a maior parte da fé: o renunciar a qualquer apoio para cair unicamente em Cristo. Essa queda lhes trará a salvação.

 

  1. Agora, em segundo lugar, o maior consolo que se pode conceber é o que é transmitido no texto. Este: “TEM CONFIANÇA. LEVANTE-SE, ELE TE CHAMA” uma boa palavra para o cego, porque ele sabia que Jesus não o estava chamando para zombar dele, e que Ele não disse “vem aqui” para simplesmente dizer-lhe: “seus olhos não podem ser abertos”. Jesus não o chamou para brincar com ele e logo despedi-lo desiludido. Os chamados de Cristo são chamados honestos e garantem bênção para aqueles que o aceitam.

Agora, queridos amigos, há dois chamados mencionados na Escritura. O primeiro é o chamado geral do Evangelho, e o outro é o chamado eficaz, o chamado pessoal, pelo qual os homens são salvos.

 

O chamado geral universal deveria trazer um grande consolo a qualquer alma que busque a Deus. Na palavra de Deus, você, querido ouvinte, é chamado para vir a Cristo, sim, você. Por que o sei? Porque quando Jesus deu a comissão aos seus discípulos, disse: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”. Você é uma criatura, correto? Bem, então você deve ser incluído no grupo. Devemos pregar o Evangelho para você. E então, outra vez: “Fiel é esta palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”. Você é pecador, não é verdade? Não o admite? Sim, muito bem, então de acordo com o texto, essa frase fiel deve se dirigir a você. E você, querido amigo que busca, sente um peso sobre sua alma, não é verdade? Está trabalhando duro para obter a salvação. Por conseguinte, a chamada do Evangelho deve se dirigir a você. “Vinde a mim, todos os que estão fatigados e cansados, e eu os farei descansar”. Certamente há outros muitos chamados assim, mas há outro que deve lhe incluir: “Aquele que quiser, tome a água da vida gratuitamente”. Quer vir? Então é sem dúvida chamado para vir a Cristo. Este fato não deveria consolá-lo? Porque, como já disse, não chama para rir de você, nem está o convidando a vir sem ter a intenção de abençoá-lo. Oh, escute seu chamado sincero, e se encha de valor e venha até Ele. Ninguém tem problemas em ir ali onde há um convite geral. Se alguém cruzou alguma vez o Monte São Bernardo, saberá que não se necessita que o pressionem muito para entrar no albergue e passar a noite ali. Quando saem e lhe dizem que todo mundo é bem-vindo, seja rico ou pobre, e que quase todos os viajantes passam a noite ali, você decide entrar. Outro dia fui ao Hospital da Santa Cruz, perto de Winchester, que alguns de vocês conhecem. Ali dão um pedaço de pão a todo aquele que bate à porta. Bati, sem nenhuma pena. Por que não haveria de fazê-lo? Se a todos dão um pedaço de pão, porque não haveria eu de receber o meu? E assim, naturalmente, abriu-se a janelinha, e recebi meu pedacinho de pão junto com meus amigos que me acompanhavam. É um presente que se dá a qualquer hora que os visita. Não tive que me humilhar nem fazer nada especial; era para todos, e eu cheguei e o recebi como qualquer pessoa disposta a tocar.

Agora pois, se se deve pregar o Evangelho a toda criatura, por que você anda dando voltas quando quer o pão da vida? Por que perde o seu tempo fazendo pergunta atrás de pergunta quando tudo o que tem que fazer é tomar o que Cristo lhe dá gratuitamente? Eu garanto que vocês não colocam toda essa problemática em assuntos financeiros. Se recebem uma herança de um bem, não contratam um advogado para que busque falhas no título de propriedade, ou invente objeções ao testamento. Por que, pois, os homens colocam dificuldades contra sua própria salvação, no lugar de aceitar alegremente o que a infinita misericórdia de Deus proporciona tão livremente para todos os que com corações quebrantados e mentes desejosas estão prontos para tomar o que Deus, sempre bondoso, tem por bem dar.

O convite é muito grande, e se deve fazer notar algo em relação a ele. Nunca ninguém foi rejeitado. Há uma instituição muito conhecida em Londres que ostenta na fachada de seu edifício: “Nenhum garoto pobre foi rejeitado”. Podemos muito bem pôr isto sobre a grande casa de misericórdia de Cristo: “Nenhuma alma necessitada foi rejeitada alguma vez”. Posso imaginar dois garotos parados em frente da instituição do Doutor Bernardo, e que um diz ao outro: “Nós podemos entrar aqui?” “Sim”, diz o outro, “penso que podemos. Acaso não somos pobres? Veja, minha roupa já não serve, não tenho um centavo no mundo, e sou órfão. Dormi debaixo de um arco esta noite. Sou um garoto muito pobre sem sombra de dúvidas”. Só posso supor que o outro poderia dizer com jactância, “Eu não sou indigente. Posso ganhar meu sustento em qualquer dia, e tenho dinheiro em meu bolso”. Agora, esse jovem não tem motivos para ser admitido, porque não é indigente. Mas, o outro garoto que tem fome, cuja sua roupa está em farrapos e está sem lar será bem-vindo com toda certeza. Quando você lê estas linhas, “nenhum garoto pobre foi rejeitado”, diz, “então há esperança para mim”. Agora, então, alma necessitada, Jesus Cristo nunca rejeitou alguém como você. Se você tem uma banca de méritos próprios, se você crê que pode ser salvo por suas boas obras, não pertence à categoria de “necessitado”. “Os sãos não têm necessidade de médico, mas os que estão enfermos”. Mas se você se despoja de toda vanglória, se é levado à falência quanto aos seus méritos pessoais, se caiu na pobreza absoluta quanto a alguma esperança em si próprio, então, como jamais nenhuma alma necessitada foi rejeitada, nem será, vem a Jesus de imediato! Vem de imediato, digo! “Tem confiança. Levante-se, Ele te chama”.

Mas, queridos amigos, disse que havia outro chamado eficaz. Esse chamado o Espírito Santo dirige a indivíduos, e quando vem, não é resistido, ou se é resistido por algum tempo, no fim se rendem, de maneira que o homem é obrigado a vir. Oh, Espírito Santo, faz este chamado esta noite.

Haviam dois irmãos pescando, e Jesus lhes disse, “Sigam-me”. Abandonaram suas redes e o seguiram. Mateus estava sentado ao banco dos tributos públicos, cobrando os impostos, com sua pena atrás da orelha e seus livros de contabilidade frente a ele. Jesus lhe disse, “Segue-me”. Mateus se levantou e o seguiu imediatamente. Esse homenzinho, o cobrador de impostos, havia subido numa árvore porque, sendo de pequena estatura, não podia ver por cima da cabeça da multidão. Quando via até embaixo entre as ramas frondosas, o Senhor se deteve ao pé da árvore e lhe disse: “Zaqueu, depressa, desça; porque hoje é necessário que eu fique em sua casa”. E Zaqueu desceu. Que outra coisa poderia fazer? O Espírito de Deus havia feito o chamado eficaz, Cristo estava na casa desse homem pouco tempo depois, e o homem deu abundante evidência de uma mudança em seu coração. Oh, queira o Espírito eterno falar dessa maneira a alguns aqui presentes, para que se rendam de imediato e sigam Jesus Cristo.

Esse chamado, de onde quer que venha, derrama uma doce suavidade sobre a alma. O homem não o pode compreender, mas se sente muito diferente de como se sentia antes. A dureza de ferro de seu pescoço se foi. A pedra fria dentro de seu peito derreteu em carne. Agora, escute o Evangelho que uma desprezou. Ao escutar, pense, e é uma grande coisa conseguir que um homem pense sobre si mesmo, sobre seu Deus, a eternidade, o céu, o inferno, o Redentor. Conforme pensa, veja sua vida sob uma luz diferente. Perceba que houve pecado nela, muito mais pecado do que pensou que poderia haver; e conforme enxergue seu pecado, lamente-se por sua causa. Quase desejaria não ter nascido nunca para não ter transgredido como fez. Seu coração se suaviza sob a influência da lei de Deus. Deixe de lado sua orgulhosa arrogância e confesse que está cheio de transgressão e pecado. Junto com essas reflexões e com o arrependimento, vem uma pequena esperança: perceba que há uma salvação que vale à pena ter, e se pergunte por que não poderia tê-la. Logo vem a fé: perceba que Jesus é o Filho de Deus, e diga a si mesmo, “Se é divino pode salvar até mesmo a mim”. Confie, e ao confiar, a escuridão que o envolvia começa a desaparecer. Obtenha uma pequena luz, e logo um pouco mais de luz, e por último exclame, “Certamente, creio que Jesus morreu por mim. Ponho minha alma em suas mãos trespassadas. Sou perdoado, sou salvo”. Esse homem foi chamado pelo bendito Espírito.

É muito estranho, também, como Deus chama a alguns homens. Soube que ocorre muitas vezes neste Tabernáculo. Estive pregando e fiz uma observação que se ajustou ao caso de alguém tão bem como se eu tivesse sido o companheiro desse homem e o conhecesse muito bem. Como foi isso? Direi a vocês. Deus estava trabalhando nesse homem, e levou Seu servo para trabalhar até o mesmo ponto. O Senhor esteve trabalhando pela Sua providência fazendo um túnel do lado da montanha da indiferença desse homem, e logo me pôs a trabalhar do outro lado guiando-me em meus pensamentos de maneira que pude pregar o Evangelho de uma maneira adequada.

Da mesma maneira como quando fizeram o túnel de Monte Cenis, um grupo de engenheiros perfurava de um lado e outro grupo do outro lado, logo se encontraram no coração do grande monte. Uma mãe piedosa esteve perfurando a montanha por meio de suas súplicas, ou um dedicado professor cristão, ou uma esposa ou irmã estiveram fazendo este mesmo trabalho. Ou talvez a enfermidade, como a barra de diamante que perfura, esteve atravessando este homem, e por último neste lugar a Palavra do Senhor foi dando golpes certeiros, de maneira que o túnel através da alma foi terminado e o resultado foi a salvação eterna.

Talvez algumas palavras ditas esta noite não tenham sido palavras ao acaso para alguns de vocês aqui presentes, mas as próprias palavras de Deus enviadas diretamente para a alma de vocês. Que Deus nos conceda que assim seja e Ele terá o louvor. Oh, eterno Espírito, que assim seja.

 

III. Agora, para não cansá-los, vou terminar com o terceiro ponto, que é: O CONSOLO QUE VEM COMO RESULTADO DE NOSSO CHAMADO DEVE CONDUZIR A UMA AÇÃO IMEDIATA. “Tem confiança. Levante-se, Ele te chama”.

Essa exortação a levantar-se significa uma decisão instantânea. Vocês têm estado hesitantes, duvidando, pendurados como os pratos de uma balança, tremendo entre o céu e o inferno. Qual dos dois será? Que o Espírito Santo os chame de modo que seja Cristo, a salvação, a vida eterna. Não lamento quando alguém se enfurece ao escutar um sermão. O pior que pode me passar esta noite é que todos vocês estejam satisfeitos. Mas quando algumas pessoas se iram muito, então se põem a pensar, e ao pensar, sentem, e ao sentir, podem voltar-se até Deus. Apesar de seu asco voltarão outra vez. O anzol está nas mandíbulas desse homem. Teremos este peixe. Deixemos que puxe a linha mais e mais, de todos modos o sujeitará. Deixemos que ele jogue. O teremos logo de volta outra vez. Tenhamos pronta a rede para trazê-lo à Terra! Não há nada melhor para alguns homens que excitar seu antagonismo contra o Evangelho por um tempo. A verdade lhes chegou ao coração. Está trabalhando neles, e confiamos que logo o bendito trabalho será completado e a alma será salva. Esse é nosso objetivo.

Levante-se”, diz o texto. Quer dizer, não permita que permaneça como uma pergunta, “será?” ou “não será?”, mas decida-se esta noite: “Sim será. Pela graça de Deus serei um cristão. Pela graça de Deus se posso ter salvação, a terei”. Não lhes peço que cheguem a essa decisão pelo simples fato de tomar uma decisão, que adotem cordialmente e logo esqueçam, mas peço a graça de Deus para que os levem a dizer com todo seu coração: “assim será”. Ai, muitos de vocês vêm e vão: escutam e escutam, sem proveito; porque tudo termina em ouvir e nunca se converte em uma decisão.

Muitos de nós ouvintes regulares ainda permanecem não convertidos, ainda que alguns ouvintes ocasionais tenham sido salvos. Quando espremem uma borracha, podem deformá-la, mas se a soltam, voltará à sua forma anterior. Há multidões de ouvintes deste tipo: muito impressionáveis, mas rapidamente voltam a seus velhos gostos e hábitos. Mas encontramos outras pessoas que parecem ser tão duras como uma pederneira. Tenho observado alguns que estão sentados no corredor, mordendo-se os lábios, que nunca tiveram a intenção de crer no Evangelho, e que sem dúvida com um golpe do martelo do Senhor, seus corações têm sido sacudidos imediatamente. A armadura de sua resistência e a malha do desafio se romperam por completo, e resultaram ser, depois, os mais sinceros e fervorosos dos cristãos convertidos. É uma desafortunada condição de ser impressionável, essa que termina em indecisão. Aqueles que mostram esse caráter elástico, pretendem ser retos, mas se arrumam para permanecer na maldade. Tentam ir ao céu, mas, ai, ai, pouca esperança há que alcancem a cidade dos benditos. As probabilidades contra estão nisso: passaram tantos anos dando desculpas e adiando que sua indecisão se tornou crônica, e lhes ata aos seus pecados.

Depois das muitas estações nas quais as belas folhas têm defraudado a esperança de doces frutos, nosso desalento é, assim o tememos, o arauto de seu desespero. Parece haver uma pouca probabilidade que alguma vez se decidam por Deus e por seu Cristo que, de maneira difícil, esperamos com muito temor. Queira Deus que não seja assim.

Oh, queridos amigos! Rogo-lhes que escutem o texto: “Tenham confiança. Ele os chama. Levantem-se”. Levantem-se a algo mais que uma decisão, levantem-se a uma resolução. Todos vocês têm ouvido da pobre mulher que não havia conseguido fazer que o juiz lhe fizesse justiça. Pediu muitas vezes, mas ele não queria escutá-la. Por último ela se decidiu a pressioná-lo para que ele prestasse atenção nela; assim, se apresentou na corte o primeiro dia, tão logo chegou o juiz, levantou-se e disse, “Senhor…” “Não te disse que não me perturbe?” “Mas senhor”, exclamou outra vez, “peço-lhe que se sente”. Ela se senta, mas antes que se inicie a sessão, diz, “não posso ter uma audiência?” “Não posso lhe atender agora, boa mulher”. Mas quando o juiz sai da corte para ir a sua casa, ali está ela de pé junto à janela da carruagem, dizendo-lhe, “Quando vai ouvir o meu caso? Meus pobres meninos estão morrendo de fome”. Vai à casa do juiz e toca em horas inoportunas”. “Quem é?” pergunta o juiz; e lhe dizem, “é essa pobre mulher que quer que atenda seu caso”. Ordena-lhe que a tirem de sua porta. Ela se vai para casa, triste mas firme, e na manhã seguinte está na corte outra vez. O injusto juiz havia ordenado a seus porteiros que não a deixassem entrar, mas ela de alguma maneira conseguiu entrar, e a primeira coisa que se escuta é a voz aguda: “Senhor, vai me escutar?” Até que por fim ele se cansa, e diz, “Ainda que não tema a Deus, nem me importe o homem, sem dúvida, como me perturba essa mulher, far-lhe-ei justiça”. E faz justiça a ela.

Ainda que o Deus justo não seja parecido com um juiz injusto, o importuno da viúva que prevaleceu sobre as garras desse ambiente tão pouco promissor, pode impulsioná-lo a orar incessantemente. Importune o grande Deus como Cristo aconselha e recomenda com essa história tão descritiva. Reflita assim: “Não posso perecer. Devo perecer se não tenho a salvação; e por conseguinte, a terei. Morrerei ao pé da cruz se assim tem que ser, mas a terei”.

Faz alguns anos tive que dar uma conferência no ajuntamento de Glasgow. Cheguei na hora marcada para cumprir com meu compromisso, e o prefeito de Glasgow me acompanhava, mas aconteceu que a polícia da entrada nos disse que não podia permitir a nossa entrada porque não tínhamos os bilhetes, e ele havia recebido ordens de não admitir ninguém sem bilhete. Estávamos metidos em um problema. Então o senhor prefeito disse: “Mas é que você tem que nos deixar entrar”. Respondeu o policial que não podia, que não importava quem fôssemos. Respondi, “Ele é o senhor prefeito”, mas o policial nos disse que ele não sabia isso, nem importava quem era: ele não podia deixar-nos passar contra as instruções que lhe deram. Ele havia recebido essas ordens do inspetor, de não deixar ninguém entrar, e que estava seguro que nenhum senhor prefeito faria com que ele desobedecesse a essas ordens. Então o senhor prefeito disse, “Mas ele é o sr. Spurgeon. Tem que dar sua conferência.” “Sinto muito. Tenho ordens, e não entrará sem o bilhete”.

O que acham que fizemos? Acaso aceitamos “não” como resposta? De nenhuma maneira. Estávamos determinados a entrar. Assim, falamos, negociamos e raciocinamos, mas nada, como bom policial, cumpria com seu dever, e não aceitava mandatos de nós que fossem contrários às ordens dadas. Aí nos detivemos. Por último foi o suficientemente condescendente para deixar-nos enviar nossas credenciais ao seu inspetor, e de imediato fomos admitidos. Agora, se tivéssemos aceitado o “Não” como resposta, e tivéssemos ido, no dia de hoje, teria a fama de reunir as pessoas e logo falhar com elas. Não: eu sabia que tinha a autorização de entrar, estava decidido a entrar e entrei. Vocês devem fazer o mesmo. Ainda que o pecado lhe proíba, e a lei o denuncie, e o oficial da justiça o rejeite e diga, “Não podes entrar, nenhum pecador passa por este caminho”, e insista que é uma criatura e um pecador, que o Evangelho se envia a todas as criaturas, especialmente convida os pecadores e que, por conseguinte, está determinado a ir à festa da graça, sem importar quem se oponha. Permaneça firme em sua decisão de entrar, e tão certo como Deus é verdadeiro, se há esta resolução e perseverança em você, você entrará no banquete do amor, herdará a vida eterna e a gozará para sempre.

Mas, queridos amigos, se chegam a essa decisão e a essa determinação, há uma coisa mais, e é esta: joguem longe tudo o que lhes atrapalha para encontrar a salvação. O pobre cego jogou fora seu manto. Agora, se querem ser salvos devem decidir em suas almas, pela bênção do Espírito Santo, renunciar de imediato a cada pecado e cada hábito que lhes impede de encontrar a Cristo. Não há prazer que valha a pena conservar se é ao preço de suas almas. Não há pecado que valha a pena conservar por nenhum motivo; deixem ir todos os seus velhos prazeres e hábitos; deixem que todos se vão, e entreguem-se a Jesus Cristo. Como desejaria que muitos, esta noite, pudessem decidir-se a dizer, “Há salvação em mim por crer. Creio que a palavra de Deus é verdadeira, e tomo a Cristo por meu”. Entreguem-se completamente a Cristo. Não pela metade, sem titubeios nem pausa.

Vocês sabem o que Cortés fez quando chegou ao México, e se dispunha a conquistá-lo. Os soldados que estavam com ele eram poucos e estavam desmoralizados. Eram muitos os mexicanos, e a empreitada perigosa. Os soldados quiseram voltar à Espanha, mas Cortés chamou dois ou três heróis escolhidos, e com eles foi à beira do mar e destruiu todos seus barcos; e, “agora”, disse, “devemos conquistar ou morrer. Não podemos voltar”. Queimem seus navios; se desfaçam de seus pensamentos de voltar; abandonem e odeiem o pecado. Deus os ajuda a fazê-lo, porque este é seu Evangelho: “Portanto, arrependei-vos e convertei-vos”. Deem as costas ao pecado e creiam em Jesus Cristo, e queimem os navios, e que esta seja sua resolução: já não haverá mais regresso ao pecado.

Assim lhes disse o que deve ser feito, mas só Deus pode fazer com que vocês o realizem. Podemos conduzir um cavalo à fonte, mas não podemos fazer com que beba; podemos colocar o plano da salvação ante os homens, porém não podemos os induzir a aceitá-lo, exceto que, somente em resposta à oração, o Espírito eterno mova as almas dos homens. Move-se sobre você agora. Estamos conscientes que se está incubando em vocês nesta hora. Não resistam. Entreguem-se completamente a suas advertências. Assim como os juncos no riacho inclinam suas cabeças à brisa que passa, assim inclinem-se ante os movimentos do Espírito eternamente bendito. Que Ele os ajude a fazê-los Cristo. Amém.

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.

 

 

FONTE:

Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon1389.html

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público

Sermão nº1389—Volume 23 do The Metropolitan Tabernacle Pulpit,

 

Tradução: Rachel Gondim

Revisão: Cibele Cardozo

Capa: Wellington Marçal

 

Projeto Castelo Forte

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[1] Spurgeon esteve em Roma em 1860 (Nota do Revisor)