Qual é sua Motivação Missionária? (Bispo Josep Rossello)

1947741_499503446825788_1580333952_nSermão pregado no Domingo, 16 de Junho de 2013

por Josep Rossello

Bispo Diocesano da Igreja Anglicana Reformada do Brasil,

Na Igreja Anglicana do Vale do Paraíba

Em São José dos Campos, São Paulo, Brasil

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Qual de vós, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no campo e não vai atrás da que se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, coloca-a sobre os ombros, cheio de alegria; e, chegando em casa, reúne os amigos e vizinhos e lhes diz: Alegrai-vos comigo, pois encontrei a minha ovelha perdida. Digo-vos que no céu haverá mais alegria por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento. Lucas 15:4-7

 

Hoje começarei uma série de sermões com o desejo de pensar, crer e viver juntos o sonho de construir uma comunidade missionária. Já faz dez meses que estamos caminhando neste projeto de plantar uma nova igreja anglicana em São José dos Campos. Agora, precisamos tomar um tempo para reflexão. As coisas não estão indo como esperávamos. Como Reitor deste ponto de pregação da Igreja Anglicana Reformada do Brasil, tenho a total responsabilidade de ser quem dê orientação espiritual e visão apostólica para o futuro. E, exatamente por isso, pregarei uma série de sermões com o objetivo de observar e estabelecer os fundamentos essenciais que nos permitam ser fiéis discípulos do Rei.

Paulo escreveu aos Romanos (15,20-21), “desse modo, esforcei-me por anunciar o evangelho não onde Cristo já havia sido proclamado, para não edificar sobre fundamento alheio; pelo contrário, como está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado, o verão; e os que não ouviram, entenderão.

 

I. Esta palavras de Paulo nos mostram a correta motivação que devemos ter para plantar uma nova igreja. Este texto nos ajuda a entender a diferença que existe entre um ‘desejo pessoal’ e a ‘obediência a Deus’

O desejo pessoal nos leva a buscar aquilo que desejamos mais que qualquer outra coisa, sem discernir o que Deus espera de nós e qual é o mandato de Deus para Sua Igreja. Os nossos desejos nos separam dos outros porque entram em conflito com os desejos que as outras pessoas ao nosso redor possuem, e que nem sempre são os mesmos. Existe, assim, a tentação de buscar estabelecer uma igreja formada de pessoas que sejam como nós, sem perceber que isto é radicalmente contrário às próprias Escrituras (1 Coríntios 10,32; Gálatas 3,28) e à catolicidade da Igreja (Apocalipse 7,9).

Já a obediência a Deus nos leva a esquecer os próprios desejos, e nos leva a buscar discernir os desejos de Deus para sua Igreja, para o mundo e, finalmente, para nós. Isto nos leva a unir-nos em uma só missão, mandamento e desejo, permitindo que pessoas com dons, ministérios e talentos diferentes possam trabalhar juntas com um mesmo objetivo: buscar as ovelhas perdidas e trazê-las de volta para casa. A Igreja começa então a ser missionária porque surge um desejo nela de proclamar o evangelho de Cristo. O evangelho é pregado às nações, e a igreja é edificada corretamente.

Infelizmente, nossos desejos muito frequentemente se impõem sobre os ensinos de Cristo e os mandamentos de Deus. E notemos que nossos desejos nem sempre são duradouros, já que surgem, às vezes, de conceitos errados, ideias irreais e desejos egoístas, fazendo com isso que nós mudemos de desejos. A obediência a Deus, por outro lado, nos sustenta por longo tempo, dando a certeza do chamado eterno e o mandato de Cristo a cada geração (Mateus 28,19-20).

II. Se desejamos seguir a Cristo, busquemos sempre o chamado de obediência de Deus sobre nossos desejos, até quando estes possam parecer certos e sinceros.

Tomemos agora um momento para refletir sobre as motivações e desejos errados pelos quais as pessoas começaram novas igrejas no passado.

ü Ter diferenças com outros irmãos na sua igreja, levando alguns a sair da igreja para plantar uma igreja nova, ou ser parte de uma nova igreja.

ü Ter discordâncias com sua igreja ou pastor por motivos não essenciais à fé Cristã ou à prática bíblica, levam a abrir uma nova igreja.

ü Considerar seu modelo de plantação de igreja sendo melhor que o modelo usado pela igreja onde você se encontra.

ü Desejar ter uma igreja, ainda que não lembre a última vez em que compartilhou o Evangelho com alguém que não fosse cristão.

ü Sua família ser formada por pastores, desejando assim seguir tal tradição e ter sua própria igreja.

ü Ter a certeza de que Deus o tem chamado ao ministério. Se considerar um líder, com certeza, PORÉM nunca ter sido reconhecido por nenhuma igreja, e nem conseguir reunir um grupo de pessoas para liderar.

ü Amar a ideia de ter uma igreja, ou fazer as coisas da sua forma, ainda que nunca tem sido um líder, nem ocupado lugares de liderança.

ü Deseja ser parte de uma nova igreja, como acredita que a igreja deve ser de fato.

ü Nunca estar errado, e sempre ter razão em tudo, não desejar tomar as decisões em conselho, e nunca reconhecer quando errou em uma questão de julgamento, ou qualquer ponto particular de doutrina.

ü Plantar uma igreja será somente o trampolim para outras coisas.

ü Crer que tem muito a falar e as pessoas precisam ouvir.

ü Não ter muitos amigos que sejam como você, desejando assim ter uma igreja com pessoas como você.

Se você encontra algum ponto desses citados que persiste na sua mente, possivelmente seja necessário reconsiderar suas motivações e desejos. Se depois de tomar tempo para analisar seu próprio coração, se der conta que está sendo movido pelos motivos errados, então será o momento certo para uma pausa e avaliar sua situação.

III. É verdade que, no passado, a igreja se multiplicaram e cresceram como resultado das diferenças iniciais em opiniões e formas de fazer as coisas; por exemplo, Paulo e Barnabas, ou George Whitefield e John Wesley. Contudo, também, a Igreja tem perdido muita força e capacidade missionária, sem falar do bom testemunho e a falta de amor entre aqueles que se encontram em meio de conflitos e tumultos, causando divisões. A IGREJA TEM O CHAMADO DE PERMANECER UNIDA EM MISSÃO.

Isto não tem sido assim sempre por séculos. Contudo, nunca deve ser nossa intenção tomar membros de outras igrejas que existem, ou construir uma denominação a partir dos dissidentes de outras denominações, já que a palavra do apóstolo Paulo nos lembra da importância de construir onde nunca foi edificado antes.  O motivo pelo qual a Igreja Anglicana Reformada do Brasil tem uma visão de plantar novas igrejas, não é construir uma nova e melhor denominação, mas é anunciar o evangelho aos mais de 150 milhões de brasileiros que ainda não conhecem Jesus Cristo, como Senhor e Salvador.

Isto me leva a fazer a seguinte pergunta: você realmente conhece Jesus Cristo como Senhor e Salvador? Se sim, sua missão em união será real e verdadeira. Não estou perguntando se você vai à igreja, ou se acredita na existência de Deus. O que estou perguntando é se você já chorou pela revelação do Espírito dos seus pecados. Já clamou a Deus em arrependimento de coração e sentindo-se longe de Deus, suplicando pela misericórdia e o perdão pelos seus pecados, e, logo, sentiu a paz e a presença de Deus que mudou todo o seu ser, surge um desejo de obedecer a Deus e seguir os ensinos de Cristo. Disto estou falando, quando uso as palavras ‘conhecer Jesus Cristo, como Senhor e Salvador.’

Se esta é nossa motivação, então, estamos no caminho certo, mas se a nossa motivação é outra, então você pode ter a certeza de que não estaremos agradando a Deus.

IV. Somente plantaremos igrejas saudáveis se temos um amor ardente pelos perdidos e os pecadores que estão necessitados da graça transformadora de Cristo, e do poder santificador do Espírito Santo. 

Se isto é o que nos levar a construir comunidades missionárias, então estaremos no caminho certo. A partir deste entendimento, será mais fácil entender a motivação correta para fazer amigos, os quais ouvirão e verão o evangelho de Cristo. Nossa prioridade como Igreja não pode, nem deve ser, os prédios e os programas em si mesmos, mas os pecadores que ainda estão longe de Cristo. Façamos amigos os quais serão levados a Cristo e feitos verdadeiros discípulos de Jesus.

Uma urgente advertência se faz necessária neste momento. Existe um grave perigo quando os motivos pelos quais fazemos amigos, na verdade, é para preencher um vazio existencial que existe em nós. Deus nos fez pessoas sociáveis e, realmente, é bom ser parte de um grupo de amigos. Contudo, existe o perigo de que o desejo de fazer amigos, não seja em obediência a Deus, mas sim pelo desejo de ter amigos e ser amados por si só. Se é assim, pode ter certeza que serão os seus amigos que influenciarão você, e você e não será capaz de trazer pessoas a Cristo. E, pior ainda, a influência que essas amizades exercem podem leva-lo a que seja um cristão cada dia mais carnal sem mesmo você perceber.

V. A motivação saudável para fazer amigos é levar tais pessoas a Cristo. Isto se faz convidando as pessoas a formar parte da nossa vida, e não convidando para reuniões e programas somente. Se somos cristãos, então nossas vidas transformadas devem impactar a vida daqueles ao nosso redor.

O primeiro passo é ter uma relação saudável com Deus e com sua família. Genuína e crescente intimidade em obediência a Deus é fundamental, e somente de tal comunhão com Deus que surge o desejo correto para evangelizar e a motivação certa para começar uma nova igreja. Lembre-se sempre, a primeira experiência da igreja é sua família. E já que estará convidando pessoas a compartilhar de sua vida, sua família deverá ser saudável, crescendo em perdão, obediência e amor. Os membros da família, individualmente, devem seguir a Jesus e também como família. Ao final do dia, devemos ser capazes de dizer as pessoas, ‘se você vive sua vida da forma em que eu vivo a minha; se você se relaciona com Deus da forma em que eu faço, se você trata sua esposa do jeito que eu trato a minha… então você está vivendo como um discípulo de Cristo.

A única forma de fazer discípulos é se você mesmo é um discípulo de Cristo. Se percebe que sua vida não é saudável em qualquer destas áreas, fale comigo depois do culto[1].

VI. Uma vez colocado os fundamentos, vejamos as motivações que Deus deseja que tenhamos para plantar uma igreja. Responda as seguintes perguntas:

ü Você tem se arrependido dos seus pecados e segue nosso Senhor, Jesus Cristo como seu Mestre, tendo visto uma mudança de caráter, interesses e desejos em sua vida, e observa que a natureza de Cristo está crescendo em você através da obra santificadora do Espírito Santo?

ü Você tem sido cheio do Espírito Santo, e tem superado vitoriosamente as dificuldades?

ü Você tem certeza de que fazendo isto está sendo obediente à missão e mandato de Deus?

ü Você ora mais do que fica falando dos outros, pensando mais do que fala?

ü Reconhece seus próprios erros e pecados, e ajuda outros a ver e entender os seus pecados e ser livres deles?

ü Tem opiniões firmes mas está aberto a mudar quando você estiver errado?

ü Ama proclamar o evangelho, tem feitos discípulos, e, sobretudo, ama a Jesus por cima do ministério.

ü Acredita e subscreve os 39 Artigos da Religião e o Catecismo da IARB, e louva a Deus através do Livro de Oração Comum?[2]

ü Possui uma teologia bíblica, um entendimento sólido, e uma postura amorosa com as ovelhas perdidas?

ü Seu orgulho é conhecer a Deus, em vez de programas, metodologias ou sistemas de evangelismo ou conceitos de igrejas?

ü O evangelho é sua prioridade (1 Cor 15)?

ü Exorta sempre àqueles que estão sobre seu cuidado a viver vidas dignas do evangelho no meio do pecado e a oposição (Fp 1,27)?

Estas são, e devem ser sempre, as motivações que nos levem a plantar uma igreja anglicana saudável.

Irmãos, sejamos transformados pelo poder do Espírito Santo (1 Cor 4,20). Quando Jesus enviou os seus discípulos a anunciar o Reino de Deus, eles foram enviados com poder (Atos 1,7-8). Se Deus chamou você, não pense na sua formação, ou instrução, aquilo que você não tem neste momento. Pense que se Ele enviou você, então é porque Deus capacitou você no poder do Espírito Santo.

Será que não podemos expulsar demônios e curar enfermos (Mateus 10,1-8) como a igreja primitiva? Será que temos esquecido os sinais e maravilhas os quais são marcas do Reino de Deus (veja Lucas 9,1-6 e Lucas 10,8-9)?

Quando Felipe foi a Samaria, ele curou enfermos e expulsou demônios, como anunciava o evangelho de Cristo (Atos 8,4-8), e Paulo descreveu seu ministério em termos de poder (1 Tess 1,4-5a). Em 1 Coríntios 2,4-5, Paulo escreve, “Minha linguagem e pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, mas no poder de Deus.”

Percebemos hoje que somente precisamos da motivação certa, da obediência ao chamado e do poder do Espírito Santo; então, a Igreja Anglicana em São José dos Campos será transformada de tal modo que já não será uma grande questão o usarmos tal ou qual Bíblia, ou o que podemos fazer, ou o que as pessoas buscam em uma igreja, mas a nossa grande questão será sobre o evangelho, o Reino de Deus e as vidas transformadas pelo poder do Espírito Santo.

Ao único Deus Todo-poderoso, nosso Salvador, seja toda a glória e majestade, domínio e poder, agora e para sempre. Amém.

 

LEITURA DAS ESCRITURAS ANTES DO SERMÃO

1 Pedro 5.5-11 | Lucas 15.1-10.

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM CONHECIMENTO SALVÍFICO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA

FONTE: http://igrejaanglicana.com.br/
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Sermão: Josep Rossello

Prova e revisão: Patrice dos Santos Rossello e Armando Marcos Pinto

Capa:

 

Projeto Castelo Forte – Divulgando o Evangelho do SENHOR.

www.projetocasteloforte.com.br

 

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[2] Lembrando que esse sermão foi pregado para uma Igreja Anglicana Reformada do Brasil, mas isso pode ser aplicável a sua igreja em suas doutrina e sua forma de adoração (Nota do Revisor)