O Perdão Facilitado – Spurgeon

Nº. 1448

Um sermão pregado por

Charles Haddon Spurgeon

No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

COMPRE NA AMAZON aqui

“Perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” Efésios 4: 32.

 

“E perdoem uns aos outros, como Deus vos perdoou por meio de Cristo.” Efésios 4: 32 Bíblia da América.

 

 

Quando os moralistas pagãos desejavam ensinar a virtude, não podiam dar o exemplo dos seus deuses, pois, segundo os seus mitólogos, os deuses eram constituídos por uma mistura de todos os vícios imagináveis e, eu diria, inimagináveis. Muitas divindades clássicas ultrapassaram os piores indivíduos em seus crimes. Eles eram tão grandes na injustiça, como eram supostamente superiores no poder. É um dia fatídico para um povo quando seus deuses são piores do que as pessoas. A pureza abençoada da nossa santa fé é visível não só em seus preceitos, mas no caráter do Deus que revela. Não há nenhuma excelência que poderíamos propor que não vejamos brilhando intensamente no Senhor nosso Deus. Não há nenhuma regra de conduta em que o crente deva se destacar que não possamos identificar em Cristo Jesus, nosso Senhor e Mestre, como sua regra. Nos lugares mais altos da fé cristã há as maiores virtudes, e a Deus nosso Pai e ao Senhor Jesus seja o mais sublime louvor.

 

Podemos exortá-los ao mais terno espírito de perdão lembrando a Deus que os perdoou em Cristo. Que motivo mais nobre poderia exigir para perdoarem uns aos outros? Com exemplos tão sublimes, irmãos, que tipo de pessoas deveríamos ser? Ouvimos, às vezes, sobre pessoas que eram melhores que sua religião, mas isso é completamente impossível entre nós; nunca, em espírito ou em ato, podemos alcançar a sublime elevação de nossa religião divina. Devemos estar constantemente nos elevando acima de nós mesmos e sobre os mais agraciados dentre os nossos irmãos cristãos, e, ainda assim, sobre nós ainda contemplaremos nosso Deus e Salvador. Podemos ir muito bem em pensamentos de bondade e deveres de piedade, mas Jesus ainda está acima e temos que estar sempre olhando para Ele enquanto escalamos o monte sagrado da graça.

 

Neste momento, quero falar um pouco com relação aos deveres de amor e perdão, e aqui percebemos imediatamente que o apóstolo coloca diante de nós o exemplo do próprio Deus. Vamos investir a maior parte do nosso tempo nesse exemplo brilhante, mas espero que não seja tanto a ponto de esquecer a parte prática da qual estão muito necessitados nestes dias certos espíritos que não perdoam, mas, apesar disso, assumem o nome de cristãos. O assunto do amor de Deus que perdoa é tão fascinante que podemos ficar um tempo, um longo tempo, de fato, neste brilhante exemplo de perdão que Deus colocou diante de nós, mas, para tanto, eu espero que guardemos a graça, mediante a qual perdoamos os outros até mesmo em setenta vezes sete oportunidades.

 

Vamos pegar cada uma das palavras do texto e, assim, obteremos as mais claras divisões.

 

  1. A primeira frase sobre a qual devemos refletir é “EM CRISTO”. Nós usamos essas palavras com muita frequência, mas, provavelmente, nunca pensamos em sua força e, ainda neste momento, não é possível extrair todo seu significado.  Referimo-nos a elas com muita solicitude rogando ao bom Espírito que nos instrua. “Em Cristo”:todas as boas coisas que Deus nos concedeu chegaram até nós “em Cristo“, mas especialmente o perdão dos nossos pecados veio “em Cristo“. Essa é a clara afirmação do texto. O que isso significa? Seguramente significa, em primeiro lugar, por causa da grande expiação que Cristo ofereceu. Como justo Legislador e Rei, o grande Deus poderia facilmente ignorar as nossas ofensas, devido à expiação dos pecados que Cristo ofereceu. Se o pecado fosse apenas uma afronta pessoal   contra Deus, temos provas abundantes de que Ele estaria mais do que disposto a ignorá-lo, sem exigir vingança; mas é muito mais do que isso. Aqueles que veem isso meramente como uma afronta pessoal a Deus, pensam apenas superficialmente. O pecado é um ataque contra o governo moral de Deus; mina os alicerces da sociedade e, se Ele lhe permitisse fazer tudo o que quisesse, reduziria tudo à anarquia, destruiria o poder de governar e até o próprio Governante. Deus deve governar um grande reino que não é apenas de homens que habitam a face da Terra, mas sob seu domínio há anjos, principados, potestades e não sabemos quantos mundos de seres inteligentes. Seria monstruoso supor que Deus criou essas miríades de mundos que vemos brilhando no céu à noite, sem ter colocado algumas criaturas vivas nelas; é muito mais razoável supor que este mundo é um pontinho completamente insignificante no reino divino, uma mera província no ilimitado império do Rei dos reis. Agora, havendo se rebelado este mundo com arrogância contra Deus, como de fato o fez, a menos que se exigisse uma satisfação pela sua rebelião, isso seria tolerar uma agressão contra o domínio do grandioso Juiz de tudo e uma redução do Seu poderio real sobre todo o Seu reino. Se, no caso do homem, o pecado ficasse impune, logo seria conhecido em toda as miríades de mundos; de fato, dez mil vezes dez mil raças de criaturas saberiam que poderiam pecar com impunidade; se uma raça o tivesse feito, por que não poderiam fazê-lo todas as outras? Isso equivaleria a um anúncio de uma licença universal para se rebelar. Provavelmente, seria a pior calamidade que poderia acontecer que qualquer pecado ficasse sem que o supremo Juiz o punisse. Em um Estado, por vezes, a menos que o legislador aplique a lei contra os assassinos, a vida correria perigo e tudo se tornaria perigoso, de modo que convém que a misericórdia escreva uma sentença de morte. Assim acontece com Deus em relação a este mundo de pecadores. É o Seu próprio amor, assim como Sua santidade e Sua justiça, que, se eu posso usar um termo como esse, compelem-no à severidade do Juízo de tal maneira, que o pecado não possa ser e não deva ser apagado, até que a expiação tenha sido apresentada.

 

Em primeiro lugar, deve haver um sacrifício pelo pecado que, notem, para mostrar Seu amor, o próprio grandioso Pai o provê, pois é o Seu próprio Filho que é entregue à morte e, assim, o próprio Pai oferece a redenção por meio de Seu Filho, o Filho que é um com Ele mesmo, por laços de uma unidade essencial e misteriosa, mas extremamente intensa. Se Deus exige o castigo com justiça, Ele mesmo o provê com amor. É um surpreendente mistério este do caminho da salvação mediante um sacrifício expiatório; mas isto é claro: que agora Deus nos perdoou em Cristo porque satisfez a honra ferida do governo divino e a justiça foi feita. Quero que reflitam, por um momento, quão facilmente Deus pode apagar agora o pecado porque Cristo foi morto. Esta supressão do pecado parece difícil até vermos a cruz e, então, depois, se vê extremamente fácil. Eu olhei o pecado a tal ponto que parecia me deixar cego com seu horror e me dizia: “Esta maldita mancha nunca poderá ser lavada. Nenhum sabão pode mudar sua tonalidade. Seria mais fácil que o etíope mudasse sua pele ou o leopardo as suas manchas. Oh pecado, você, mal eterno e profundo, o que é que poderia tirá-lo?” E então eu vi o Filho de Deus morrendo na cruz, a angústia de sua alma, ouvi os clamores que indicavam o tormento do seu espírito quando Deus, Seu Pai, o havia abandonado, e pareceu-me como se a purificação do pecado fosse a coisa mais fácil debaixo do céu. Ao ver Jesus morrer eu não sou capaz de entender como poderia ser difícil que qualquer pecado fosse removido. Se um homem está no Calvário e vê Aquele a quem traspassaram, aceita e acredita na expiação realizada, então, torna-se a coisa mais simples possível que a sua dívida seja quitada agora que já está paga, e que a sua liberdade lhe seja concedida agora que o resgate foi conquistado, e que ele não esteja mais sob a condenação, posto que a culpa que o condenava foi levada para longe pelo Seu grandioso Substituto e Senhor. É, então, devido a Jesus Cristo ter sofrido em nosso lugar, que Deus nos perdoou em Cristo.

 

A interpretação seguinte do texto é esta: que Deus nos perdoou devido ao caráter representativo de Cristo. Não devemos jamais esquecer que nós caímos originalmente por meio de um representante. Adão esteve em nosso lugar e ele era nossa cabeça federal. Nós não caímos pessoalmente, em princípio, mas o fizemos em nosso representante. Se ele tivesse seguido as condições do pacto, teríamos nos sustentado por meio dele, mas, à medida em que ele caiu, nós caímos nele. Eu lhes rogo que não ponham reparos ao arranjo porque jaz a esperança da nossa raça. Os anjos provavelmente caíram individualmente, um a um, e caíram irremissivelmente. Não havia restauração para eles. Mas como nós caímos em Adão, continuava viva a possibilidade de nos levantarmos em outro Adão, e, portanto, na plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho, Jesus Cristo, nascido de mulher e nascido sob a lei, para que se tornasse o segundo Adão. Ele se comprometeu a quitar nossas dívidas e a cumprir as condições de nossa restauração. De acordo com a aliança, Ele tinha que vir em nossa natureza e assumiu essa natureza na plenitude do tempo. Tinha que sofrer o castigo. Isso Ele fez em Seu sofrimento e morte pessoais. Tinha que obedecer à lei. Isso o fez em plenitude. E agora Cristo Jesus, tendo sofrido o castigo e cumprido a lei, Ele mesmo é justificado diante de Deus e se apresenta diante de Deus como o representante de todos os que estão Nele. Deus, por meio de Cristo, aceitou-nos Nele, perdoou-nos Nele, e nos vê Nele com um amor infinito e imutável. É assim que chegam a nós todas as bênçãos: em e por meio de Cristo Jesus; e, se estamos Nele, em verdade, o Senhor não apenas perdoa nosso pecado, mas derrama em nós as ilimitadas riquezas de Sua graça por meio Dele; de fato, trata-nos como se tratasse com Seu Filho. Ele nos trata como se tratasse com Jesus. Oh, quão agradável é pensar que, quando o justo Deus nos olha, é através do meio reconciliador: Ele nos vê através do Mediador. Algumas vezes cantamos um hino que diz:

 

“Olha a Ele e ao pecador,

Olha-me através das feridas de Jesus”.

 

Isso é precisamente o que o Senhor faz. Ele nos considera justos devido à expiação de nosso Salvador e devido ao Seu caráter de representante.

 

Agora iremos um pouco mais adiante. Quando lemos “em Cristo”, seguramente quer dizer pelo profundo amor que o Pai lhe tem. Meus irmãos, vocês podem imaginar algo do amor que o Pai tem ao Unigênito? Não podemos nos intrometer no prodigioso mistério da eterna filiação do Filho de Deus, para que não sejamos cegados pelo excesso de luz; mas isto sabemos, que são um Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, e que a união que existe entre eles é intensa, mais além de toda concepção. “O Pai ama o Filho”, foi certo sempre e é certo agora; mas quão profundamente, quão intensamente Ele ama o Filho, nenhuma mente pode concebê-lo. Agora, irmãos, o Senhor fará grandes coisas por meio de um Filho a quem ama como Ele ama Jesus, pois em adição ao fato de Seu eterno amor por Ele, já que é um com Ele em natureza e em essência, agora é adicionada mais uma causa do amor que surge pelo que o Senhor Jesus fez como o servo do Pai. Lembrem que nosso Senhor foi obediente à vontade de Seu Pai: obediente até a morte, e morte de cruz, pela qual Deus o exaltou até o auge e lhe deu um nome que está acima de todos os nomes. Um dos pensamentos mais doces para mim, que algumas vezes saboreio quando estou só, é este: que Deus, o Pai, fará qualquer coisa por meio de Cristo. Aqui há também outro favo de mel: quando eu posso apresentar o nome de Cristo, estou certo de ganhar minha causa por meio Dele. “Por meio de Cristo” é um argumento que sempre comove o coração do grandioso Deus. Se você consegue demonstrar que se receber tal e tal graça, isso glorificará a Cristo, então, o Pai não pode retê-la, pois é Seu deleite honrar a Jesus. Falamos à maneira dos homens, claro, e em um tema como este devemos ser cuidadosos, mas, ainda assim, só podemos falar como homens, sendo apenas homens. O Pai se regozija expressando Seu amor por Seu Filho. Através de todas as idades, tiveram comunhão um com o outro; sempre foram um em todos os Seus desígnios; nunca diferiram sobre algum ponto e não podem diferir; e vocês notam que, quando Nosso Senhor diz: “Pai, glorifica teu Filho”, isso está tão ligado ao Pai que acrescenta: “Para que também teu Filho te glorifique”. Seu amor mútuo é inconcebivelmente grande e, portanto, irmãos, Deus fará qualquer coisa por meio de Jesus. Deus nos perdoará em Cristo; sim, isso é feito na situação de milhares de pessoas ao meu redor. E você, grande e sombrio pecador, se vai até Deus neste instante e diz: “Senhor, eu não posso pedir que me perdoe por mim mesmo, mas faça isso pelo amor do Seu amado Filho”, Ele o fará, pois Ele fará qualquer coisa quando se tratar de Jesus. Se, neste momento, você está consciente do pecado a ponto de perder a esperança em si mesmo, é bom que a perca, pois o desespero com relação a isso é apenas o bom senso, já que não há nada em si mesmo no qual possa confiar. Mas se apegue a essa esperança – não é uma palha, é um bom salva-vidas – que, se você pode pedir perdão em Jesus, Deus fará qualquer coisa por Jesus e Ele fará qualquer coisa para você por meio Dele.

 

Então, leremos mais uma vez nosso texto à luz de uma verdade que brota do amor de Deus, ou seja, que Deus, em verdade, perdoa o pecado com a finalidade de glorificar a Cristo. Cristo aceitou a vergonha para poder glorificar Seu Pai e agora Seu Pai se deleita glorificando-o, apagando seu pecado. Se você puder demonstrar que qualquer dom que receber refletirá glória em Cristo, pode ter certeza que o receberá. Se houver algo debaixo do céu que faça com que Cristo seja mais ilustre, o Pai o utilizará de imediato. Se você perceber que obter o perdão do pecado elevará a fama do Salvador, invoque esse argumento diante de Deus e você permanecerá com segurança. Cristo não transbordaria em júbilo ao salvar um pecador de sua estirpe? Então ande com esse argumento em sua boca: “Pai, glorifica Seu Filho, exaltando-o como um glorioso Salvador por salvar a mim”. Eu escuto com frequência que isso é uma grande alavanca para um peso morto e é como dizer ao Senhor: “Senhor, Tu conheces as dificuldades em que me encontro; Tu sabes quão desmerecedor eu sou. Tu sabes quão pobre e arruinada criatura sou diante de Ti; mas se Teu amado Filho ajuda e me salva, os próprios anjos colocar-se-ão de pé e se surpreenderão ante Sua poderosa graça, e isso acarretará em glória para Ele; portanto, imploro que sejas clemente comigo”. Tenha a segurança de que preponderará se puder alegar que isso glorificará a Cristo, e que, certamente, não gostaria de receber algo que não fosse glorificá-lo. Sua oração será sempre prevalente se seu coração estiver num estado tal, que você está disposto a ter ou não ter, conforme a maneira com a qual honrará o seu Senhor: se não glorifica a Cristo, há de estar mais que contente por ficar sem os bens terrenos mais seletos; mas há de estar duplamente agradecido quando a bênção que é concedida tende a proporcionar honra ao sempre amado e reverenciado nome de Jesus. “Em Cristo”. É uma palavra preciosa; mantenha-a em sua mente e guarde-a nos arquivos de sua memória: o Pai fará qualquer coisa por meio de Jesus Cristo Seu Filho.

 

  1. Agora, em segundo lugar, prosseguimos a observar o que é dito para nós no texto que foi feito por nós e para nós, em Cristo. “Deus TAMBÉM PERDOOU A VÓS em Cristo”.

 

Notem, primeiro, que Ele fez isso seguramente, O apóstolo não diz que assim o espera, mas diz: “Deus também vos perdoou em Cristo”. Está você no número de perdoados, meu querido ouvinte? Você creu no Senhor Jesus Cristo? Então, tão certo como você creu, Deus lhe perdoou em Cristo. Pôs sua confiança no sacrifício expiatório? Então Deus lhe perdoou em Cristo. Eu espero que você não tenha começado a ser um cristão com a ideia de que um dia, num tempo futuro, possa obter perdão. Não, “Deus também lhe perdoou em Cristo”. O perdão não é um prêmio que deve ser perseguido, mas uma bênção recebida ao dar o primeiro passo da carreira. Se você acreditou em Jesus, seu pecado desapareceu, desapareceu integralmente; todo o seu pecado foi apagado dos registros do passado para não ser mencionado contra você jamais. No instante em que um pecador olha a Cristo, a carga do seu pecado se solta e roda para longe de seus ombros para não voltar mais. Se Cristo o lavou (e o fez se você acreditou Nele), então você está totalmente limpo e, diante do Senhor, fica livre de todo rastro de culpa. O perdão não é um assunto de esperança, mas um fato. A expectativa busca muitas bênçãos, mas o perdão é um favor realizado que a fé mantém em sua mão ainda agora. Se Cristo tomou sua carga, sua carga não pode permanecer sobre suas próprias costas; se Cristo pagou suas dívidas, então, não seguem figurando nos livros de Deus contra Ele. Como poderiam fazê-lo? É lógico que se seu Substituto tomou seu pecado e o pagou, seu pecado já não está mais em você. Deus lhe perdoou em Cristo. Use essa grandiosa verdade e sustente-a, ainda que todos os diabos no inferno rujam para você. Aperte-a com uma mão de aço; use-a como que para salvar sua vida: “Deus também perdoou a mim em Cristo”. Que cada um de nós seja capaz de dizê-lo. Não sentiremos a divina doçura e força do texto a menos que possamos convertê-lo em algo pessoal por meio do Espírito Santo.

 

Logo, notem que Deus nos perdoa continuamente. Ele não só perdoou todos os nossos pecados no princípio, mas continua nos perdoando diariamente, pois o ato de perdoar é contínuo. Ouvi dizerem, algumas vezes, que fomos perdoados dessa forma quando acreditamos inicialmente, que não há nenhuma necessidade de um perdão adicional para nós; ao qual eu replico: fomos perdoados tão completamente quando acreditamos inicialmente, que necessitamos pedir continuamente a perpetuidade desse ato de grande alcance, para que o Senhor possa continuar exercendo essa plenitude de graça perdoadora que nos absolveu perfeitamente no princípio, para que possamos continuar caminhando diante Dele com uma sensação desse completo perdão, claro e inquestionável. Eu sei que fui perdoado quando acreditei em Cristo inicialmente e estou igualmente seguro disso agora; a única absolvição continua ressoando em meus ouvidos como sinetas de gozo que nunca cessam. O perdão, uma vez outorgado, continua sendo outorgado. Quando, devido à dúvida e à ansiedade, eu não estava seguro do meu perdão, apesar disto, ele continuava sendo atestado, pois o que Nele crê, não é condenado, mesmo quando poderia escrever amargas coisas contra si mesmo. Querido amigo, sujeite-se a isso e não o deixe ir. O perdão divino é um ato contínuo.

 

E este perdão da parte de Deus foi sobremaneira gratuito. Nós não fizemos nada para obtê-lo por mérito nem carregamos nada com o que se possa compará-lo. Ele nos perdoou em Cristo sem que tivéssemos feito algo. É certo que nos arrependemos e cremos, mas, Ele nos deu o arrependimento e a fé, de maneira que não nos perdoou por causa deles, mas exclusivamente por Seu próprio bendito amor, porque Ele se deleita em misericórdia e nunca é mais Ele mesmo que quando esquece a transgressão, a iniquidade e o pecado.

 

Lembrem também que Ele nos perdoou integralmente. Não apagou um pecado aqui e outro ali, mas destruiu de uma vez toda a horrível lista e catálogo de nossas ofensas. A substituição de nosso Senhor encerrou esse assunto perfeitamente:

 

“Devido ao Salvador imaculado ter morrido,

Minha alma pecadora é considerada livre;

Pois a Deus, o Justo, basta

Que olhe para Ele, para que perdoe a mim”.

 

Todas as nossas transgressões são suprimidas de uma vez; são jogadas longe como que por uma forte corrente e tiradas de nós tão completamente que não permanece nenhum rastro culpável delas. Todas foram tiradas! Oh, vocês, crentes, pensem nisto pois o conjunto total não é algo insignificante: pecados contra um Deus santo, pecados contrários ao Seu amado Filho, pecados contra o Evangelho, assim como também contra a lei, pecados contra o homem, assim como também contra Deus, pecados do corpo e pecados da mente, pecados tão numerosos como a areia da praia e tão grandes como o próprio mar, todos são afastados de nós tanto quanto está longe o oriente do ocidente. Todo este mal foi enrolado em uma grande embalagem que foi posta sobre Jesus e, tendo Ele carregado tudo, terminou com ele para sempre. Quando o Senhor nos perdoou, perdoou toda a dívida. Ele não tomou a conta e disse: “Apago este inciso e aquele”, mas a pluma escreveu ao longo de toda ela: PAGA. Foi um recibo pelo total de demandas. Jesus tomou a ata que havia contra nós e a cravou em sua cruz para mostrar, diante do Universo inteiro, que Seu poder de nos condenar havia acabado para sempre. Nós obtivemos um pleno perdão Nele.

 

E você deve se lembrar que este perdão que Deus nos outorgou por meio de Cristo é um perdão eterno. Ele nunca trará à luz nossas ofensas passadas para imputá-las uma segunda vez. Ele não nos encontrará em um mau dia e dirá: “eu tive muita paciência com você, mas agora vou tratá-lo segundo seus pecados”. Pelo contrário, o que crê em Jesus tem vida eterna e nunca virá a condenação. O perdão do céu é irreversível. “Irrevogáveis são os dons e o chamado de Deus”. Ele nunca se arrepende do que deu ou perdoou. “Está feito, está feito para sempre. Jeová absolve e a sentença permanece firme para sempre”.  “Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. “Quem acusará os escolhidos de Deus? Deus é o que justifica. Quem o condenará?” Bendito seja Deus pelo perdão eterno!

 

E como não poderia encontrar uma palavra que não seja esta, vou utilizá-la: Ele nos perdoou divinamente. Há tal verdade, realidade e ênfase no perdão de Deus, que não poderiam ser encontradas no perdão do homem, pois ainda que um homem devesse perdoar tudo o que foi feito contra ele, ainda que ele tenha sido tratado muito mal, contudo, é mais do que se poderia esperar que ele o perdoasse completamente, mas o Senhor diz: “Nunca mais me lembrarei de seus pecados e transgressões”. Se um homem lhe julgou falsamente, ainda que o tenha perdoado, não é provável que você confie nele novamente. Um antigo provérbio diz: “Nunca monte um cavalo com pernas quebradas”, e não é um mau provérbio. Mas veja como trata o Senhor a Seu povo. Quando Pedro se levantou de novo, ele era um cavalo com as pernas quebradas, e, sem dúvida, vejam quão gloriosamente o Senhor montou esse corcel de guerra no dia de Pentecostes. Não saiu vencendo e para vencer? O Senhor faz com que as coisas passadas sejam tão completamente coisas passadas que Ele confia Seus segredos às almas perdoadas, pois: “a comunhão íntima de Jeová é com os que o temem”; e Ele confia a alguns de nós Seus mais preciosos tesouros, pois Paulo diz: “colocando-me no ministério, havendo eu sido antes blasfemo”. Ele coloca sob nosso cuidado esse envolto inapreciável que guarda a esplêndida esperança dos homens, ou seja, o Evangelho de Jesus. “Temos este tesouro em vasos de barro”. Isso mostra quão perfeito é nosso perdão; e mais, devo expressá-lo assim: quão divino é o perdão que recebemos. Regozijemo-nos nessa grandiosa promessa que nos chega pela boca de Jeremias desde a antiguidade: “naqueles dias e naquele tempo, disse Jeová, a maldade de Israel será buscada, e não aparecerá; e os pecados de Judá, e não se encontrarão; porque perdoarei aos que eu tiver deixado”. Eis aqui a aniquilação – a única aniquilação que conheço – a absoluta aniquilação do pecado por meio do perdão que o Senhor outorga ao Seu povo. Cantemos esta frase como se se tratasse de um hino seleto: “A maldade de Israel será buscada e não aparecerá”.

 

  • Agora, se vocês foram embebidos do espírito de nosso tema, estarão fortalecidos para suportar o que tenho que dizer sobre um ponto prático. “PERDOANDO-VOS UNS AOS OUTROS, como Deus também vos perdoou em Cristo”. Permitam-me dizer, de início, que não sei de nenhuma pessoa aqui presente que tenha diferenças com alguém mais, portanto, não vou fazer alusões pessoais em absoluto. Se eu soubesse de contendas, querelas e rumores, é muito provável que dissesse o mesmo, mas acontece que não soube de nada; portanto, se meus comentários chegarem à alma de alguns, pediria de todo o coração ao que se sinta afetado por isto, que creia que o que digo é dirigido a ele e que o receba como uma mensagem direta e pessoal de Deus.

 

Perdoando-vos uns aos outros, como Deus também vos perdoou. Observem agora como se expressa o apóstolo. Acaso diz: “Perdoando o outro?” Não, o texto não está assim, se olharem bem. É “perdoando uns aos outros”. Uns aos outros! Ah, então quer dizer que se você tem que perdoar hoje, é muito provável que você mesmo necessite ser perdoado amanhã, pois é “perdoando uns aos outros”. É de ida e volta, é uma operação mútua, é um serviço cooperativo. De fato, é uma sociedade por ações conjuntas de mútuo perdão, e os membros das igrejas cristãs deveriam comprar muitas ações neste negócio. “Perdoando uns aos outros”. Você me perdoa, e eu lhe perdoo e nós perdoamos a eles e eles nos perdoam, e assim um ciclo de ilimitada indulgência e amor vai rodando o mundo. Há algo mau em mim que necessita ser perdoado pelo meu irmão, mas há também algo mau acerca do meu irmão que eu preciso perdoar e isto é o que quer dizer o apóstolo: que todos nós temos que estar exercitando mutuamente a arte e o mistério sagrados de perdoarmos uns aos outros.

 

Se fizéssemos isto sempre, não suportaríamos aqueles que têm a faculdade especial de andar descobrindo defeitos. Há alguns que, sem importar em que igreja estejam, sempre transmitem um mau informe dela. Eu escuto de muitas pessoas este tipo de comentário: “Não há nada de amor entre os cristãos, absolutamente”. Eu descreverei para vocês o caráter do cavalheiro que faz esta observação: ele não tem amor e não é amado, e, portanto, está fora do caminho dos peregrinos do amor. Outro dentre vocês diz: “não há sinceridade no mundo hoje”. Esse homem é um hipócrita, pode estar muito certo disso. Julga uma ave por seu canto e a um homem pelo que diz. Os críticos medem nosso grão, mas usam suas próprias medidas para isso. Podem saber muito bem o que uma pessoa é pelo que diz dos outros. Esta é uma medida do caráter que poucas vezes lhe enganará: julgar outras pessoas por seu próprio juízo sobre seus semelhantes. Sua linguagem trai seu coração. Mostre-me sua língua, amigo! Agora saberei se está doente ou são. Aquele que fala do seu vizinho com uma língua viperina tem um coração enfermo, não se engane. Comecemos nossa carreira cristã com a plena segurança de que teremos muitíssimo o que perdoar em outras pessoas, mas haverá muitíssimo mais o que perdoar em nós mesmos, e estejamos convencidos de que se deve exercitar a benevolência e que necessitaremos que outros a exercitem, “perdoando-vos uns aos outros, Como Deus também vos perdoou em Cristo”.

 

Notem novamente que quando nós perdoamos, trata-se de um assunto humilde e pobre comparado com o perdão que recebemos de Deus, porque nós só estamos perdoando uns aos outros, isto é, perdoando nossos conservos, enquanto que, quando Deus nos perdoa, é o Juiz de toda a Terra que está perdoando, não aos Seus semelhantes, mas aos Seus súditos rebeldes, culpáveis de traição contra Sua majestade. Deus perdoar é algo grandioso; que nós perdoemos, mesmo que alguns pensem que é algo grande, deve ser considerado como um assunto muito insignificante.

 

Logo, reflitam sobre o assunto de ser perdoados. Nosso Senhor nos diz, em Sua palavra, que o conservo devia algumas moedas, mas o servo mesmo era devedor de muitos talentos ao seu amo. O que nós devemos a Deus é infinito, mas o que nosso próximo nos deve é uma soma muito pequena. O que foi que você fez a quem lhe ofendeu tanto? “Disse algo muito vergonhoso sobre mim”. Fez algo muito mau, sem dúvida. “Logo, fez uma armadilha muito suja e agiu de maneira muito rude; de fato, comportou-se escandalosamente e, se você escutar a história, ficará muito indignado”. Bem, estou indignado. Ele é um mau sujeito, não há nenhuma dúvida a respeito; mas você também é. Assim era você, certamente, quando veio a Deus no princípio; sem importar quão mau seja o próximo contigo, você tem sido muito pior com o Senhor. Eu lhe garanto que as negras ações contra você são brancas comparadas com suas negras ações na presença de Deus. “Oh, mas não poderia crer quão vilmente agiu”. Não, e me atrevo a dizer que dificilmente o creria se escutasse quão vil tem sido você com o Senhor; de qualquer maneira, deveriam encher-se de lágrimas nossos olhos quando pensamos em como temos entristecido nosso Deus e como temos envergonhado Seu Espírito. Alguns de nós receberam um perdão tão manifesto e lhes foram perdoados tantos pecados visíveis, que perdoar deveria ser tão natural como abrir as mãos. Depois de tanto perdão como o que o Senhor nos outorgou, seríamos servos maus, em verdade, se fossemos agarrar nosso irmão pela garganta para lhe dizer: “Pague-me o que deve”. Mereceríamos que nosso irado Senhor nos entregasse aos carrascos se não considerássemos ser um gozo ignorar a falta de um irmão.

 

Se alguém que seja um cristão aqui acha que é difícil perdoar, vou lhe dizer três palavras que lhe ajudarão maravilhosamente. As colocaria dentro da boca do bom homem. Acabo de dá-las para vocês rogando que saboreiem sua doçura. Aqui estão elas novamente! “Em Cristo”. Você não pode perdoar um ofensor sobre essa base? Ah, a garota agiu muito vergonhosamente, e você, seu pai, disse coisas muito duras, mas eu lhe rogo que a perdoe em Cristo. Não pode perdoar por esse motivo? É claro que sua filha se comportou muito mal e que nada fere mais o coração de um pai que a perversa conduta de um filho. Em um acesso de ira, você disse algo muito severo e mandou embora de sua casa para sempre. Eu lhe imploro que engula suas palavras em Cristo. Algumas vezes, quando estive refletindo num caso como esse, a pessoa a quem eu estava persuadindo, disse amavelmente: “Farei isso por você, senhor”. Eu respondi: “Eu agradeço se simplesmente o fizer, mas preferiria que tivesse dito que o faria pelo meu Senhor, pois quão bendito Senhor tem sido para você! Faça isso por Ele”. Eu poderia estar falando muito claramente com alguns de vocês. Espero estar fazendo-o. Se houver alguém entre vocês que entrou num mau estado do coração e disse que nunca perdoaria um filho rebelde, que não volte a dizer isso até que tenha considerado o assunto em Cristo. Não por causa do garoto, não por causa do seu vizinho que lhe ofendeu, nem por nenhuma outra razão lhe exorto à misericórdia, mas por causa de Cristo. Vamos, vocês dois que são amigos e que estão brigados, reúnam-se imediatamente e acabem com seus maus sentimentos por meio de Cristo. Não hão de guardar uma gota de malícia em sua alma, por causa de Cristo. Oh, quão encantadora palavra, como nos derrete e, enquanto se derrete, parece não deixar nenhum rastro atrás de si: em Cristo, nosso amor suporta muito e nunca falha.

 

Eu não sei como expressar isto que vou dizer em seguida. É um paradoxo. Vocês têm que perdoar ou não poderão ser salvos; ao mesmo tempo não o farão obrigados; tem que fazê-lo livremente. Há uma maneira de praticar isto ainda que eu não possa explicar em palavras. Têm que perdoar não por verem-se forçados a fazê-lo, mas porque o fazem de todo o coração. Recordem que não lhes serve de nada pôr seu dinheiro nesta caixa de oferendas antes de sair, a menos que, primeiro, lembrem de perdoar seu irmão. Deus não aceita as oferendas, orações ou louvores de um coração implacável. Ainda que deixe toda a sua riqueza para Sua causa, Ele não aceitará um só centavo se você morrer com um temperamento inflexível. Ainda que dê toda sua riqueza para Sua causa, Ele não aceitará nenhum centavo dela se você morrer com uma disposição a não perdoar. Não há nada da graça ali onde não há nenhuma disposição a relevar as faltas. João diz: “aquele que não ama seu irmão a quem pode ver, como pode amar a Deus que não é visto?” A própria oração que o ensina a pedir misericórdia indica que diga: “perdoai-nos, como nós perdoamos a nossos devedores”. A menos que tenham perdoado a outros, vocês estarão lendo sua própria sentença de morte quando repetem a oração do Senhor.

 

Finalmente, quero dizer a todos vocês que como irmãos e irmãs em Cristo Jesus, se temos que perdoar uns aos outros, deve haver algumas outras coisas que devemos fazer. E a primeira é que não provoquemos uns aos outros a ofender. Se eu sei que alguém não gosta de uma certa coisa, não vou deixá-la em seu caminho. Não diga: “Bem, mas se ele tem mau caráter, eu não posso evitá-lo; não deveria ser propenso a se ofender. Nem sempre poderia estar rendendo deferência a sua absurda sensibilidade”. Não; mas, irmão, seu amigo é muito propenso a ofender-se e você sabe que é; tenha respeito, então, à sua fraqueza de temperamento tal como o teria se tivesse algum efeito sobre seu corpo. Se você tem reumatismo ou gota, seus amigos não vão pisando com firmeza pelo quarto dizendo: “Não deveria lhe importar isso; não deveria senti-lo”. As pessoas de bom coração caminham pela casa com um leve passo por medo de incomodar a pobre extremidade que sofre. Se um homem tem uma mente enferma, e é muito irritável, trate-o com benevolência, apiede-se de sua fraqueza e não o irrite. Um amigo me escreveu uma carta há pouco tempo se queixando seriamente de um irmão que havia estado muito enojado com ele e que havia falado de maneira muito ofensiva com ele enquanto ardia pela paixão. Eu me senti obrigado a ouvir o outro lado da história e me vi forçado a dizer: “Vamos, vocês dois, irmãos, estão de mal um com o outro. Você, meu irmão, se aborreceu; mas você, meu outro irmão, o irritou de tal maneira que não me surpreendeu que ficasse irado. E quando você viu que havia se aborrecido, por que não foi ou não fez algo para acalmá-lo? Não, você ficou atiçando sua ira e logo escreveu para revelar”. Eu culpo a madeira por arder, mas o que direi dos foles? Era ruim que ardesse, mas era bom atiçar o fogo? Frequentemente, quando um homem está aborrecido, pode ser que não seja o único a quem se deve culpar. Portanto, irmãos e irmãs, se temos de perdoar uns aos outros, não provoquemos uns aos outros.

 

Logo, não se ofendam. Muitas vezes um homem está ofendido com outro sem ter nenhuma razão de nenhum tipo. Alguém disse de outra pessoa quando passava junto na rua, “nem sequer me fez uma saudação. É demasiado altivo para me reconhecer porque sou um homem pobre”. Agora, ele não notou que esse amado irmão de quem se queixou não poderia ver algo além da sua mão, pois era míope. Outro foi censurado por não ouvir, mesmo sendo surdo, e outro, por não dar a mão quando seu braço estava paralisado. Não imagine ofensas ali onde não se teve a intenção de ofender.

 

Continuando, não se sinta ofendido mesmo quando houve a intenção de lhe ofender. É algo esplêndido não se sentir ofendido. Nada faz com que um homem se sinta tão pequeno do que quando você aceita o que pretendia ser um insulto como se fosse um elogio e agradece por ele. Você pode se controlar até este ponto? Lembre que quando você conquistar a si mesmo, terá conquistado o mundo. Terá vencido a todos quando tiver vencido tão plenamente seu próprio espírito, que continua estando contente com aquele que naturalmente lhe induziria à ira.

 

Se você há de se sentir ofendido, querido irmão, não aumente uma ofensa. Algumas boas mulheres – estava a ponto de dizer que homens também – quando vêm como fofoqueiras com uma acusação, adicionam muitos adornos e acréscimos. Dão grandes rodeios e trazem inúmeras crenças, sugestões, insinuações e rumores sobre o assunto, até que o ovo de um mosquito se torna tão grande como se tivesse sido posto por uma avestruz. Eu começo com calma a tirar as penas e a pintura, e digo: “Vamos, não vejo o que tem a ver este ponto com o caso, ou que contém este comentário; tudo o que posso ver quando chego a considerar o fato desnudo é isto e isto, e isso não foi muito, não estou certo?” “Oh, mas tinha a intenção de mais”. Não acredite nisso, querido irmão, querida irmã. Se tem de haver algo mau, faça com que seja tão pouco quanto puder. Se você tem um telescópio, olha através da lente grande, e minimize ao invés de aumentar, ou melhor ainda, não o veja de todo. Um olho cego é, frequentemente, o melhor olho que um homem pode ter, e um ouvido surdo é muito melhor que um que escuta demais. “Tampouco, aplique seu coração a todas as coisas que falam, para que não escute o seu servo quando fala mal de você”, diz Salomão. Não escute o que está murmurando. Mantenha distância para não ouvir. Ele lamentará amanhã e, se pensa que você não ouviu, continuará seu serviço e lhe será fiel. O que faria você se seu chefe lhe intimasse por cada palavra, e se captasse cada frase que você dissesse? Como você viveria se ele acertasse as contas com você severamente? Não, queridos amigos, como têm que perdoar o outro, não se ofendam, e quando a ofensa seja infligida, não a exagerem e, se puderem, nem sequer a observem.

 

Logo, não publiquem as ofensas. Foi dito algo muito ofensivo. O que então? Não a repitam. Não vão primeiro a um, e logo a outro dizendo: “Isto é muito confidencial e você tem que guardá-lo como um segredo: Fulano de Tal falou vergonhosamente”. É melhor permitir que seu coração se quebrante que ir de cima a baixo com um tição aceso desta maneira. Se um irmão agiu mal, por que haveria você de atuar mal? Estaria fazendo mal se publica sua falha. Lembre como veio a maldição sobre o filho de Noé por descobrir a nudez de seu pai; e quão melhor é que, quando haja algo mal, todos nós andemos para trás e o cubramos sem sequer olhar, se pudermos evitá-lo. Cubram-no; cubram-no. O amor cobre uma multidão de pecados. O amor não somente cobre um, dois ou três pecados, mas leva consigo um manto que cobre um exército inteiro de falhas.

 

Sobretudo, irmãos meus, e com isto concluo, nunca, de nenhuma maneira, direta ou indiretamente, vinguem-se. Por qualquer falta que seja cometida contra vocês, o Mestre diz: “não resistais ao que é mau”. Em todas as coisas, dobrem-se, inclinem-se, cedam, submetam-se. “Se você pisar um verme, ele se virará contra você”, diz alguém. E teu exemplo é um verme? Cristo será o meu. É uma coisa chocante quando um varão cristão esquece do seu Senhor para encontrar uma desculpa para si mesmo entre as pobres criaturas que estão sobre seus pés. Mas se tem que ser assim, que faz um verme quando se defende? Quando se pisa um verme, morde? O verme causa dano a alguém? Ah, não. Se contraiu, mas se contraiu em sua agonia e se contorceu diante de você, isso é tudo. Você pode fazer isso se tem que fazê-lo. Irmão, a mais esplêndida vingança que você pode executar é fazer bem aos que lhe fazem mal e falar bem daqueles que falam mal de você. Se envergonharão ao lhe olhar; nunca voltarão a lhe causar dano se virem que você não pode ser provocado exceto a um maior amor e a uma maior benevolência. Esta deveria ser a marca dos cristãos; não deveria ser: “eu vou ser a lei para ti”, ou “eu vou me vingar”, mas “vou resistir e me conter até o fim”. “Minha é a vingança, eu pagarei, diz o Senhor”. Não tome em suas mãos o que Deus disse que pertence a Ele, mas assim como Ele lhe perdoou em Cristo, assim perdoe também você a todos aqueles que lhe fazem mal. “Quantas vezes hei de fazer isso?”, pergunta alguém. “A mim não importaria fazê-lo três ou quatro vezes”. Houve alguém na antiguidade que estava disposto a chegar até seis ou sete vezes, mas Jesus Cristo disse: “até setenta vezes sete”. Esse é um número muito considerável. Você pode contar para ver se chegou a essa quantidade, e se o fez, estará alegre de começar de novo perdoando ainda assim como Deus lhe perdoou em Cristo. Que Deus nos ajude a sermos pacientes até o fim. Ainda que não tenha pregado agora a Cristo Jesus como o objeto da confiança do pecador, apesar disso, lembrem que Ele tem também que ser o objeto de nossa imitação. Este é o tipo de doutrina que Cristo mesmo pregava, e, portanto, como Ele pregava continuamente este amor a nosso próximo e o perdão de nossos inimigos, deveríamos pregá-los e praticá-los. Vão e creiam Nele, e sejam imitadores Dele, recordando que Ele perdoou seus assassinos na cruz onde levou a cabo nossa redenção. Que Seu Espírito repouse em vocês para sempre. Amém.

 

Porção da Escritura lida antes do sermão: Efésios 4.

 

 

 

 

 

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.

 

 

FONTE:

Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon1448.html

 

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público

Sermão nº 1448  Metropolitan Tabernacle Pulpit,

Titulo Original: el perdon obtido con facilidad

 

Tradução: Ana Rachel Gondim

Revisão: Cibele Cardozo

Capa: Armando Marcos

 

Projeto Castelo Forte

www.projetocasteloforte.com.br

 

 

Você tem permissão de livre uso desse material, e é incentivado a distribuí-lo, desde que sem alteração do conteúdo, em parte ou em todo, em qualquer formato: em blogs e sites, ou distribuidores, pede-se somente que cite o site “Projeto Castelo Forte” como fonte, bem como o link do site www.projetocasteloforte.com.br. Caso você tenha encontrado esse arquivo em sites de downloads de livros, não se preocupe se é legal ou ilegal, nosso material é para livre uso para divulgação de Cristo e do Evangelho, por qualquer meio adquirido, exceto por venda. É vedada a venda desse material

 

SAIBA MAIS SOBRE C.H.SPURGEON EM:

Projeto Spurgeon – Proclamando a CRISTO crucificado.

www.projetospurgeon.com.br