Esboços da História da Igreja – CAPÍTULO 3: JUSTINO MÁRTIR (século II)

Esboços da Historia da Igreja

J.C.Robertson

CAPÍTULO III: JUSTINO MÁRTIR (século II)

Embora Trajano não tenha sido amigo do Evangelho, e tenha matado Inácio, promulgou uma lei que deve ter sido um grande alívio para os cristãos. Até então, eles podiam ser perseguidos e qualquer um poderia informar algo contra eles. Mas Trajano ordenou que não fossem procurados, embora, se fossem descobertos e recusassem desistir de sua fé, deveriam ser punidos. O próximo imperador, cujo nome era Adriano (117-138 d.C.) fez algo para melhorar a condição deles; mas ainda era uma época perigosa. Não obstante as novas leis, qualquer governador de um país que não gostasse dos cristãos, tinha o poder de persegui-los cruelmente. E as pessoas comuns entre os pagãos ainda acreditavam nas horríveis histórias de matar crianças e comer carne humana. Se houvesse uma fome ou uma praga, se o rio Tibre, que atravessa Roma, subisse acima do habitual e fizesse danos aos edifícios vizinhos, ou se os exércitos do imperador fossem derrotados na guerra, a culpa de tudo isso era colocada sobre os cristãos. Dizia-se que todas essas coisas eram julgamentos dos deuses, que estavam bravos porque os cristãos tinham permissão para viver. E nos jogos públicos, como aqueles em que Inácio foi morto, o povo gritava: “Lancem os cristãos aos leões! Fora os ímpios ateus! “Pois, como os cristãos eram obrigados a manter sua adoração secretamente, e não tinham imagens como as dos deuses pagãos, e não ofereciam sacrifícios de animais, como faziam os pagãos, pensava-se que eles não tinham Deus, já que os pagãos não poderiam pensar em um Deus que é espírito e que não deve ser adorado sob nenhuma forma corporal. Foi, portanto, um grande alívio, quando o Imperador Antonino Pio (138 a 161 DC), que era um homem amável e gentil, ordenou que governadores e magistrados não deixassem se levar por tais clamores e que os cristãos não deveriam mais ser punidos apenas por sua religião, a menos que eles tivessem sido encontrados realizando algum crime.

Havia naquele momento muitos homens cultos na Igreja, e alguns deles começaram a escrever livros em defesa da fé. Um deles, Atenágoras, tinha empreendido esforços, enquanto era pagão, para mostrar que o Evangelho era um engano; mas quando atentou para o assunto mais cuidadosamente, descobriu que era muito diferente do que ele imaginara. Ele então converteu-se, e, em vez de escrever contra o Evangelho, escreveu a seu favor.

Outro desses homens cultos foi Justino, que nasceu em Samaria e foi instruído em toda a sabedoria dos gregos; pois os gregos, como foram deixados sem a luz que Deus havia dado aos judeus, começaram a procurar a sabedoria de várias maneiras. E, como eles não tinham nenhuma verdade certa do céu para orientá-los, foram divididos em vários grupos diferentes, como os epicúreos e os estóicos, que disputavam com Paulo em Atenas (Atos 17. 18). Todos esses se chamavam filósofos (que significa “amantes da sabedoria”); e cada um deles pensava ser mais sábio do que todo o resto. Justino, então, tendo um forte desejo de conhecer a verdade, tentou todos os tipos de filosofia, mas não encontrou repouso para o seu espírito em nenhuma delas.

Um dia, enquanto andava pensativamente, observou um homem idoso de aparência grave e mansa, que o acompanhava de perto, e finalmente conversou com ele. O idoso disse a Justino que não era útil procurar a sabedoria nos livros dos filósofos, e começou a falar de Deus, o criador de todas as coisas, das profecias que Ele havia dado aos homens na época do Antigo Testamento, e como elas foram cumpridas na vida e morte do abençoado Jesus. Assim, Justino conheceu o Evangelho; e quanto mais ele conhecia sobre o assunto, mais foi convencido de sua verdade, e veio a conhecer quão puras e santas suas doutrinas e suas regras eram, e viu o amor que os cristãos tinham uns com os outros e a paciência e firmeza com que aguentavam os sofrimentos e a morte pelo amor de seu Mestre. E agora, embora ele ainda se chamasse filósofo e usasse o longo manto que era o vestido comum dos filósofos, a sabedoria que ele ensinava não era sabedoria pagã, mas cristã. Ele morou a maior parte de sua vida em Roma, onde estudiosos se reuniam com ele em grande número. E ele escreveu vários livros em defesa do Evangelho contra pagãos, judeus, hereges e falsos cristãos.

O velho Imperador Antonino Pio, sob o qual os cristãos tinham permissão para viver em paz e segurança, morreu no ano 161 e foi sucedido por Marco Aurélio Antonino, que havia sido adotado como seu filho. Marco Aurélio não foi apenas um dos melhores imperadores, mas, em muitos aspectos, era um dos melhores pagãos. Ele tinha um grande caráter de gentileza, bondade e justiça, e gostava de livros, de ter filósofos e homens cultos com ele. Mas, infelizmente, essas pessoas lhe deram uma noção muito ruim sobre o cristianismo e, como ele não sabia mais do que o que eles lhe disseram, desprezou fortemente os cristãos. E assim, embora fosse justo e gentil em outros assuntos, os cristãos sofreram mais sob o seu reinado do que nunca. Todos os infortúnios que ocorreram, como rebeliões, derrotas na guerra, peste e a escassez eram considerados culpa dos cristãos. O próprio imperador parece ter pensado que a culpa era deles, ao fazer novas leis contra eles.

O sucesso que Justino tinha como professor em Roma trouxe a inveja e a malícia dos filósofos pagãos; e, quando essas novas leis contra os cristãos surgiram, Crescente, um filósofo da corrente dos “Cínicos”, ou “cachorros” (por causa de seus grunhidos e mal-humor), disse que Justino deveria ser levado perante um juiz, sob a acusação de ser cristão. O juiz questionou-o quanto à sua crença e quanto às reuniões dos cristãos; Justino respondeu que acreditava em um só Deus e no Salvador Cristo, o Filho de Deus, mas recusava dizer qualquer coisa que pudesse trair seus irmãos. O juiz então o ameaçou de flagelação e morte, mas Justino respondeu que os sofrimentos deste mundo não eram nada em comparação à glória que Cristo havia prometido ao Seu povo no mundo vindouro. Então, ele e os outros que foram levados para julgamento foram questionados se ofereceriam sacrifício aos deuses dos pagãos, e como se recusaram a fazer isso e não abandonaram sua fé, foram decapitados (166 dC). Pela forma de morte que sofreu por causa do Evangelho, Justino sempre foi especialmente chamado de “O mártir”.

FONTE: https://www.ccel.org/ccel/robertson/history.html 

TRADUÇÃO: Douglas Moura

revisão: Cibele Cardoso

edição: Armando Marcos