Lições dos primeiros cristãos para os cristãos de hoje – Tim Challies

Tim Challies

Quando eu era criança, minha família assistiu um filme que incluía cenas vívidas de perseguição contra os primeiros cristãos. Lembro-me de estar acordado à noite, aterrorizado com essas imagens de cristãos queimando nas ruas e sendo alimento de leões. Não pude deixar de me imaginar no lugar daqueles crentes sitiados. Na época, eu assumi que eles estavam sendo perseguidos simplesmente por serem cristãos, mas, ao estudar sobre história da igreja primitiva, percebi que não é tão simples assim. E, à medida que a simplicidade dá lugar à realidade, vejo que há algumas lições importantes que podemos aprender hoje por meio dessa perseguição na igreja primitiva.

Os primeiros cristãos viviam dentro do Império Romano e, apesar do que você pode ter ouvido por ai, Roma era surpreendentemente tolerante com outras fés. Ao conquistar as nações vizinhas, raramente exigiam lealdade total à religião ou aos deuses romanos tradicionais. Permitiriam que as pessoas continuassem a adorar seus próprios deuses da maneira que preferissem. Mas ainda assim os cristãos foram perseguidos. Por quê?

O grande desafio do Império Romano unia muitas culturas, crenças e nações sob uma bandeira comum. Como seus exércitos conquistaram terras que se estendiam da Alemanha ao norte da África, da Espanha à Síria, esse desafio se tornou cada vez mais difícil. O que poderia servir como uma espécie de vínculo para manter tudo junto? A resposta óbvia foi o imperador. Ele poderia permanecer como a personificação viva do império, para que lealdade ao imperador fosse sinônimo de lealdade à Roma. E como essa lealdade podia ser exibida? Por todo cidadão fazer um sacrifício para ele como se fosse divino. Então Roma não insistiu que todos se convertessem à sua religião; ela apenas insistiam que toda religião acrescentasse uma pequena homenagem ao imperador, um pequeno ato de adoração que serviria como demonstração de sua lealdade ao império.

Os cristãos se recusaram a fazer isso. Sua lealdade final e exclusiva a Jesus Cristo os impediu de fazer tal oferta, e foi essa recusa que foi a fonte de grande parte da perseguição. É crucial entender que, da perspectiva romana, a perseguição não era principalmente sobre religião, mas sobre política. A falta de vontade dos cristãos em adicionar esse “pequeno” elemento à sua adoração os fez parecer desleais ao Imperador e ao seu império. Ao deixar de fazer sua oferta à César, eles não estavam se reprovando tanto em um teste religioso quanto em um teste de boa cidadania. Eles estavam se recusando a participar da cerimônia que significava a unidade do império. Assim, eles foram perseguidos como cidadãos desleais que impediam, em vez de fortalecer, sua sociedade.

É aqui que podemos fazer bem em aprender algumas lições para nossos dias. Nossas sociedades estão tentando manter a unidade através da crescente diversidade, mas abandonaram ou derrubaram a maioria dos elementos que tradicionalmente nos uniram. Isso nos deixa buscando novos meios de promover e expressar a unidade. O princípio unificador hoje em dia é a tolerância – um novo tipo de tolerância centrada na ética e nos costumes sexuais modernos. Onde a tolerância já exigiu respeito, apesar das divergências, hoje ela exige muito mais. Somos considerados tolerantes apenas quando defendemos e celebramos novos entendimentos de casamento, sexualidade e gênero. Aqueles que se recusam a celebrar o que acreditam que Deus proíbe são vistos como desleais ao princípio unificador da sociedade atual.

Aqui está uma semelhança entre nós e Roma: Assim como todas as religiões do Império Romano deveriam adicionar uma pequena homenagem ao imperador, hoje descobrimos que todas as religiões (e todos os outros tipos de grupos) devem adicionar um elemento de tolerância. Demonstramos nossa lealdade à sociedade quando expressamos tal tolerância e demonstramos deslealdade se recusarmos. Se falhamos no teste de tolerância, falhamos no teste de boa cidadania.

Aqui está uma segunda semelhança: as pessoas hoje estão perfeitamente dispostas a tolerar a fé cristã, desde que ela não perturbe o princípio unificador da tolerância. Os cristãos da igreja primitiva eram bem-vindos a continuarem a adorar Jesus, a cantar suas canções e a pregar suas Escrituras, desde que acrescentassem apenas um pequeno aceno ao imperador. Da mesma forma, somos livres para continuar a adorar Jesus, cantar nossas canções e a pregar nossas Escrituras, desde que aceitemos essas novas definições de casamento, gênero e assim por diante. Não precisamos abandonar nossa fé, mas apenas modificá-la um pouco para se adequar melhor aos tempos.

E uma terceira semelhança: assim como as pessoas ao redor dos primeiros cristãos insistiam que não havia inconsistência entre adorar a Jesus e oferecer uma pitada de incenso ao imperador, as pessoas ao nosso redor hoje estão insistindo que não há inconsistência entre esses novos costumes sexuais e a Bíblia . Esses primeiros cristãos sabiam melhor e suportaram as consequências. Nós também sabemos melhor e podemos ser forçados a suportar consequências.

Ao escrever sobre a igreja primitiva, Bruce Shelley disse: “Para os romanos, o cristão parecia totalmente intolerante e insanamente teimoso; pior, ele era um cidadão desleal confesso.” Mas esse cristão, com toda a sua obstinação, manteve a consciência limpa diante de Deus. Ele estava disposto a sofrer, sabendo que devia muito mais lealdade a Cristo do que a qualquer imperador, à sua nação celestial do que a qualquer império. Que o mesmo seja dito para nós hoje.

FONTE: https://www.challies.com/articles/a-warning-from-the-earliest-christians/