Como a membresia da Igreja é mal entendida, mal aplicada e abusada – Juan Sanchez

 Juan Sanchez

Lamentavelmente, muitos cristãos professos hoje em dia vêem pouca necessidade de uma religião “organizada”. Com efeito, regularmente temos que usar argumentos em nossas classes de novos membros para explicar por que a membresia na igreja é tanto bíblica como pessoalmente benéfica.

Porém, os pastores comprometidos com a importância da membresia da igreja necessitam ser cautelosos. Em nosso zelo por tratar os pontos de vista deficientes da igreja, podemos ser tentados a um zelo injusto, um zelo de estabelecer processos e práticas de membresia que vão além do que a Escritura requer. Sem nos importar o quão bem intencionados sejamos, quando requeremos dos membros da igreja elementos que a Bíblia não requer, não demorará muito tempo até que essas mesmas práticas nos conduzam pelo mesmo caminho da igreja de Éfeso em Apocalipse 2:1-7. Perderam seu primeiro amor. E quem quer ser membro dessa igreja?

Então, para evitar tal falta de amor legalista, consideremos quatro formas em que a membresia da igreja pode ser mal entendida, mal aplicada e, inclusive, um abuso.

Quatro Práticas Abusivas de Membresia

1ª Tornar difícil se unir a uma igreja

Como pastores, estamos encarregados de pastorear o rebanho de Jesus (1 Pe 5:1-4). Parte desse trabalho é proteger as ovelhas dos lobos ferozes que ameaçam atraí-las (Atos 20:28-30). É importante implementar processos de membresia que nos ajudem a discernir a diferença entre ovelhas e lobos.

Também, as Escrituras requerem que os crentes se reúnam “em nome de Cristo”, o que implica que uma igreja sabe o que um candidato a membro crê e o candidato sabe o que a igreja crê. Deve haver alguma forma para se ter essa conversa, como uma classe de membresia e uma entrevista. Mas se não tivermos cuidado, nosso zelo por proteger a igreja pode se converter em um processo de membresia muito pesado. Podemos esperar que os candidatos a membresia assistam a um número excessivo de aulas ou requerer um longo período de provas antes da membresia. Podemos exigir que aceitem uma confissão de fé bastante detalhada ou um pacto eclesiástico de alcance excessivo. Podemos pedir que deem uma explicação mais profunda do evangelho ou de sua profissão de fé do que as Escrituras requerem.

Para estar seguros, cada igreja, com o guia de seus presbíteros, deve estabelecer processos bíblicos e prudentes de membresia para que possam guardar o rebanho e dar as boas vindas aos novos crentes na igreja. Mas não façamos que o unir-se a uma igreja seja uma tarefa fadigante e muito difícil.

2ª Exigir dos membros muito mais do que as Escrituras exigem

Em uma cultura de pouco ou nenhum compromisso, devemos recordar regularmente aos membros da igreja as expectativas que temos uns com os outros. Uma maneira útil de fazer isto é por meio da utilização de um pacto da igreja. Um pacto da igreja, recitado durante as reuniões de membresia e em outros momentos apropriados, pode servir como um recordatório das expectativas de membresia bíblica. Infelizmente, nossa cultura de pouco compromisso pode nos tentar a impor expectativas não bíblicas.

Por exemplo, algumas igrejas requerem erroneamente uma grande frequência. Apenas considere o quão cheia pode ser a agenda de uma igreja: reuniões dominicais, reuniões semanais, reuniões de comitê, reuniões ministeriais, grupos pequenos e estou certo de que a lista pode aumentar.

Durante o seminário, eu era um estudante de tempo integral que trabalhava em três trabalhos (e mal conseguia fazer isso). Simplesmente era impossível assistir a todos os eventos ou atividades da igreja. Em vez disso, minha esposa e eu demos prioridade as reuniões da manhã e da noite do Dia do Senhor.

Pastores, tenham cuidado de não requerer que seus membros participem em um ministério que a Bíblia nunca requereu. Enquanto o discipulado deve ser uma parte importante da vida de cada cristão, a Bíblia não requer que cada membro seja parte de um pequeno grupo. O discipulado pode acontecer em diversos contextos, e devido ao fato de os membros de nossas igrejas estarem em diferentes estações e etapas da vida, não é prudente fazer que algo, como os pequenos grupos, sejam obrigatórios. Mais uma vez, cada igreja, com o guia de seus presbíteros, deve estabelecer as melhores maneiras para cuidar de seus membros e fomentar o crescimento em semelhança com Cristo. Mas tenhamos cuidado de não esperar mais de nossos membros do que Jesus espera.

3ª Cultivar uma cultura de temor na disciplina da igreja

Pastorear é difícil. Muito difícil! É muito parecido a ser pai. Criar seus filhos, os instruir na disciplina e instrução do Senhor, e orar para que abracem a Cristo e o sigam todos os dias de suas vidas. Em algum momento, entretanto, nossos filhos têm que tomar suas próprias decisões e abraçar a fé como propriedade. Da mesma maneira, ao pastorear uma igreja, “criamos” os filhos de Deus, os instruímos na disciplina e instrução do Senhor, e oramos para que, ao haver abraçado a Cristo, o sigam todos os dias de suas vidas.

Lamentavelmente, nem todos os cristão professantes perseveram, o que significa que nem todos os membros da igreja seguem a Cristo em contínuo arrependimento. Nesses casos, devemos entrar na operação de resgate que chamamos disciplina da igreja (Mateus 18:15-20). Se não tivermos cuidado, porém, podemos estar tentados a usar o púlpito para “intimidar” os membros, e guardar a disciplina da igreja em nosso bolso traseiro como uma carta na manga.

Embora o medo possa ser um poderoso motivador temporal, é um péssimo transformador de corações a longo prazo. Lembre-se: se estabelecemos normas legalistas que a Bíblia não requer, então quando os membros da igreja não seguirem nossas normas extrabíblicas, se rebelarão. Como Jesus nos lembra, somos os servos do rebanho de Deus, não seus senhores (Mateus 20.25-28). Por isso, no lugar de ameaçar as ovelhas, devemos guiá-las com amor, animá-las e alimentá-las.

4ª Tornar muito difícil deixar a igreja

Queremos despedir os membros da igreja de tal maneira que estejam debaixo do cuidado de outra igreja local e outro grupo de pastores amorosos. Mesmo assim, se não tivermos cuidado, nossa intenção de cuidar bem dos membros que saem da igreja pode fazer que se sintam como se fossem propriedade ou prisioneiros, não irmãos e irmãs. E assim, do mesmo modo que devemos ter processos bíblicos e prudentes para escolher os membros, também devemos ter o mesmo para os membros que se despedem.

Quando os membros vão para outra igreja – a menos que estejam indo para escapar da disciplina da igreja – devemos ajudá-los, na medida do possível, a encontrar outra igreja evangélica que possam se unir. Alguns membros podem não pedir nossa ajuda; outros podem não necessitar de nossa ajuda; mas todos devem ser pastoreados no processo de deixar nossa igreja para se unirem a outra. Lembre-se: são ovelhas de Deus, não as nossas.

Ame as suas ovelhas

Estou certo de existem outras maneiras em que podemos abusar da membresia da igreja. Estas são apenas quatro. Para lutar contra a tentação de abusar da membresia da igreja, devemos recordar que o Cristo que foi assunto ao céu tem estruturado sua igreja (Ef 4.11) para que os homens fiéis que podem ensinar a outros cuidem de suas ovelhas (2 Tm 2:2), os levando aos pastos verdes de Sua Palavra e os protegendo das ameaças dos lobos selvagens (Atos 20:28-31). Não somos senhores, somos servos. Não somos donos, somos mordomos. Não somos condutores de gado, somos pastores. E estamos guiando as ovelhas até o pastor principal. Que o Senhor nos conceda a graça de amar as ovelhas como Ele as ama.

FONTE: https://evangelio.blog/2019/07/03/como-la-membresa-de-la-iglesia-es-mal-entendida-mal-aplicada-y-abusada/

TRADUÇÃO : Emanuel Queiroz