O Cristo do Povo – sermão Spurgeon

Nº 11

Pregado na manhã de domingo, 25 de fevereiro de 1855

Por Charles Haddon Spurgeon

Em Exeter Hall, Londres

 

“Exaltei a um eleito do meu povo.”

Salmo 89:19

 

Não cabe dúvida alguma que, originalmente, estas palavras se referiam a Davi. Ele foi um escolhido de seu povo. Sua linhagem era respeitável, mas não ilustre. Sua família era santa, mas não exaltada: os nomes de Isaí, Obede, Boaz e Rute não evocavam lembranças de realeza, nem motivavam pensamentos de uma antiga nobreza ou de uma gloriosa genealogia. Quanto ao próprio Davi, sua única ocupação havia sido a de um jovem pastor, carregando os cordeiros em seu colo, conduzindo mansamente as ovelhas com suas crias; um jovem simples que possuía uma alma real, reta, de valor firme, mas ainda assim plebeu – alguém do povo.

Entretanto, isto não o desqualificava para a coroa de Judá. Aos olhos de Deus, a procedência deste jovem herói não era nenhuma barreira para elevá-lo ao trono da nação santa, como tampouco o mais orgulhoso admirador de castas e linhagens se atreveria a insinuar sequer uma palavra contra o valor, sabedoria e justiça do governo deste monarca do povo.

Não cremos que Israel ou Judá tenham tido jamais um governante melhor que Davi, e nos atrevemos a afirmar que o reino de “um escolhido do meu povo” eclipsou em glória os reinos de imperadores de estirpe e de príncipes, em cujas veias corriam o sangue de vários reis. Sim, ainda mais, afirmamos que a humildade de seu nascimento e de sua educação, longe de fazê-lo incompetente para governar, deram-lhe, em boa medida, melhor preparação para o seu trabalho, e maior capacidade para desempenhar seus tremendos deveres. Ele pôde legislar para os muitos, porque era um deles – ele pôde governar o povo como o povo deveria ser governado porque era “osso de seus ossos e carne de sua carne”; seu amigo e seu irmão, assim como seu rei.

Porém, neste sermão não vamos falar de Davi, mas do Senhor Jesus Cristo, pois Davi, como se refere o texto, é um eminente tipo de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, que foi escolhido dentre seu povo. Jesus é Ele, de quem Seu Pai pode dizer: “Exaltei a um eleito de meu povo.”

Antes de entrar na ilustração desta verdade, quero fazer uma declaração, para evitar todas as objeções relacionadas à doutrina do meu sermão. Nosso Senhor Jesus Cristo, digo eu, foi escolhido de seu povo, mas só no referente a sua natureza humana.

Como “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”, Ele não foi escolhido de seu povo, pois não havia ninguém, exceto Ele. Ele era o Unigênito do Pai, “gerado do Pai antes da Criação do mundo.” Ele era eterno e igual a Deus,; consequentemente, quando falamos de Jesus Cristo como escolhido de seu povo, devemos falar d’Ele como homem. Esquecemos com muita frequência, penso eu, a verdadeira humanidade de nosso Redentor, mas Ele era um homem em todos os sentidos e para todos os efeitos, e me alegro em cantar:

 

 

“Houve um homem, um homem de verdade

Que um dia morreu no Calvário”

 

Jesus não era homem e Deus em uma mistura; suas duas naturezas não sofreram confusão. Ele era Deus verdadeiro, sem nenhuma diminuição de Sua essência nem de Seus atributos; e Ele era igualmente, verdadeiramente e certamente um homem. É como homem que falo de Jesus essa manhã. Meu coração se alegra quando posso apreciar o lado humano deste glorioso milagre da encarnação e tratar Jesus como meu irmão: habitando na mesma mortalidade, lutando contra as mesmas enfermidades e dores, companheiro no caminho da vida e, por uns instantes, companheiro dormente na fria câmara da morte.

O texto menciona três coisas: A primeira: sua extração; Cristo era um do povo. A segunda: sua eleição: Ele foi escolhido de dentre seu povo. A terceira: A exaltação de Cristo: Ele foi exaltado. Podem ver que escolhi três palavras que começam com a letra ‘E’, para facilitar que as recordem melhor: Extração, Eleição e Exaltação.

 

  1. Vamos começar com a EXTRAÇÃO do nosso Salvador. Tivemos muitas queixas esta semana e durante os últimos meses, nos jornais, com respeito às famílias. Somos governados, de acordo com a firme crença da maioria de nós, muito mal governados, por certas famílias aristocráticas. Não o somos por homens escolhidos do povo, como deveria ser. E esse é um erro fundamental no nosso governo, que nossos governantes, ainda sendo eleitos por nós, dificilmente poderiam algum dia ser eleitos dentre nós.

Há famílias que certamente não possuem o monopólio da inteligência ou da prudência, mas que parecem ter a patente para ser promovidas. Enquanto que, por outro lado, um homem, um qualquer, um comerciante, com algo de senso comum, não pode chegar ao governo. Não sou político, nem me predisponho a pregar um sermão político. Mas devo expressar minha simpatia com o povo e minha alegria de que nós, como cristãos, somos governados por um “eleito do povo”. Jesus Cristo é o Homem do povo, Ele é o amigo do povo; sim, um dentre ele. Ainda que Ele esteja assentado no alto do trono de Seu Pai, Ele foi um “Eleito do povo.” Cristo não deve ser chamado o Cristo dos aristocratas. Ele não é o Cristo dos nobres. Ele não é o Cristo dos reis. Ele é um “Eleito do meu povo”. Este é o pensamento que anima os corações das pessoas e deveria atar as suas almas em unidade com Cristo e a santa religião da qual ele é o Autor e Consumador. Vamos martelar sobre essa pepita de ouro para convertê-la em uma lâmina, e vamos inspecionar muito de perto a sua verdade.

Cristo, por seu próprio nascimento, foi um eleito do povo. Certamente, nasceu de estirpe real, Maria e José eram ambos de linhagem real, ainda que sua época de glória houvesse passado. Um estranho se sentava no trono de Judá[1], enquanto o legítimo herdeiro trabalhava com um martelo e uma tábua. Observem bem o local de seu nascimento. Nascido em um estábulo, teve por berço uma manjedoura onde bois de grandes chifres comiam. Sua única cama era a forragem; e seus sonhos eram interrompidos amiúde pelo apetite das bestas. Jesus era um príncipe de nascimento; porém de que lhe servira? Não estava vestido de mantos de púrpura, nem envolto de roupagens bordadas.

Seus pés não pisaram os salões dos reis. Suas risadas infantis não honraram os palácios feitos de mármore dos monarcas. Observem os visitantes que estavam ao redor do berço. Uns pastores foram os primeiros a vir. Damo-nos conta que eles nunca perderam o rumo. Não, Deus guia os pastores, e Ele também guiou aos magos, mas estes, sim, se extraviaram. Comum ocorrer que, enquanto os pastores encontram a Cristo, os sábios não o encontram. Mas de qualquer forma, ambos grupos chegaram, os pastores e os magos; ambos se ajoelharam ao redor da manjedoura, para nos mostrar que Cristo era o Cristo de todos os homens; que não era somente o Cristo dos magos, mas também era o Cristo dos pastores.

Eles nos mostraram que Ele não era somente o Salvador dos pastores camponeses, mas também o Salvador dos homens instruídos, pois:

 

“Ninguém é excluído, senão aqueles

que se excluem a si mesmos;

Bem-vindos os entendidos e educados;

os ignorantes e os ordinários”

 

Mesmo em seu nascimento Ele foi um do povo. Não nasceu em uma cidade populosa: senão no obscuro povoado de Belém, “A casa do pão”. O Filho do Homem fez seu advento sem o acompanhamento de pomposos preparativos, e não foi anunciado pelas notas das trombetas de alguma corte.

Sua educação também demanda nossa atenção. Ele não foi tomado do seio de sua mãe, como Moisés, para ser educado nos salões de um monarca. Ele não foi criado com esses ares de grandeza que adotam as pessoas que tem colheres de ouro em suas bocas desde o momento de nascer. Ele não foi educado como um jovem rico, para olhar a todos com desdém; porém, sendo seu pai um carpinteiro, sem dúvida trabalhou muito duro na carpintaria do pai. “Um lugar muito adequado,” diz um autor muito antigo,” para Jesus. Porque Jesus tinha que construir uma escada que alcançasse desde a terra até o céu. Por que, pois, não haveria de ser filho de um carpinteiro?”

Ele conhecia perfeitamente bem a maldição de Adão: “Com o suor de teu rosto comerás o pão”. Se vocês houvessem visto ao santo menino Jesus, não haveriam notado nada mais que o distinguisse das outras crianças, exceto a pureza sem mancha que havia em seu semblante. Quando nosso Salvador começou sua vida pública, continuava sendo Ele mesmo. Qual era seu status social? Vestia-se de púrpura ou de escarlate? Oh, não! Ele usava a veste modesta de um camponês: “a túnica não tinha costura, era tecida inteira de cima abaixo”, uma simples peça de roupa, sem adornos ou bordados. Viveu no luxo, fazendo um grandioso espetáculo em sua viagem através da Judeia? Não, Ele trabalhou durante seu fatigoso caminho e se sentou na borda do poço de Sicar.

Ele era como outros, um homem pobre. Não tinha cortesãos ao seu redor. Seus companheiros eram pescadores. E quando Ele falava, o fazia com palavras suaves que fluíam como azeite? Caminhava Ele com passos elegantes, como o rei Amaleque? Não. Comumente Ele falava como o severo Elias. O que quis dizer, o disse, e quis dizer o que disse. Falava às pessoas como um homem do povo. Nunca se inclinou frente aos grandes homens. Não soube o que era inclinar-se ou ceder. Deteve-se e chorou: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Ai de vós, sepulcros caiados”.  Não passou por alto a nenhum tipo de pecadores: nem classe, nem fortuna tinham diferença para Ele. Expressou as mesmas verdades tanto aos ricos do Sinédrio, como aos trabalhadores camponeses da Galileia. Ele era “um eleito do meu povo”.

Atentem-se em sua doutrina. Jesus Cristo era um do povo em sua doutrina. Seu Evangelho nunca foi o Evangelho de um filósofo, já que o Evangelho não é difícil de ser compreendido. Nunca consentiu em ficar emaranhando no meio de palavras difíceis e frases técnicas: Ele é tão simples que quem souber soletrar: “Todo o que crer e for batizado”, pode ter o conhecimento do Evangelho que salva. Por isso os sábios do mundo desprezam o conhecimento da Verdade e, zombeteiramente dizem: “até um ferreiro pode pregar hoje em dia, e homens que andavam detrás do arado podem converter-se em pregadores”; e a classe sacerdotal reclama: “Que direito têm eles para fazer tal coisa sem a nossa autorização?”.

Oh, que triste que a verdade do Evangelho seja menosprezada por sua simplicidade, e que meu Senhor seja desprezado porque Ele não é exclusivo, nem será monopolizado por homens de talento e erudição. Jesus é da mesma forma o Cristo do homem indouto, como é o Cristo dos homens instruídos. Pois ele escolheu “o vil e desprezado deste mundo”. Ah, por muito que eu ame a ciência verdadeira e a sólida educação, lamento e sinto muito que nossos ministros estejam diluindo em tal grau a Palavra de Deus com sua filosofia, desejando ser pregadores intelectuais, procurando sermões que sirvam de modelo. Seus sermões são adequados para um salão cheio de estudantes universitários e professores de teologia, mas sem nenhuma utilidade para as massas, porque não tem simplicidade, calor, sinceridade, nem uma sólida substância evangélica.

Temo que a nossa educação universitária de pouco seja proveitosa à nossas igrejas, posto que com frequência serve para apartar a simpatia dos jovens pelas pessoas e os une aos poucos intelectuais e ricos da igreja. É bom ser um cidadão da república das letras, porém é muito melhor ser um ministro eficaz do Reino dos Céus. É bom ter a habilidade de algumas mentes grandiosas para atrair aos poderosos. Mas o homem mais útil continuará sendo aquele que, como Whitefield, usa “a linguagem da rua”. É uma triste realidade que as altas posições e o Evangelho raras vezes estejam de acordo.

E vocês devem saber que a doutrina de Cristo é a doutrina do povo. Sua doutrina não tinha o propósito de ser o Evangelho de uma casta, de algum grupo privilegiado ou de uma classe determinada dentro da comunidade. O pacto da Graça não é ordenado para homens de um nível especial, mas estão incluídos nele alguns de cada uma das classes. Houve uns quantos ricos que seguiram a Jesus Cristo em seus dias, e isso sucede na atualidade. Maria, Marta e Lázaro eram ricos, e também a esposa do mordomo de Herodes, com alguns outros da nobreza. Estes, entretanto, não eram mais que uns quantos: sua congregação estava formada pelas classes mais baixas, as massas, o povo. “A grande multidão o ouvia com gosto”. E sua doutrina não dava lugar a distinções, senão que colocava a todos os homens como pecadores por natureza, em uma igualdade perante os olhos de Deus.

Um só é seu Pai, “um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos”. Estas foram as palavras que Ele ensinou aos seus discípulos, enquanto vivia na terra. Ele era o espelho da humildade, e demonstrou ser o amigo dos filhos dos pobres da terra e o amante da humanidade. Oh, vocês orgulhosos, que têm seus bolsos cheios! Oh, vocês, que não podem tocar aos pobres nem sequer com a ponta de suas luvas brancas! Ah, vocês, com mitras e báculos! Ah, vocês, com suas catedrais e ornamentos esplêndidos! Este é o homem ao que vocês chamam Senhor, o Cristo do povo, um do povo! E ainda assim, vocês olham de cima com desprezo às pessoas. Vocês as desprezam. Quem são eles não opinião de vocês? O rebanho comum, a multidão.

Vamos! Não mais de denominem a vocês mesmos os ministros de Cristo! Como podem sê-lo a menos que, descendo de sua pompa e dignidade, venham ao meio dos pobres para visitá-los? A menos que caminhem em meio a nossa crescente população e lhes pregue o Evangelho de Jesus Cristo? Acaso cremos que vocês são os descendentes dos pescadores? Ah, não até que se despojem de sua grandeza e, como os pescadores, saiam como o povo, e preguem ao povo, falem às pessoas, ao invés de ficar em seus esplêndidos assentos, fazendo-se ricos às custas de seus privilégios!

Os ministros de Cristo deveriam ser os amigos da humanidade em geral, recordando que seu Senhor foi o Cristo do povo. Regozijem-se! Oh, regozijem-se! Vocês de todas as multidões! Animem-se! Tenham gozo porque Cristo era Um do povo.

  1. Nosso segundo ponto era a ELEIÇÃO. Deus diz: “Exaltei a um escolhido de meu povo”. Jesus Cristo foi eleito; escolhido. De um modo ou outro, essa feia doutrina da eleição reluzirá. Oh, há aqueles que ao ouvir essa palavra: “Eleição”, levarão suas mãos à testa murmurando: “Esperarei a frase terminar. Quem sabe tenha algo que eu goste mais adiante”. Outros dirão: “Não voltarei a este lugar. Esse homem é um hiper-calvinista”. Porém este homem não é um hiper-calvinista; este homem disse o que estava escrito em sua Bíblia e nada mais. É um cristão, e não têm os senhores o direito de chama-lo por nenhum desses apelidos, se é que é um apelido, pois não nos envergonhamos nunca e não nos importa que nos chamem desse apelido. Aqui está: “Um eleito de meu povo”. Mas o que significa isso, senão que Jesus Cristo é eleito? Aqueles que não gostam de crer que os herdeiros do Céu foram eleitos não podem negar a verdade proclamada neste versículo: que Jesus Cristo é eleito, que seu Pai o elegeu e o escolheu dentre seu povo. Como homem, foi eleito de seu povo, para ser o Salvador do povo e o Cristo do povo. E agora juntemos nossos pensamentos e tratemos de descobrir a sabedoria transcendental da eleição de Deus.

A eleição não é uma coisa cega. Deus elege soberanamente, mas Ele sempre escolhe inteligentemente. Sempre há uma razão secreta para a sua eleição de um indivíduo em particular; ainda que esse motivo não se origina em nós ou em nossos próprios méritos, mas sempre há uma causa secreta muito mais remota que as obras da criatura. É alguma poderosa razão desconhecida para todos, exceto para Ele. No caso de Jesus, os motivos são evidentes. E sem pretender entrar na sala de conselho de Jeová, podemos descobri-los.

  1. Primeiro, vemos que a justiça é totalmente satisfeita, pela eleição de Um do povo. Suponhamos que Deus houvesse elegido um anjo para satisfação de nossos pecados; imaginem que um anjo fosse capaz de aguentar todo o sofrimento e a agonia que eram requeridos para nossa expiação. Ainda assim, depois que o anjo houvesse feito tudo isso, a justiça nunca seria satisfeita pela simples razão que a lei diz: “A alma que pecar, esta morrerá”. Agora, o homem é o que peca, por conseguinte é o homem que deve morrer. A justiça requeria que assim como por um homem entrou a morte ao mundo, da mesma forma por um homem deveria vir a ressurreição e a vida.

A lei exigia que, como o homem era o pecador, o homem deveria ser a vítima; do mesmo modo que em Adão todos morremos, da mesma forma em outro Adão deveríamos ser ressuscitados. Consequentemente, foi necessário que Jesus Cristo fosse eleito do povo. Pois se aquele anjo resplandecente junto ao Trono, o notável Gabriel, deixando de lado seus esplendores, houvesse descido a nossa terra e suportado a dor, e sofrido a agonia, houvesse transpassado o umbral da morte, abandonado uma existência miserável perdida em extrema dor, depois de tudo isso, não teria satisfeito a justiça inflexível, porque está dito: um homem deve morrer, de outra maneira, a sentença não foi executada.

  1. Porém, há outra razão pela que Jesus Cristo foi eleito de seu povo. É que toda a raça recebe honra. Sabiam que eu não gostaria de ser um anjo ainda se o próprio Gabriel me pedisse? Se ele me suplicasse que eu trocasse de lugar com ele, não o faria. Eu perderia muito com essa transação, e ele ganharia muito. Ainda que eu seja pobre, fraco e indigno, ainda assim sou um homem, e há dignidade relativa à humanidade; uma dignidade que se perdeu no Jardim no dia da Queda, mas que foi recuperada no jardim da Ressurreição. É fato que um homem é superior a um anjo, pois no céu a humanidade está mais perto do Trono que os anjos.

Vocês podem ler no livro da Apocalipse que os 24 anciãos estavam ao redor do trono, e no círculo exterior estavam os anjos. Os anciãos, que são representativos de toda a Igreja, foram honrados com uma maior proximidade a Deus que os espíritos ministrantes. O homem – o homem eleito – é o maior ser do universo, além de Deus. O homem está sentado lá encima. Olhem, à destra de Deus, radiante de glória, ali está sentado um HOMEM! Perguntem-me quem governa a providência e dirige seu tremendamente misterioso maquinário, eu lhes digo, é um Homem, o Homem Jesus Cristo.

Perguntem-me quem atou os rios em correntes de gelo durante os últimos meses, liberando-os logo dos grilhões do inverno. Eu lhes digo que um Homem o fez: Cristo. Perguntem-me quem virá julgar a terra em justiça, e eu lhes digo que um Homem. Um Homem real e verdadeiro susterá a balança do juízo e chamará todas as nações ao seu redor. E quem é o canal da Graça? Quem é o empório de toda a misericórdia do Pai? Quem é que recolhe todo o amor do Pacto? Eu respondo que um Homem, o Homem Jesus Cristo. E Cristo sendo um homem, exaltou a você e exaltou a mim e nos colocou em lugares mais elevados.

Ele nos fez, no princípio, um pouco menor que os anjos e agora, apesar de nossa queda em Adão, nos coroou, a seus eleitos, com glória e honra. E nos fez sentar em lugares celestiais em Cristo Jesus, para mostrar nas eras vindouras as superabundantes riquezas de sua Graça, por sua bondade para conosco em Cristo Jesus.

  1. Mas, irmãos, contemplemos com um olhar mais doce do que esse. Por que Ele foi eleito de seu povo? Fala, coração meu! Qual é a primeira razão que te vem à cabeça? Pois os pensamentos do coração são os melhores pensamentos. Os pensamentos da cabeça são, amiúde, menos que nada, porém os pensamentos do coração, os profundos recônditos da alma, estes não têm preço, são como perolas de Ormuz. Os poemas de um humilde poeta, sempre que surjam de seu coração, agradarão mais as cordas da minha alma que as manifestações sem vida do próprio cérebro.

Vejamos, cristão: que creem que seja a doce razão para a eleição do Senhor de vocês, sendo ele o único de seu povo? Acaso não é esta: que Ele possa ser meu Irmão, na bendita união de seu mesmo sangue? Oh, que relação há entre Cristo e o crente! O crente pode dizer:

“Há um sobre todos os demais

Que bem merece o nome de Amigo;

Seu amor é fiel, mais que o deu um irmão

Seu amor é livre e não tem nenhum limite. ”

 

Tenho um grandioso Irmão no céu. Tenho ouvido algumas vezes os rapazes dizerem na rua, quando são perturbados, que vão contar a seus irmãos, e eu tenho dito amiúde quando o inimigo me tem atacado: “vou contar ao meu Irmão que está no Céu”.

Posso ser pobre, mas tenho um Irmão que é rico. Tenho um Irmão que é um rei. Sou irmão do Príncipe dos reis da terra. Ele me deixará morrer de fome, ou padecer necessidade ou carência enquanto Ele está em Seu trono? Oh, não. Ele me ama. Ele tem seus sentimentos fraternais até mim. Ele é meu irmão. Porém mais que isso: pensa, ó crente! Cristo não é só teu irmão, senão que Ele é teu Esposo. “Teu Criador é teu Marido, O Senhor dos exércitos é o seu nome”. A mulher se regozija ao recostar-se no largo peito de seu marido, tendo a plena segurança de que seus braços são suficientemente fortes para trabalhar por ela ou para defendê-la.

Ela sabe que o coração de seu esposo sempre palpita de amor por ela, e que tudo o que ele tem, e o que ele é, pertence a ela, como quem compartilha sua existência. Oh, saber pelo Espírito Santo, que se há feito uma doce aliança entre minha alma e o sempre precioso Jesus! Isso é o suficiente para que toda a minha alma dance ao som da música e que cada átomo de meu corpo seja um cantor agradecido do louvor de Cristo. Vamos, deixem-me lembrar de quando estava atirado ali no campo, como um menino banhado em sangue; deixem-me recordar aquele momento em que Ele me disse: “Viva!”, e não permitam que me esqueça que Ele me educou e que um dia me desposará com Ele em justiça, coroando-me com uma coroa nupcial no palácio de seu Pai.

Oh, que felicidade indizível! Não me surpreende que este pensamento faça vacilar minhas palavras ao pronunciá-lo! Que Cristo é um do povo, que ele possa relacionar-se estreitamente contigo e comigo, que Ele possa ser nosso parente mais próximo –

 “Com laços de sangue, com os pecadores,

Um, Nosso Jesus, foi para a Glória;

A todos seus inimigos atirou na ruína;

Ao pecado, a Satã, a terra,

ao inferno, ao mundo”

 

Você, que é santo, coloque este bendito pensamento como um colar de diamantes ao redor do pescoço de sua memória. Ponha-o como anel no dedo da recordação, use-o como próprio selo do Rei, selando as petições de sua fé com a confiança do êxito.

  1. Mas agora surge naturalmente outra ideia. Cristo foi eleito de seu povo para que pudesse conhecer o que nos faz falta e entender-nos. Vocês conhecem a velha história que uma metade do mundo não sabe como vive a outra metade; e isso é bem certo. Eu creio que alguns ricos não têm a menor ideia do que é a miséria dos pobres. Não sabem o que é trabalhar para obter o pão de cada dia. Têm uma vaga ideia do que significa um aumento no preço do pão. Mas não sabem absolutamente nada disso. E quando damos o poder a homens que nunca foram do povo, não entendem a arte de nos governar.

Mas nosso grandioso e glorioso Jesus Cristo é Um eleito de seu povo e, portanto, Ele conhece as nossas necessidades. Ele sofreu tentação e dor antes que nós. Padeceu enfermidade, porque quando estava pendurado na cruz, o calor desse sol ardente trouxe sobre Ele uma febre o queimava. Cansaço, Ele o sofreu, porque estava cansado quando se sentou no poço. Pobreza, Ele a conhece, porque algumas vezes não teve pão para comer, exceto o pão que esse mundo nada sabe. Estar sem lar, ele também conheceu isso; porque as raposas tinham seus covis, as aves do céu tinham seus ninhos, mas Ele não tinha onde reclinar sua cabeça.

Meu irmão em Cristo, não há lugar aonde você possa ir onde Cristo não tenha ido antes que você, com a única exceção dos lugares pecaminosos. No obscuro vale de sombra de morte, ali você pode ver suas pegadas sangrentas, pegadas marcadas com os coágulos de sangue. Sim, ainda nas águas profundas do Jordão transbordante, ao aproximar-se da margem: “Ali acharás as pegadas de um homem: de quem são?”. Ao agachar-te poderás discernir as marcas dos cravos e dirás: “Estas são as pegadas do bendito Jesus”.

Ele esteve aqui antes que você. Ele já emparelhou o caminho. Ele entrou na tumba para poder fazer dela a habitação real da raça eleita e o guarda-roupa onde essa raça há guardado as roupas de trabalho para vestir-se das vestes de eterno descanso. Em todos os lugares, onde quer que formos, o Anjo do Pacto correu na frente. Cada carga que temos que levar, foi previamente posta sobre os ombros de Emanuel –

“Seu caminho foi muito

Mais difícil e obscuro que o meu;

Meu Senhor Jesus Cristo

Sofreu e eu me queixarei? ”

 

Estou falando àqueles que se encontram em meio a difíceis provas. Querido companheiro de viagem, anime-se: Cristo consagrou o caminho e converteu o caminho estreito no próprio caminho do Rei até à vida.

Mais um pensamento antes de passarmos ao terceiro ponto. Existe uma pobre alma por aí, desejosa de vir a Jesus, mas que tem grandes dificuldades por temor de não poder vir da maneira adequada. E eu conheço muitos cristãos que dizem: “Espero poder ter vindo a Cristo, mas temo que não o fiz na hora apropriada.” Existe uma pequena anotação para um dos hinos ao pé da página, na coleção dos hinos do senhor Denham, que diz: ‘Algumas pessoas temem não poder vir (a Cristo) de forma correta. Agora, nenhum homem pode vir a Cristo, a menos que o Pai o envie. De modo que eu entendo que, se vêm a Ele, não podem vir de maneira inapropriada. ”

Da mesma maneira, entendo que se os homens vêm a Cristo, devem vir de maneira apropriada. Este é um pensamento para si, pobre pecador que se aproxima: por que teme vir? “Oh”, você dirá, “sou tão grande pecador que Cristo não terá misericórdia de mim”. Oh, você não conhece ao meu bendito Senhor. Seu amor é maior do que imagina. Em outro tempo eu era malvado a ponto de pensar isso mesmo, mas me dei conta que Ele é mil vezes mais amável do que eu cria. Estou dizendo, Ele tem tanto amor, tanta Graça, tanta amabilidade que não houve nunca alguém que fosse nem a metade do quanto Ele é. É mais amável do que você possa tentar pensar alguma vez. Seu amor é maior que os seus temores e os seus méritos prevalecem sobre os teus pecados.

Mas ainda você diz: “temo vir a Ele corretamente, acho que não vou poder usar palavras aceitáveis”. Irei te falar a razão disso: Isso é porque você não se lembra que Cristo foi tomado do povo. Se sua Majestade, a rainha da Inglaterra me chamasse à sua presença amanhã pela manhã, me atrevo a dizer que teria muita ansiedade sobre que classe de roupa que deveria usar, de como deveria entrar e como deveria observar a etiqueta da corte, etc. Mas se um de meus amigos aqui presentes me convidasse, eu iria tal como estou para vê-lo, porque ele é um de nós e me agrada.

Alguns de vocês dizem: “como posso ir Cristo? Que devo dizer? Que palavras devo usar?”. Se você fosse ver alguém superior, então poderia perguntar-se isso, mas Ele é um do povo. Vai a Ele tal como é, pobre pecador; simplesmente em sua miséria e em sua imundícia; em toda a sua maldade, simplesmente como é. Oh, pecador acusado por sua consciência, vem a Jesus! Ele é um do povo. Se o Espírito lhe deu convicção de pecado, não estude a maneira de vir, venha com um suspiro, venha com uma lágrima. De qualquer maneira que venha, se tão somente vem, isso será suficiente, porque Ele é um do povo: “O Espírito e a esposa dizem: “vem!” o que ouve diga: “Vem!”.

Neste momento não posso deixar de dar a vocês uma ilustração. Ouvi que nos desertos, quando as caravanas necessitam de água e temem não encontrar nenhuma, costumam enviar um camelo com um ginete a certa distância adiante; à certa distância, mais outro; e a um intervalo mais curto, a outro, tão logo o primeiro homem encontra a água, antes de se inclinar para beber, grita fortemente: “Venham!”. O que o segue, ouvindo a voz, repete a palavra: “Venham!”, enquanto o que vem mais atrás grita por sua vez: “Venham!” Até que o deserto inteiro faz eco com as palavras “Venham!”.

Da mesma forma nesse versículo: “O Espírito e a esposa dizem”, antes de nada, “vem!”. Depois: o que ouve diga: “Vem!”. O que tiver sede, venha. O que quiser, tome da água gratuitamente”. Com esta ilustração, deixo nosso exame das razões para a eleição de Jesus Cristo.

III. E agora concluo com sua EXALTAÇÃO. ”Engrandeci a um eleito de meu povo.” Vocês se lembrarão enquanto falo desta exaltação, que é realmente a exaltação de todos os eleitos em Jesus Cristo. Porque todo o que Cristo é, e tudo o que Cristo tem, é meu. Se sou crente, tudo o que Ele é em sua Pessoa exaltada, isso sou eu, porque fui levado a sentar-me junto com Cristo nos lugares celestiais.

  1. Primeiro, queridos amigos, foi suficiente exaltação para o corpo de Cristo ser exaltado em sua união com a Divindade. Isso é uma honra que nenhum de nós pode receber jamais. Nós nunca podemos esperar este corpo unido a Deus. Não pode ser. Uma só vez ocorreu esta encarnação, e não mais que uma só vez. De nenhum homem se pode dizer: “Ele era Um com o Pai e o Pai era Um com Ele”. De nenhum homem se dirá que a Deidade habitou n’Ele e que Deus era manifesto em sua carne, visto pelos anjos, justificado pelo Espírito e elevado ao Céu.
  2. De novo, Cristo foi exaltado por sua ressurreição. Oh, como gostaria de deslizar-me na tumba de nosso Salvador. Suponho que era uma câmara grande; dentro havia um enorme sarcófago de mármore e muito provavelmente uma tampa pesada descansava sobre Ele. À continuação, fora da porta estava uma enorme rocha e uns guardas vigiavam a entrada. Oh, como haveria desejado levantar a tampa desse sarcófago e olhá-Lo. Pálido descansava ali. Durante três dias o Dormente descansou ali. Filetes de sangue se viam ainda no seu corpo que não puderam ser lavados por aquelas cuidadosas mulheres que o haviam enterrado.

A morte gritava com gozo: “Eu o matei, a semente da mulher que deve destruir-me agora é meu cativo! ”. Ah, como se ria a horrenda morte! Ah, como olhava através de suas ossudas pálpebras ao mesmo tempo em que dizia: “Tenho ao celebrado vencedor em minhas garras!” “Ah!” disse Cristo: “mas Eu te tenho a ti!” E se levantou; a tampa do sarcófago começou a levantar. E Ele, que tem as chaves da morte, fez em pó seus membros de ferro e lançou o pó contra o chão e disse: “Oh, Morte, eu serei a tua Praga. Oh, Inferno, eu serei tua destruição”. Saiu do sepulcro e os guardas, à sua vez, fugiram. Assombrosamente glorioso, radiante de luz, refulgente por sua Divindade, parou frente a eles. Então, Cristo foi exaltado em sua Ressureição.

  1. Mas quão exaltado foi Ele em sua ascensão. Saiu da cidade até o cume do monte, seus discípulos atentos a Ele enquanto Ele esperava o momento assinalado. Observem sua ascensão. Despedindo-se de todo o círculo, foi subindo gradualmente, ascendendo como se levanta a bruma do lago ou a nuvem do rio vaporoso. Ele se remontou aos céus pelo seu próprio poder de elevar-se e sua própria elasticidade ascendeu às alturas. Não como Elias, levado por cavalos de fogo. Não como Enoque, na antiguidade: não podia dizer-se se que desapareceu, porque Deus o levou.

Ele ascendeu por Si mesmo. E conforme subia, me imagino aos anjos que contemplavam desde as muralhas do Céu e exclamavam: “Vejam, está vindo o Herói conquistador!”. À medida que se aproximava mais, gritavam de novo: “Vejam, está vindo o Herói conquistador!”. Assim, sua jornada pelas planícies do espaço se completava; se aproxima das portas do Céu. Os anjos atentos exclamam: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças! Levantai-vos, ó portas eternas!”. As hostes gloriosas apenas se perguntam: “Quem é este Rei da Glória?”, quando de milhares e milhares de línguas corre um oceano de harmonia, tocando as portas de pérolas com poderosas ondas de música e, abrindo-as subitamente: “O SENHOR, o forte e poderoso! O SENHOR poderoso na guerra! ”.

Eis aqui, os portões do céu foram abertos de par em par e os querubins estão apressando-se a receber seu Monarca –

 

 

“Trouxeram sua Carruagem de longe

Para levar Ele ao seu Trono;

Bateram suas asas triunfantes e disseram,

‘A obra do Salvador está feita.’”

 

Olhem, Ele marcha pelas ruas. Vejam como os reinos e potestades caem diante d’Ele! Se colocam coroas aos seus pés e seu Pai diz: “Bem feito, meu Filho, bem feito!”, enquanto o Céu faz eco com o grito de “bem feito! Bem feito!”. Sobe esse elevado ao Trono, ao lado da Paternal Deidade. “Exaltei a um Eleito de meu povo”.

  1. A última exaltação de Cristo que vou mencionar é aquela que há de vir quando Ele se sentar no Trono de seu Pai Davi e julgue todas as nações.

Observarão que omiti a exaltação que Cristo há de ter como rei deste mundo durante o milênio. Não professo entendê-lo e, portanto, vou deixar isso de lado. Mas eu creio que Jesus Cristo há de vir sobre o Trono do Juízo, “e todas as nações serão unidas diante d’Ele. Ele apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas.”

Pecador, você crê que há um juízo! Você sabe que o trigo e o joio nem sempre poderão crescer juntos. Que as ovelhas e os bodes nem sempre compartilharão do alimento. Mas você sabe algo desse Homem que vai julgá-lo? Acaso você sabe que quem vai julgá-lo é uma Homem? Digo um HOMEM. O homem que uma vez foi desprezado e rejeitado –

“O Senhor virá, mas não da mesma maneira

Em humilhação, como veio uma vez;

Um Homem humilde frente aos seus inimigos;

Um homem fatigado e cheio de dores”

 

Ah, não! Haverá um arco-íris ao redor de sua cabeça. Susterá o sol em sua Destra como um sinal de seu governo. Porá a Lua e as estrela baixo seus pés, como o pó do pedestal de seu Trono, que será de sólidas nuvens de luz.

Os livros serão abertos; esses enormes livros que contêm as obras dos vivos e dos mortos. Ah, como se sentará triunfante sobre todos os seus inimigos, o desprezado Nazareno. Não haverá mais insultos, nem escárnios, nem burlas, mas sim um horrível pranto de miséria, “Escondei-nos do rosto daquele que está sentado sobre o trono”. Oh, vocês, meus ouvintes que agora veem com desprezo a Jesus e a sua Cruz, eu tremo por vocês. Oh, mais feroz que um leão sobre a sua presa, é o amor provocando a ira. Oh, desprezadores! Advirto a vocês sobre aquele dia em que o plácido rosto do Varão de dores estiver tecido com raiva. Quando os olhos que uma vez foram umedecidos com as gotas de orvalho da compaixão atirarem relâmpagos sobre seus inimigos.

E as mãos que uma vez foram cravadas na Cruz para nossa redenção, uma vez empunhem o raio para condenação de vocês. Enquanto a boca que disse: “Vinde a mim todos os que estais cansados,” pronunciará com palavras mais fortes e mais terríveis que a voz do trovão: “Apartai-vos de mim, malditos”. Pecadores, vocês poderão pensar que é uma coisa sem maior importância pecar contra o Homem de Nazaré, porém se darão conta que fazendo isso, ofenderam ao Homem que julgará a terra em justiça. E por sua rebelião, sofrerão ondas de tormento no oceano eterno de sua ira! Que Deus os livre dessa condenação! Mas lhes estou advertindo disso.

Todos vocês já leram a estória daquela dama que no dia de seu casamento subiu as escadas e, vendo um antigo guarda-roupas, com ânimo de diversão e travessura, meteu-se dentro, pensando em esconder-se ali por uma hora para que seus amigos a buscassem. Mas havia uma fechadura ali oculta e, ao fechar-se, a deixou trancada para sempre. Ninguém a pôde encontrar, senão depois de transcorridos muitos anos. Quando um dia estavam movendo esse velho guarda-roupa, encontraram os ossos de um esqueleto, com um anel de brilhantes por aqui e outros adornos acolá. Ela havia entrado ali por diversão e alegria, mas foi encerrada para sempre.

Jovens irmãos e irmãs, cuidem-se de não ser encerrados para sempre por seus pecados! Uma taça jovial, um jogo momentâneo, pensou ela. Mas há uma fechadura secreta no assoalho. Uma só visita a essa casa de má reputação, um pequeno desvio do caminho reto, isso é tudo. Oh, pecador, isso é tudo! Mas sabe o que é tudo isso? Estar preso para sempre. Oh, se vocês escapassem disto, se me ouvissem enquanto [porque só me resta um momento] lhes falo do Homem que foi “eleito de meu povo”.

Vocês, orgulhosos, tenho uma palavra para vocês! Vocês, delicados, cujos passos não devem tocar o chão! Vocês que olham de cima a baixo com desprezo a seus próximos mortais; minhocas que desprezam suas companheiras minhocas, só porque estão vestidas de maneira mais elegante! Que pensam disto? O Homem do povo é Quem te salvará, se é que você há de ser salvo. O Cristo da multidão, o Cristo das massas, o Cristo do povo, Ele deve ser o teu Salvador! Você deve se humilhar, homem orgulhoso! Você deve se inclinar, mulher soberba! Você deve pôr de lado sua pompa, ou do contrário, nunca será salvo, porque o Salvador do povo deve ser teu Salvador.

Mas ao pecador temeroso, cujo orgulho desapareceu, repito a reconfortante segurança: Evitarás o pecado? Evitarás a maldição? Meu Senhor me pede que diga esta manhã: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, que eu vos aliviarei”. Recordo o que dizia uma santa anciã. Alguém estava falando da misericórdia e o amor de Jesus e concluiu dizendo: “Ah, acaso não é surpreendente? ” Ela disse: “Não, não é”. Mas eles lhe disseram que o era, sim. “Ah, vamos”, disse ela, “simplesmente Ele é assim; Ele é assim! ”.

Vocês perguntam: acaso podem crer semelhante coisa de uma Pessoa? “Oh, sim”, pode dizer-se: “essa é simplesmente a Sua natureza”. De modo que vocês talvez não podem crer que Cristo quer salvá-los, criaturas culpáveis que são? Eu lhes digo que Ele é assim. Ele salvou a Saulo; Ele me salvou e pode salvar você. E mais, ele salvará você. Porque qualquer que vem a Ele, jamais o lançará fora.

 

 

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ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER CONHECIMENTO SALVIFÍCO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA

 

FONTE: Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon11.html

 

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público e com autorização de Allan Roman.

Sermão nº 26 — Volume 1 do The New Park Street Pulpit,

Tradução: Equipe Projeto Castelo Forte

Revisão: Cibele Cardoso
Capa: Victor Silva

 

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[1] Herodes Antipas.