Arrependimento – J.C.Ryle

ARREPENDIMENTO

Sermão escrito por

J.C.Ryle

E publicado no livro “Caminhos Antigos” em 1878

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“Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.” – Lc. 13.3.[1]

O texto que inicia esta página, à primeira vista, parece severo e grave: “Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” Eu posso imaginar alguém dizendo: “Isto é o Evangelho?” “São estas as boas novas? São estas as boas notícias de que os ministros falam”? “Duro é este discurso; quem o pode ouvir”? (João 6.60.[2])

Mas de quais lábios vêm essas palavras? Elas vieram dos lábios de Alguém que nos ama com um amor que excede todo entendimento, o próprio Jesus Cristo, o Filho de Deus. Elas foram ditas por Aquele que tanto nos amou que deixou o céu por nossa causa, desceu à terra por nossa causa, viveu uma vida humilde e pobre por trinta e três anos sobre a terra por nossa causa, foi para a cruz por nós, foi para a sepultura por nós e morreu pelos nossos pecados. As palavras que vêm de lábios como estes, certamente devem ser palavras de amor.

E, afinal, que maior prova de amor pode ser dada do que avisar um amigo acerca de um perigo iminente? O pai que vê seu filho cambaleante em direção à beira de um precipício e, conforme o vê, grita bruscamente, “Pare, pare!”, este pai não ama a seu filho? A mãe carinhosa que vê seu filho a ponto de comer uma fruta venenosa e grita bruscamente, “Pare, pare! Largue isso!”, essa mãe não ama essa criança? É a indiferença que deixa as pessoas em paz e permite-lhes continuar a caminhar à sua própria maneira. É o amor, amor carinhoso, que adverte e levanta o grito de alarme. O grito de “Fogo, fogo!” à meia-noite às vezes pode assustar um homem e acordá-lo de seu sono de maneira rude, dura e desagradável. Mas quem iria reclamar se aquele grito fosse o meio de salvar sua vida? As palavras, “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis“, podem parecer, à primeira vista, severas e graves. Mas são palavras de amor e podem ser o meio de livrar almas preciosas do inferno.

Há três coisas para as quais peço atenção ao considerar este texto da Escritura.

  1. Em primeiro lugar, vou falar da natureza do arrependimento: Qual é essa natureza?
  2. Em segundo lugar, vou falar da necessidade de arrependimento: Porque o arrependimento é necessário?
  • Em terceiro lugar, vou falar dos incentivos ao arrependimento: O que existe para levar os homens ao arrependimento?
  1. Em primeiro lugar, o que é arrependimento?

Certifiquemo-nos de que iremos firmar nossos pés sobre este ponto. A importância da investigação não pode ser superestimada. O arrependimento é uma das pedras angulares do Cristianismo. Sessenta vezes, pelo menos, encontramos o arrependimento sendo mencionado no Novo Testamento. Qual foi a primeira doutrina que nosso Senhor Jesus Cristo pregou? Somos informados de que Ele disse: “Arrependei-vos, e crede no Evangelho“. (Marcos 1.15.) – O que os Apóstolos proclamaram quando o Senhor os enviou pela primeira vez? Eles “pregaram ao povo que se arrependesse”. (Marcos 6.12.) – Qual foi a responsabilidade que Jesus deu aos discípulos ao deixar o mundo? Que “em Seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações”. (Lucas 24.47.) Qual foi o apelo final dos primeiros sermões de Pedro? “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo”. “Arrependei-vos, e convertei-vos”. (Atos 2.38; 3.19.) – Qual foi o resumo da doutrina que Paulo deu aos anciãos de Éfeso quando se separou deles? Ele disse-lhes que lhes havia ensinado publicamente e de casa em casa, “testificando, tanto a judeus como a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.” (Atos 20.21.) – Qual foi a descrição que Paulo fez de seu próprio ministério quando fez sua defesa[3] perante Festo e Agripa? Disse-lhes que havia mostrado a todos os homens que eles deveriam “arrepender-se, fazendo obras dignas de arrependimento.” (Atos 26.20.) – Qual foi a explicação dada pelos crentes em Jerusalém a respeito da conversão dos gentios? Quando eles ouviram isso, disseram: “pois, Deus concedeu também aos gentios arrependimento para a vida.” (Atos 11.18.) – Qual é uma das primeiras condições que a Igreja da Inglaterra exige de todos que vêm à mesa do Senhor? Devem “examinar se verdadeiramente se arrependem de seus antigos pecados.” Nenhuma pessoa impenitente, de acordo com a Igreja da Inglaterra, deve jamais vir à mesa do Senhor. De fato, todos temos de concordar que estas são considerações sérias. Elas devem mostrar a importância da investigação que estou fazendo agora. Um erro sobre o arrependimento é um erro muito perigoso. Um erro sobre o arrependimento é um erro que reside nas próprias raízes de nossa religião. O que, então, é o arrependimento? Quando é que pode ser dito de qualquer homem que ele está arrependido?

 

O arrependimento é uma mudança completa no coração natural do homem sobre o assunto do pecado. Todos nós nascemos em pecado. Nós, naturalmente, amamos o pecado. Temos o hábito de pecar desde o minuto em que nos tornamos capazes de agir e pensar, da mesma forma como o pássaro está habituado a voar e os peixes, a nadar. Nunca houve uma criança que precisou de ensino ou instrução a fim de que aprendesse o engano, a sensualidade, a paixão, o egoísmo, a glutonaria, o orgulho e a tolice. Essas coisas não são adquiridas devido às más companhias ou gradualmente aprendidas em um longo curso de instrução cansativa. Elas surgem de si mesmas, mesmo quando meninos e meninas são criados sozinhos. Suas sementes são, evidentemente, produto natural de seus corações. A aptidão de todas as crianças para estas coisas é uma prova incontestável da corrupção e da queda do homem. Agora, quando esse nosso coração é transformado pelo Espírito Santo, quando esse amor natural pelo pecado é lançado fora, então acontece aquela mudança que a Palavra de Deus chama de “arrependimento.” É dito ao homem em quem a mudança é operada: “se arrependa.” Ele pode ser chamado, em uma palavra, um homem “penitente”.

 

Mas não me atrevo a deixar o assunto neste ponto. Ele merece uma investigação detalhada e intensa. Quando doutrinas deste tipo são abordadas, não é seguro trabalhar com declarações gerais. Eu vou tentar destrinchar o tema “arrependimento”, dissecá-lo e analisá-lo diante de seus olhos. Vou mostrar-lhe de que matéria e partes o arrependimento é feito. Vou me esforçar a fim de definir algo acerca da experiência de cada homem verdadeiramente penitente.

 

  • O verdadeiro arrependimento começa com o conhecimento do pecado. Os olhos do homem penitente estão abertos. Ele vê com espanto e confusão o comprimento e largura da santa lei de Deus, e a medida – a enorme medida – de suas próprias transgressões. Ele descobre, para sua surpresa, que, julgando-se um “bom homem” e alguém de “bom coração”, ele tem estado sob uma enorme ilusão. Ele descobre que, na realidade, ele é iníquo, culpado, corrupto e mau aos olhos de Deus. Seu orgulho é destruído. Seus elevados pensamentos se derretem. Ele vê que não é nem mais nem menos do que um grande pecador. Este é o primeiro passo para o verdadeiro arrependimento.
  • O verdadeiro arrependimento segue e gera tristeza pelo pecado. O coração de um homem penitente é tocado com profundo remorso devido a suas transgressões anteriores. Ele é atingido no peito ao pensar que viveu tão louca e perversamente. Ele lamenta pelo tempo desperdiçado, pelos talentos mal-empregados, por Deus ter sido desonrado e pela sua própria alma ter sido ferida. A lembrança dessas coisas é algo doloroso para ele. O peso dessas coisas por vezes é quase intolerável. Quando um homem se entristece de tal maneira, você encontra o segundo passo para o verdadeiro arrependimento.
  • O arrependimento verdadeiro vai mais longe e produz em um homem a confissão do pecado. A língua de um homem penitente é desatada. Ele sente que deve falar com aquele Deus contra quem pecou. Algo em seu interior diz que ele deve clamar a Deus, orar a Deus e falar com Deus a respeito de estado de sua própria alma. Ele deve derramar o seu coração, e reconhecer as suas iniquidades, junto ao trono da graça. Elas são um fardo pesado dentro dele, que não pode mais manter-se calado. Ele não consegue reter coisa alguma. Ele não esconderá nada. Ele fica diante de Deus, sem pedir nada para si mesmo, e desejando dizer: “Eu pequei contra os céus e contra ti; minha iniquidade é grande. Deus tenha misericórdia de mim, um pecador!” Quando um homem fica de tal maneira em confissão diante de Deus, temos o terceiro passo do verdadeiro arrependimento.
  • O verdadeiro arrependimento, além disso, mostra-se para o mundo como um completo rompimento com o pecado. A vida de um homem penitente é alterada. O curso de sua conduta diária é totalmente transformado. Um novo Rei reina dentro do seu coração. Ele expulsa o velho homem. O que Deus ordena é o que ele agora deseja praticar; e o que Deus proíbe, ele, agora, deseja evitar. Ele esforça-se de todas as formas para se manter afastado do pecado, para lutar contra o pecado, lutar com o pecado e obter a vitória sobre ele. Ele deixa de fazer o mal. E aprende a fazer o bem. Ele interrompe bruscamente os maus hábitos e as más companhias. Ele trabalha, ainda que debilmente, para viver uma nova vida. Quando um homem faz isso, temos a quarta etapa no verdadeiro arrependimento.
  • O verdadeiro arrependimento, em último lugar, mostra-se ao produzir no coração um hábito estabelecido de ódio profundo por todos os pecados. A mente de um homem penitente torna-se uma mente regularmente santa. Ele abomina o que é mau, e se une àquilo que é bom. Ele tem prazer na lei de Deus. Ele, não raramente, abandona seus próprios desejos. Ele encontra em si mesmo um princípio mal lutando contra o espírito de Deus. Ele encontra-se frio quando desejava estar quente, conservador quando desejava ser moderno, rígido quando queria ser animado no serviço de Deus. Ele está profundamente consciente de suas próprias debilidades. Ele geme sob um senso de ­ corrupção interna. Mas ainda assim, a inclinação geral de seu coração é em direção a Deus e para longe do mal. Ele pode dizer como Davi: “eu conto todos os teus preceitos acerca de tudo, como certos, e eu odeio todo caminho de falsidade.” (Sl. 119.128.) Quando um homem pode dizer isso, temos a quinta etapa (ou etapa do coroamento) no verdadeiro arrependimento.

Mas então a imagem de arrependimento está completa? Posso deixar o assunto aqui e seguir em frente? Não posso fazer isso. Ainda resta algo que nunca deverá ser esquecido. Se eu não falar alguma coisa, eu poderia entristecer corações que Deus não teria entristecido, e levantar barreiras aparentes entre as almas dos homens e o paraíso.

O verdadeiro arrependimento, como acabo de descrever, nunca está sozinho no coração de um homem. Ele sempre tem um companheiro – um companheiro abençoado. Ele está sempre acompanhado por uma fé viva em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Onde quer que exista fé, existe arrependimento; onde quer que exista arrependimento, existe fé. Não cabe a mim decidir qual dos dois vem primeiro: se o arrependimento – se o arrependimento vem antes da fé, ou a fé antes do arrependimento. No entanto, atrevo-me a dizer que as duas graças nunca são encontradas separadas uma da outra. Assim como você não pode ter o sol sem luz, ou gelo sem frio, ou fogo sem calor, ou água sem umidade – da mesma forma, você nunca encontrará a verdadeira fé sem verdadeiro arrependimento, e você nunca encontrará o verdadeiro arrependimento sem uma fé viva. As duas coisas sempre andam lado a lado.

E agora, antes de prosseguirmos, sondemos e examinemos nossos próprios corações e vejamos o que conhecemos sobre o verdadeiro arrependimento. Eu não afirmo que a experiência de todas as pessoas penitentes coincide de maneira exata, precisa e minuciosa. Eu não digo que um homem já conhece o pecado, ou lamenta pelo pecado, ou confessa o pecado, ou abandona o pecado, ou odeia o pecado de modo perfeito, completo e minucioso como deveria. Mas isso eu digo, que todos os verdadeiros cristãos reconhecerão algo que conhecem e já sentiram a partir das coisas que tenho dito. O arrependimento, tal como descrevi, será a experiência de todo verdadeiro crente. Sonde, então, e veja o que conhece sobre ele em sua própria alma.

Cuide para que não se engane sobre a natureza do verdadeiro arrependimento. O diabo sabe muito bem o valor dessa preciosa graça para não vestir imitações espúrias dela. Onde quer que haja boa moeda sempre haverá dinheiro ruim. Onde quer que haja uma graça valiosa, o diabo colocará em circulação falsificações e imitações dessa graça, e tentará passá-las adiante às almas dos homens, a fim de livrar-se delas. Certifique-se de que você não está enganado.

  • Acautelai-vos, de modo que o seu arrependimento seja algo íntimo. Não se trada de uma expressão séria, ou um semblante hipócrita, ou uma rodada de austeridades impostas a si mesmo, – não é isso que torna verdadeiro o arrependimento para com Deus. A verdadeira graça é algo muito mais profundo do que uma mera questão de rosto e roupas, dias e formas. Acabe pôde vestir panos de saco quando foi necessário, no entanto ele nunca se arrependeu.
  • Cuidem para que seu arrependimento seja um arrependimento em que você se volta para Deus. Os católicos romanos podem correr para os sacerdotes e confessionários quando estão com medo. Felix tremeu quando ouviu a pregação do Apóstolo Paulo. Mas tudo isso não é verdadeiro arrependimento. Observe se seu arrependimento o leva para Deus e o faz correr para Ele como seu melhor Amigo.
  • Cuide para que o seu arrependimento seja um arrependimento com a presença de um profundo abandono do pecado. Pessoas sentimentais podem chorar quando ouvem sermões comoventes aos domingos, mas ainda podem retornar para o baile, o teatro e a ópera na semana seguinte. Herodes gostava de ouvir João Batista pregar. Ouvia com prazer “e fez muitas coisas.” Todavia, os sentimentos na religião são piores do que inúteis, a menos que estejam acompanhados da prática. A mera comoção sentimental, sem total abandono do pecado, não é o arrependimento que Deus aprova. (Marcos 6.20.)

(D) Acautelai-vos, acima de todas as coisas a fim de que o seu arrependimento seja estreitamente ligado com a fé no Senhor Jesus Cristo. Garanta que suas convicções sejam convicções que nunca descansam, a não ser ao pé da cruz sobre a qual Jesus Cristo morreu. Judas Iscariotes poderia dizer: “eu pequei”, mas Judas nunca se voltou para Jesus. Judas nunca olhou pela fé a Jesus, e, portanto, morreu em seus pecados. Dê-me aquela convicção do pecado que faz um homem fugir para Cristo, e lamentar, visto que, por causa de seus pecados, ele perfurou o Senhor que o comprou. Dê-me essa contrição de alma em que um homem fica bastante sensível a Cristo, e lamenta ao pensar no despeito que teve para com tão gracioso Salvador. Ir para o Sinai, ouvir sobre os dez mandamentos, olhar para o inferno, pensar acerca dos terrores da condenação – tudo isso pode alarmar as pessoas, e tem sua utilidade. Porém, nenhum arrependimento jamais dura se um homem não olhar mais para o Calvário do que para o Sinai, e vir no sangue de Jesus a maior razão para a contrição. Tal arrependimento vem do céu. Tal arrependimento é plantado no coração de um homem por Deus, o Espírito Santo.

  1. Passo agora ao segundo ponto que propus abordar. Considerarei a necessidade de arrependimento. Por que o arrependimento é necessário?

 

O texto que está no topo deste texto mostra claramente a necessidade do arrependimento. – As palavras de nosso Senhor Jesus Cristo são distintas, explícitas e enfáticas: “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis“. Todos, todos, sem exceção, necessitam de arrependimento diante de Deus. Ele não só é necessário para ladrões, assassinos, alcoólatras, adúlteros, fornicadores e detentos de prisões e cadeias. Não: todos nascidos da descendência de Adão – todos, sem exceção, necessitam de arrependimento diante de Deus. A rainha no alto de seu trono e o mendigo no abrigo, o homem rico na sua sala de estar, a serva na cozinha, o professor de ciências na Universidade, o menino pobre ignorante que trabalha no arado: todos, por natureza, precisam de arrependimento. Todos nascem em pecado e todos devem se arrepender e converter, caso queiram ser salvos. Todos devem ter seus corações transformados quanto ao pecado. Todos devem se arrepender, bem como crer no Evangelho. “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” – “Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis“. (Mat. 18.3; Lucas 13.3.)

Mas de onde vem a necessidade de arrependimento? Por que será que essa linguagem tremendamente forte é utilizada ao se referir a essa necessidade? Quais são as razões, quais são as causas, por que o arrependimento é tão necessário?

(a) Por um lado, sem arrependimento não há perdão de pecados. Ao dizer isso, devo proteger-me da má interpretação. Peço encarecidamente que não me entenda mal. As lágrimas de arrependimento não lavam pecado algum. Dizer tal coisa é má fé. Isso é tarefa apenas do sangue de Cristo. Contrição não faz expiação por transgressão. Trata-se de uma teologia miserável afirmar que o faça. Ela é incapaz de fazer algo do tipo. Nosso melhor arrependimento ainda é algo pobre e imperfeito, e precisa acontecer repetidamente. Nossa melhor contrição tem defeitos suficientes para ser capaz de afundar-nos no inferno. – “Somos considerados justos diante de Deus somente por causa do nosso Senhor Jesus Cristo, pela fé, e não por nossas próprias obras ou merecimentos”: não por nosso arrependimento, nossa santidade, esmola, pela recepção dos sacramentos, ou qualquer coisa semelhante. Tudo isso é perfeitamente verdadeiro. Mas ainda não é menos verdade que as pessoas justificadas são sempre pessoas penitentes, e que um pecador perdoado será sempre um homem que lamenta e tem repúdio por seus pecados. Deus em Cristo está disposto a receber o homem rebelde e a lhe dar paz, bastando que ele venha até Ele em nome de Cristo, não importa o quão mau ele possa ter sido. Mas Deus requer e, com razão, que o rebelde baixe a guarda e se livre de suas armas. O Senhor Jesus Cristo está pronto para compadecer-se, perdoar, aliviar, limpar, lavar, santificar e preparar para o céu. Mas o Senhor Jesus Cristo deseja ver um homem odiar os pecados que deseja que sejam perdoados. Deixe que alguns homens chamem isso de “legalismo”, se quiserem. Deixe alguns chamarem de “servidão”, se for de seu agrado. Eu tomo minha posição sobre a Escritura. O testemunho da Palavra de Deus é claro e inequívoco. Pessoas justificadas são sempre pessoas penitentes. Sem arrependimento não há remissão de pecados.

  • Por outro lado, sem arrependimento não há nenhuma felicidade em nossa vida. Pode haver alto astral, emoção, riso e alegria, desde que a saúde esteja boa e que o dinheiro esteja no bolso. Mas estas coisas não são uma felicidade sólida. Há uma consciência em todos os homens, e esta consciência deve ser satisfeita. Enquanto a consciência não sentir que aquele pecado provocou arrependimento e que foi abandonado, ela não descansará e não deixará ninguém se sentir confortável por dentro. Todos nós temos um homem que o mundo não conhece, – um homem interior que nossos amigos e companheiros desconhece. Esse homem interior tem uma carga sobre ele, uma vez que o pecado não causou arrependimento; e até que essa carga seja retirada, esse homem interior não terá nenhum conforto real. Eu e você podemos estar confortáveis quando não estamos na posição correta? É impossível. E o que é uma verdadeira posição de um homem? Ele nunca está em sua posição correta até que tenha virado as costas para o pecado e seu rosto em direção a Deus. A casa de um homem nunca é confortável até que todas as coisas estejam em ordem. E quando a casa do homem interior está em ordem? Nunca, até que Deus seja o rei, e o mundo tenha sido colocado em segundo plano; nunca, até que Deus esteja sobre o trono, e o pecado esteja banido e colocado para fora. Você pode esperar que o sistema solar continue bem sem o sol, como também esperar que seu coração esteja confortável quando Deus não está no Seu posto. A grande conta com Deus deve ser acertada. O Rei deve estar no Seu trono. Então, e somente então, haverá paz interior. Sem arrependimento, não pode haver verdadeira felicidade. Devemos nos arrepender caso queiramos ser felizes.
  • Além disso, sem arrependimento não pode haver adequação para o céu no mundo que ainda está por vir. O céu é um lugar preparado, e os que vão para o céu devem ser um povo preparado. Nossos corações devem estar em sintonia para os trabalhos do céu, ou então o próprio céu seria uma miserável morada. Nossas mentes devem estar em harmonia com as dos habitantes do céu, ou então a sociedade do céu logo se tornaria intolerável para nós. De bom grado eu ajudaria todos a cujas mãos este texto poderá chegar a entrar no céu. Mas nunca o deixaria ignorante do fato de que, se você fosse até lá com um coração impenitente, o céu não seria céu para sua alma. O que você poderia fazer no céu caso chegasse lá com um coração apaixonado pelo pecado? Dentre todos os santos, com quais você conversaria? Ao lado de quem se sentaria?
    Certamente os anjos de Deus não fariam nenhuma doce música para o coração daquele que não pode suportar os santos na terra e que nunca louvaram o Cordeiro por seu amor redentivo! Certamente a companhia de patriarcas, apóstolos e profetas não seria motivo de nenhuma alegria para aquele homem que não deseja ler sua Bíblia agora e que não se interessa em saber o que apóstolos e profetas escreveram. Ah, não! Não! Não pode haver felicidade no céu se chegarmos lá com um coração impenitente. O peixe não é feliz quando está fora da água. O pássaro não é feliz quando está confinado em uma gaiola. E por quê? Eles estão todos fora de seu elemento adequado e de sua posição natural. E o homem, o homem que não se converteu e que é impenitente não seria feliz caso fosse para o céu sem uma mudança de coração provocada pelo Espírito Santo. Ele seria uma criatura fora de seu elemento adequado. Ele não teria faculdade nenhuma que lhe permitissem desfrutar de sua santa morada. Sem um coração penitente não há “condições para a herança dos santos na luz.” Devemos nos arrepender, caso queiramos ir para o céu. (Colossenses 1.12.)
  • Peço-lhe, pelas misericórdias de Deus, que pense sobre o que estou falando, e pondere bem. Você vive em um mundo de traição, imposição e engano. Não se deixe enganar sobre a necessidade de arrependimento. Ah, que os cristãos professos vejam, saibam e sintam mais a necessidade absoluta do verdadeiro arrependimento diante de Deus! Existem muitas coisas que não são necessárias. Riquezas não são necessárias. A saúde não é necessária. Roupas refinadas não são necessárias. Amigos nobres não são necessários. A favor do mundo não é necessário. Presentes e erudição não são necessários. Milhões de pessoas já chegaram ao céu sem essas coisas. Milhares estão chegando ao paraíso todos os anos sem tais coisas. Mas ninguém nunca chegou ao céu sem “o arrependimento diante de Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.”

Não permita jamais que alguém o convença de que qualquer religião merece ser chamada de Evangelho se nela o arrependimento não ocupar o lugar mais proeminente. Um Evangelho, de fato! Um Evangelho em que o arrependimento não é o centro não é o evangelho. – Um Evangelho! É o Evangelho do homem, mas não o de Deus. – Um Evangelho! Ele vem da terra, mas não do céu. – Um Evangelho! Não é o Evangelho de maneira nenhuma; não passa de um fétido antinominismo[4]. Enquanto você abraçar seus pecados, unir-se a eles e os mantiver, poderá falar o que quiser sobre o Evangelho, mas seus pecados não estarão perdoados. Você poderá chamar isso de legalidade, se quiser. Você poderá dizer, caso queira, que “espera que fique tudo bem no final; Deus é misericordioso; Deus é amor; Cristo morreu. Espero que vá para o céu ao fim de tudo.” Não, eu lhe digo, não está tudo bem. Nunca estará tudo certo, neste caso. Você está pisoteando o sangue da expiação. Você ainda não tem, no momento, nenhuma parte com Cristo. Enquanto você não se arrepender do pecado, o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo não é Evangelho algum para sua alma. Cristo é um Salvador a partir do pecado, e não um Salvador para o homem em do pecado. Se um homem mantiver seus pecados, virá o dia em que o Salvador misericordioso irá dizer-lhe: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”. (Mateus 25.41.)

Não permita que nenhum homem jamais o iluda, dizendo-lhe que é possível ser feliz neste mundo sem arrependimento. Ah, não! Você pode rir e dançar, ir em caravanas aos domingos e contar ótimas piadas e cantar boas músicas, e dizer: “Alegrem-se, meninos, alegrem-se!” e “Há um tempo bom por vir;” – mas tudo isso não é prova alguma de que você está feliz. Enquanto não lutar contra o pecado, você nunca será um homem verdadeiramente feliz. Milhares continuam neste caminho e parecem alegres diante dos olhos dos homens e, ainda assim, em seus corações trazem um sofrimento escondido. Quando estão a sós eles são miseráveis. Quando não estão cercados por jovens alegres, eles estão desanimados. A consciência os faz covardes. Eles não gostam de estar sozinhos. Odeiam o pensamento tranquilo. Eles devem sempre ter alguma emoção nova. A cada ano eles devem ter mais. Assim como um consumidor de ópio precisa de uma dose maior a cada ano que segue em seu vício, o mesmo acontece com o homem que busca a felicidade em qualquer coisa exceto em Deus: a cada ano, precisa de uma emoção maior e, ainda assim, nunca está feliz.

Sim! E o pior de tudo é que quanto mais tempo você continuar sem arrependimento, mais infeliz será seu coração. Quando a velhice se aproximar de você e os cabelos brancos aparecem em sua cabeça, quando for incapaz de ir aonde costumava ir e de encontrar prazer onde já encontrou antes, sua desgraça e miséria vão dominá-lo como um homem armado. Quanto mais impenitente for um homem, mais miserável ele se torna. Você já ouviu falar do grande relógio da Catedral de St. Paul[5] em Londres? Ao meio-dia, no rugido dos negócios, quando carruagens, carroças e ônibus passam pelas ruas, quantos nunca escutam àquela grande batida do relógio, a menos que vivam bem perto dele. Mas quando o trabalho do dia se encerra e o barulho dos negócios termina, quando os homens já foram dormir e o silêncio reina em Londres, então às doze horas, à uma, às duas, às três, às quatro, o som do relógio pode ser ouvido a quilômetros de distância. Doze! – Uma! – Duas! – Três! – Quatro! Como aquele relógio é ouvido por vários insones! Aquele relógio é exatamente como a consciência do homem impenitente. Enquanto ele tem saúde e força, e segue no turbilhão dos negócios, ele não ouve sua consciência. Afoga-se e silencia sua voz, mergulhando no mundo. Ele não permite que o homem interior fale com ele. Mas virá o dia em que a consciência será ouvida, quer goste ou não. O dia virá quando a voz dela soará em seus ouvidos e o atravessará como uma espada. Virá o tempo em que ele terá de se retirar do mundo, deitar-se em seu leito de morte e olhar a morte de frente. E então o relógio da consciência, aquele solene relógio, soará em seu coração, e caso não tenha se arrependido, trará tristeza e miséria à sua alma. Ah, não! Anote isso nas tábuas de seu coração: sem arrependimento não existe nenhuma paz!

Acima de tudo, que ninguém lhe faça sonhar com a possibilidade de alcançar o paraíso sem arrependimento diante de Deus. Todos nós queremos ir para o céu. Um homem seria, com razão, reconhecido como louco, caso dissesse que gostaria de ir para o inferno. Mas nunca se esqueça de que ninguém vai para o céu exceto aqueles a quem o Espírito Santo tem preparado para ele. Eu faço meu protesto solene contra aqueles delírios modernos de que “todos os homens irão para o céu, ao final, que não importa a forma como você vive, que o fato de você ser santo ou profano não importa, que ser ateu ou temente a Deus é tudo a mesma coisa, que todos irão chegar ao céu.” Não consigo encontrar tal ensinamento na Bíblia. Encontro a Bíblia contradizendo-o categoricamente. Não importa o quão enganosamente esta nova ideia possa ser apresentada, e como ela possa ser defendida de forma crível, ela não pode resistir ao teste da Palavra de Deus. Não! Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso. O céu que alguns parecem fantasiar não existe. Os habitantes do céu não são essa multidão mista como muitos tentam acreditar. Eles são todos um só coração e uma só mente. O céu é o lugar para onde o povo de Deus deve ir. No entanto, para aqueles que são impenitentes e incrédulos, e que não virão a Cristo, a Bíblia diz, clara e inequivocamente, que não resta nada além do inferno.

É justo pensar que um homem impenitente não é apropriado para o céu. Ele não poderia ser feliz no céu, se fosse para lá. Lembro-me de ouvir de um clérigo que há muitos anos estava viajando em uma carruagem. Ele sentou-se ao lado do cocheiro, na parte de cima. O cocheiro era um daqueles homens infelizes que imaginam que nada deve ser feito sem xingamentos. Ele estava amaldiçoando, praguejando, blasfemando, tomando o nome de Deus em vão, ao longo de muitos quilômetros. Enquanto dirigia, ensandecido, batendo em seus cavalos, amaldiçoava e xingava novamente. Tais eram os modos do cocheiro. Por fim, o clérigo disse-lhe em voz baixa, “Cocheiro, estou com batante medo por sua causa.

– “Senhor”, disse o cocheiro, “de que deveria ter medo? Tudo está indo bem e provavelmente não ficaremos irritados.

– “Cocheiro”, disse o clérigo mais uma vez. “Estou com bastante medo por sua causa, pois não consigo pensar o que o senhor faria no céu, se fosse para lá. Não haverá nenhuma palavra torpe no céu; não haverá ofensas no céu; não haverá nenhuma paixão no céu; não haverá cavalos para agredir no céu.” “Cocheiro”, disse o ministro mais uma vez, “Eu não consigo imaginar o que o senhor faria no céu”. – “Oh”, disse o cocheiro, “esta é a sua opinião”, e nada mais foi dito. – Anos se passaram. Um dia uma pessoa disse a este mesmo clérigo que um homem doente desejava vê-lo. Ele era um estranho. Ele havia entrado na paróquia, disse ele, porque desejava morrer ali. O clérigo foi vê-lo. Ele entrou em uma sala e encontrou um homem moribundo, cujo rosto ele não conhecia. “Senhor”, disse o moribundo, “não se lembra de mim?” “Não”, disse o clérigo, “não me lembro do senhor.” “Senhor”, disse o homem, “eu me lembro de você. Eu sou o cocheiro para o qual, há muitos anos, o senhor disse: ‘Cocheiro, eu tenho medo por sua causa, porque eu não sei o que o senhor faria se fosse para o céu.’ Senhor, essas palavras permaneceram em mim. Vi que eu não estava apto a morrer. Essas palavras trabalharam, e trabalharam, e trabalharam no meu coração, e eu jamais descansei até que tivesse me arrependido do pecado e fugido para Cristo, e encontrado paz nele e me transformado em um novo homem. E agora,” disse ele, “pela graça de Deus, confio que estou preparado para encontrar o meu Criador e estou apto para a herança dos santos na luz.”

Uma vez mais peço-lhe que se lembre, – sem arrependimento diante de Deus, não pode haver adequação para o céu. Seria doloroso para um homem impenitente levá-lo para lá. Não seria nenhuma misericórdia para com ele. – Ele não seria feliz. Ele não poderia ser feliz. Não poderia haver gozo no céu para um homem que chegou lá sem um coração que odiasse o pecado, e um coração que amasse a Deus. Espero ver muitas maravilhas no último dia. Espero ver alguns à mão direita do Senhor Jesus Cristo, a quem uma vez receei ver sobre a esquerda. Espero ver alguns à mão esquerda os quais julgava serem bons cristãos, e esperava ver à direita. Porém há uma coisa que tenho certeza de que não verei. Não verei à mão direita de Jesus Cristo um único homem impenitente. Verei Abraão ali, que disse: “Eu sou pó e cinza.” Verei Jacó ali, que disse: “Eu não sou digno da menor de todas as tuas misericórdias.” Verei Jó ali, que disse: “Sou indigno.” Verei Davi ali, que disse: “Eu nasci em iniquidade e em pecado me concebeu minha mãe.” Verei Isaías ali, que disse: “Eu sou um homem de lábios impuros.” Verei Paulo ali, que disse: “Eu sou o maior dos pecadores.” (Gênesis 18.27; 32.10; Jó. 40.4; Salmos 51.5; Isaías 6.5; 1 Timóteo 1.15.) Verei o mártir John Bradford lá, que muitas vezes assinou ao final de suas cartas: “O pecador deplorável, o miserável pecador, John Bradford:” esse mesmo John Bradford[6], que disse que sempre que via um homem que seria enforcado, “ali se vai, se não pela graça de Deus, John Bradford.” Eu verei o Arcebispo Usher[7] ali, cujas últimas palavras foram: “Perdoe meus muitos pecados, especialmente os meus pecados de omissão.” Verei Grimshaw[8] ali, cujas últimas palavras foram: “Aqui vai um servo inútil.” No entanto, todos eles serão um só coração, uma só mente, uma experiência. Todos eles terão odiado o pecado. Todos eles terão lamentado pelo pecado. Todos eles terão confessado o pecado. Todos eles terão abandonado o pecado. Todos eles terão se arrependido, bem como acreditado –arrependido-se diante de Deus, assim como acreditado em Jesus Cristo. Todos eles dirão a uma só voz: “Grandes coisas tem feito o Senhor!” Todos eles dirão: “Pela graça de Deus, eu estou onde estou”, assim como “Pela graça de Deus, eu sou o que sou.”

III. Venho agora para a terceira e última coisa sobre a qual prometi falar. Tratarei agora do encorajamento que existe para o arrependimento. O que é que existe para levar um homem ao arrependimento?

Penso ser muito importante dizer algo sobre esse assunto. Sei que muitas dificuldades surgem em nosso caminho quando o assunto do arrependimento é trazido diante de nós. Eu sei o quão lento o homem é para desistir do pecado. Assim como dizer a ele para cortar a mão direita, ou arrancar o olho direito, ou cortar o pé direito, o mesmo é dizer-lhe para abandonar seus pecados de estimação. Conheço a força dos velhos hábitos e das antigas maneiras de se pensar sobre religião. No início, eles são todos como teias de aranha. Por fim, eles são correntes de ferro. Eu conheço o poder do orgulho e como “quem teme o homem cai em armadilhas” – Eu conheço a antipatia que as pessoas têm por aqueles que são vistos como santos, e parecem se importar com religião. Sei que centenas e milhares de pessoas jamais recuariam ao atacar um forte com um redente[9] ou torre Malakhoff[10] por exemplo e, mesmo assim, não suportariam ser ridicularizados e chamados de ridículos por se preocuparem com suas almas.

E eu conheço, também, a malícia de nosso grande inimigo, o diabo. Será que ele irá abandonar seus “prisioneiros por direito” sem qualquer conflito? Nunca. Será que ele vai desistir de sua presa sem lutar? Nunca. Certa vez vi um leão, no Jardim Zoológico, sendo alimentado. Vi sua refeição ser lançada para ele. Vi o cuidador tentar retirar essa refeição. Lembro-me do rugido do leão, de seu salto e de sua luta para segurar sua comida. E eu me lembro do “leão que ruge, que anda em derredor, buscando a quem possa tragar“. (1 Pedro 5.8.) Será que ele vai desistir de algum homem, e deixá-lo se arrepender, sem lutar? Nunca, nunca, nunca! O homem precisa de muitos incentivos para fazê-lo se arrepender.

Mas existem incentivos, grandes, vastos, completos, extensos, e de graça. Há coisas na Palavra de Deus que devem encorajar cada coração, e despertar a todos para o arrependimento sem demora. Eu desejo trazer estas coisas diante dos leitores deste volume. Não deixarei nenhuma alma largar este texto e dizer: “Isso não pode ser feito: é impossível.” Devo desejar que todos possam dizer: “Há esperança: há esperança! Há uma porta aberta. É possível: isso pode ser feito! Pela graça de Deus, um homem pode se arrepender!”

  • Ouça, para começo de conversa, que gracioso salvador é o Senhor Jesus Cristo. Eu coloco-o em primeiro lugar, como o grande argumento para encorajar um homem ao arrependimento. Eu digo a toda alma que está em dúvida: olhe para Cristo, pense em Cristo. Ele é “capaz de salvar ao extremo todo aquele que chegar até Deus por meio dEle.” Ele é ungido como “Príncipe e Salvador, para dar o arrependimento, bem como o perdão dos pecados”. Ele é aquele que “veio buscar e salvar o que estava perdido.” Ele é aquele que disse: “Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento.” Ele é aquele que clama: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” Ele é aquele que prometeu sua palavra real: “O que vem a Mim, de maneira nenhuma o lançarei fora.” E é sobre Ele que está escrito: “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, aos que creem em Seu nome.” Eu respondo a todas as dúvidas, perguntas, dificuldades, objeções e medos com este simples argumento. Eu digo, para todo aquele que quer um encorajamento, que olhe para Cristo, pense em Cristo. Considere Jesus Cristo, o Senhor; e então nunca mais tenham dúvidas acerca do arrependimento. (Hebreus 7.25; Atos 5.31; Lucas 19.10; Marcos 2.17; Mateus 11.28; João 6.37; João 1.12.)
  • Ouça, para começo de conversa, que promessas gloriosas a Palavra de Deus contém. Está escrito: “Todo aquele que confessar e abandonar seus pecados alcançará misericórdia”. Também está escrito: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça.” Também está escrito: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino de Deus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.” Certamente tais promessas são encorajadoras. Novamente eu digo, não duvide mais sobre o arrependimento. (Provérbios 28.13; 1 João 1.9; Mateus 5.3,4,6.)
  • Ouça, ainda, quão graciosas declarações a Palavra de Deus contém: Quando o ímpio se desviar da impiedade que cometeu, e fizer o que é reto e justo, conservará este a sua alma em vida.” – “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás” – “Deus não quer que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” – “Como eu vivo, diz o Senhor, que não tenho prazer na morte do ímpio: Convertei-vos, convertei-vos, por que razão morrereis?” – “Há alegria na presença dos anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.” – (Ezequiel 18.27; Salmos 51.17; 2 Pedro 3.9; Ezequiel 23.11; Lucas 15.10.) Se existem palavras encorajadoras, certamente são estas! Mais uma vez eu digo, não duvide sobre o arrependimento.

 

  • Ouça, ainda, que parábolas maravilhosas nosso Senhor Jesus falou sobre este assunto. Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda com este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo”, como se seu coração estivesse tão cheio de tristeza que ele não poderia mostrá-la o bastante, – “batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador. Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele“. (Lucas 28.10-14.) Ouça, mais uma vez, essa outra parábola maravilhosa, a parábola do filho pródigo. “Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres. Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade. Então ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o manda para os seus campos a guardar porcos.” E ali, alimentando porcos, em sua situação humilde, ele, “caindo em si,” disse: “Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos seus trabalhadores. E, levantando-se, foi para o seu pai. Vinha ele ainda longe”, – marque isso, “quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: trazei depressa a melhor roupa vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se”. (Lucas 15.11-24.) Certamente estes são poderosos incentivos ao arrependimento. Mais uma vez eu digo, não mais duvide do arrependimento.

 

(e) Ouça, por fim, que exemplos maravilhosos existem na Palavra de Deus, da misericórdia e bondade de Deus aos homens penitentes. Leia a história de Davi. Que pecado pode ser maior do que o pecado de Davi? Mas quando Davi virou-se para o Senhor, e disse: “Pequei contra o Senhor“, a resposta veio: “O Senhor perdoou o teu pecado.” – Leia a história de Manassés. Que maldade poderia ter sido maior do que a sua? Ele matou seus próprios filhos. Ele virou as costas ao Deus de seu pai. Ele colocou ídolos no templo. E, no entanto, quando Manassés estava na prisão e humilhou-se, e orou ao Senhor, o Senhor ouviu sua oração, e trouxe-o para fora da prisão. – Leia a história de Pedro. Que apostasia poderia ser maior do que a sua? Ele negou seu Mestre por três vezes com juramento! E ainda, quando Pedro chorou e lamentou seu pecado, havia misericórdia mesmo para Pedro, e Pedro arrependido foi restaurado ao favor de seu Mestre. Leia a história do ladrão arrependido. Que caso poderia ser mais desesperador do que o seu? Ele era um homem morrendo na beira do inferno. No entanto, quando ele disse a Jesus: “Senhor, lembra-te de mim quando vieres no teu reino”, de uma só vez a resposta maravilhosa veio: “Em verdade te digo, hoje tu” (tu mesmo) “estarás comigo no paraíso.” (2 Samuel 12.13; 2 Crônicas 33.1-19; Marcos 16.7; Lucas 23.39-43.)

Que incentivo maior ao arrependimento pode ser imaginado ou concebido? Por que todos esses casos estão registrados para o nosso ensino? Eles são destinados a levar os homens ao arrependimento. Eles são todos amostras do longo sofrimento de Deus, amostras da misericórdia de Deus, amostras da vontade de Deus em receber pecadores arrependidos. Eles são provas do que a graça de Deus pode fazer. Eles são uma nuvem de testemunhas, provando que o arrependimento vale a pena, ­que existe um encorajamento para que o homem se volte para Deus, e que o homem que continuar em seus pecados é totalmente indesculpável. “A bondade de Deus leva-o ao arrependimento.” (Romanos 2.4.)

Lembro-me de ter ouvido a respeito de uma mãe cuja filha havia partido para longe dela, vivendo uma vida em pecado. Durante muito tempo, ninguém saberia dizer onde ela estava. No entanto, essa filha voltou e foi recuperada. Ela tornou-se uma mulher verdadeiramente arrependida. Ensinaram-lhe a chorar por causa do pecado. Ela voltou-se para Cristo e acreditou Nele. As coisas velhas passaram e todas as coisas tornaram-se novas. Um dia, perguntaram à sua mãe o que ela havia feito para trazer sua filha de volta. Que meios ela teria usado? Que passos ela haveria tomado? Sua resposta foi muito marcante. Ela disse: “Eu orei por ela dia e noite.” Mas aquilo não era tudo. Ela continuou e disse: “Eu nunca fui para a cama à noite sem deixar minha porta da frente destrancada. Pensava que se minha filha voltasse alguma noite enquanto eu estivesse na cama, ela nunca poderia dizer que encontrara a porta fechada. Ela nunca poderia dizer que ela fora para a casa de sua mãe e que não teria podido entrar.” E assim aconteceu. Sua filha voltou uma noite, e tentou abrir a porta e a encontrou aberta, e logo entrou, para sair e não pecar nunca mais. Aquela porta aberta foi a salvação de sua alma. Aquela porta aberta é uma bela ilustração do coração de Deus para com os pecadores! A porta da misericórdia está bem aberta. A porta ainda não foi fechada. A porta está sempre sem trancar. O coração de Deus é cheio de amor. O coração de Deus é cheio de compaixão. Quem quer que um homem possa ter sido, e tudo o que um homem possa ter sido, à meia-noite, a qualquer momento, no momento em que ele retorna a Deus, ele encontrará Deus disposto a recebê-lo, pronto para perdoar, e feliz por tê-lo em casa. Tudo está pronto. Quem quiser pode entrar.

E, de todos os milhões que se voltaram para Deus e se arrependeram, quem foi que se arrependeu do arrependimento? Eu respondo com firmeza, ninguém. Milhares se arrependem de sua loucura e incredulidade a cada ano. Milhares lamentam acerca do tempo desperdiçado. Milhares se arrependem de sua embriaguez, de seus jogos de aposta e de sua prostituição, dos juramentos e do ócio; e lamentam pelas oportunidades negligenciadas. Mas ninguém jamais se levantou e declarou ao mundo que se arrependia de seu arrependimento e de ter voltado para Deus. Os passos no caminho estreito da vida estão todos na mesma direção. Você nunca verá no caminho estreito o passo de alguém que voltou porque este caminho estreito não era bom.

Lembro de ter lido a respeito de um evento marcante que ocorreu em um lugar de culto onde um ministro puritano, o Sr. Doolittle, estava pregando, duzentos anos atrás. No momento em que ele estava prestes a começar seu sermão, ele viu um jovem, um estranho, entrando em sua igreja. Ele adivinhou, pelas expressões do jovem, que ele estava preocupado com sua alma e ainda indeciso sobre religião. Ele fez um estudo memorável com ele. Ele tentou uma experiência curiosa, mas Deus abençoou-a a fim de alcançar a alma do jovem. Antes de Mr. Doolittle pregar seu texto, ele virou-se para um antigo cristão que viu em sua igreja. Ele se dirigiu a ele pelo nome, e disse-lhe: “Irmão, você se arrepende de ter servido a Deus?” O velho cristão levantou-se corajosamente diante da congregação e disse: “Senhor, eu tenho servido o Senhor desde a minha juventude e Ele nunca me fez nada que não fosse bom.” – Ele se virou para a esquerda, onde viu outro cristão, e se dirigiu a ele da mesma forma. “Irmão”, disse ele, chamando-o pelo nome, “Você se arrepende de ter servido a Cristo?” Aquele homem também se levantou corajosamente diante da congregação e disse: “Senhor, eu nunca fui verdadeiramente feliz até ter tomado a cruz e começar a servir ao Senhor Jesus Cristo”. Então o Sr. Doolittle virou-se para o jovem e disse: “Jovem, você deseja se arrepender? Jovem, você deseja tomar sua cruz? Jovem, vai deseja começar a servir a Cristo hoje?” Deus enviou poder junto com estas palavras. O jovem levantou-se diante da congregação e disse em tom humilde: “Sim, senhor, eu quero.” Naquele mesmo dia começou a vida eterna na alma daquele jovem. Podemos estar certos que as duas respostas que o Sr. Doolittle obteve naquele dia são a experiência de todos os verdadeiros cristãos. Podemos ter a certeza de que nenhum homem jamais se arrepende por ter-se arrependido. Nenhum homem jamais lamentou por ter servido ao Senhor. Nenhum homem jamais disse no final de seus dias, “eu li minha Bíblia demais, eu pensei muito em Deus, orei demais, eu tenho sido muito cuidadoso com minha alma.” Ah, não! O povo de Deus sempre diria: “Se eu tivesse minha vida novamente, eu andaria muito mais perto de Deus do que jamais fiz. Lamento não ter servido melhor a Deus, mas eu não lamento tê-lo servido. O caminho de Cristo pode ter a sua cruz. Mas é um caminho agradável e um caminho de paz”. Certamente esse fato por si só é revelador. É um fato que supera todo argumento que já utilizei. Certamente o arrependimento vale a pena para o homem. Existem incentivos. O homem impenitente é indesculpável.

E, agora, coloco diante de meus leitores os três pontos que propus no início desta pregação a fim de que os considerem. Mostrei-lhes a natureza do arrependimento para com Deus, a necessidade de arrependimento e os encorajamentos ao arrependimento. Resta apenas concluir esta pregação com algumas palavras afetuosas de prática aplicação para as almas de todos aqueles que a leem.

(1) A minha primeira palavra será uma palavra de advertência. Ofereço um aviso carinhoso a cada alma impenitente em cujas mãos este texto possa chegar. Eu não posso, nem por um momento, supor que todos os que leem estas páginas já se arrependeram verdadeiramente para com Deus e que agora são crentes vivos em Jesus Cristo. Não me atrevo a pensar de tal forma. E não posso pensar assim. E a minha primeira palavra é uma palavra de advertência, – carinhosa e amável advertência, – para todas as pessoas que ainda não se arrependeram e que não estão convertidas que possam estar lendo esta pregação.

Que advertência mais forte eu posso oferecer do que aquela que o meu texto contém? Que palavras posso usar que sejam mais solenes e que sondem corações de maneira mais eficiente do que as palavras de meu Senhor e Mestre: “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis“? Sim! Você que está lendo, e, enquanto lê, sabe que ainda não está em paz com Deus, – você que está hesitante, vagaroso, indeciso quanto à religião, é para você que as palavras deste texto devem vir com poder: “Se, porém, não vos arrependerdes, todos”, até mesmo você, “igualmente perecereis.”

Ah, pense quão terríveis são estas palavras! Quem pode medir a quantidade total do que elas contêm? “Perecereis!” Perecer no corpo, na alma e, miserável e finalmente, no inferno! Não me atrevo nem mesmo a tentar pintar os horrores de tal pensamento. O verme que nunca morre, o fogo que não se apaga, a escuridão das trevas para sempre, a prisão sem qualquer esperança, o abismo sem fim, o lago que arde com fogo e enxofre. Todos, todos estes são apenas emblemas débeis da realidade do inferno. E é para este inferno que todas as pessoas que não se arrependeram estão viajando todos os dias. Sim: vindos de igrejas e capelas, da sala de estar de homens ricos e das pobres cabanas de homens pobres, do meio de conhecimento, da riqueza e da respeitabilidade – todos os que não se arrependeram estão certamente viajando para o inferno. “Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis”.

Pense como é grande o seu perigo! Onde estão os seus pecados, os seus muitos pecados? Você sabe que é um pecador. Você deve estar ciente disso. É inútil fingir que não cometera pecado algum. E onde estão os seus pecados, se você ainda não se arrependeu, nunca se lamentou pelo pecado, nunca confessou seus pecados, nunca fugiu para Cristo, e nunca encontrou perdão através do sangue de Cristo? Oh, tome conta de si mesmo! A cova está abrindo sua boca em sua direção. O diabo está falando a seu respeito: “Esta pessoa será minha.” Tenha cuidado. Lembre-se das palavras do texto: “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis”. Estas não são palavras minhas, mas de Cristo. Não foi dito por mim, mas dito por Cristo. Cristo diz isto: Cristo, o misericordioso; Cristo, o gracioso. “Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis“.

Pense novamente em sua culpa. Sim, eu digo, deliberadamente, pense na sua culpa. Trata-se de culpa quando uma pessoa não se arrepende. Somos responsáveis e cobrados perante Deus pelo arrependimento. É inútil dizer que não somos. O que São Paulo disse aos atenienses? “Deus notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam”. (Atos 17.30.) O que o nosso Senhor disse de Corazim e Betsaida[11]? Por que eram elas tão culpados? Por que a sua posição no inferno era tão intolerável? Porque eles não queriam crer nem se arrepender. É o próprio Filho de Deus quem diz que o homem impenitente que foi chamado ao arrependimento e recusou-se a obedecer ao chamado é mais culpado do que aquele que nunca foi chamado ao arrependimento.

Pense novamente na loucura de permanecer um homem impenitente! Sim, eu digo que é loucura. O mundo ao qual você está apegado já está derretendo sob seus pés. O que o dinheiro irá fazer por você na vida que está por vir? De que seu ouro lhe servirá daqui a cem anos? Quando a sua última hora vier, o que poderá todo o ouro do mundo fazer por você, caso você morrer sem ter se arrependido? Talvez, no momento você viva para o mundo. Você esforça-se bastante e furiosamente para ser bem-sucedido nos negócios. Você percorre céus e mares a fim de adicionar acre a acre, ou acumular ações nos fundos. Você faz tudo o que pode para conseguir dinheiro, acumular riquezas, ter conforto, prazer e deixar algo para sua esposa e seus filhos quando morrer. Mas, oh, lembre-se! Lembre-se que, se você não tem a graça de Deus e o verdadeiro arrependimento, você é um homem pobre, um mendigo diante de Deus.

Nunca vou me esquecer do efeito produzido sobre a minha própria mente quando li há alguns anos sobre aquele naufrágio terrível, a perda do América Central[12], um grande navio a vapor que se perdeu na viagem de Havana para Nova Iorque. Este navio estava trazendo para casa da Califórnia trezentos ou quatrocentos caçadores de tesouro. Todos eles haviam conseguido seu ouro, e estavam voltando para casa, planejando passar toda a sua vida sem dificuldades em seu país natal. Mas o homem faz planos, mas Deus é que decide[13].

Cerca de quatro ou vinte horas depois de o América Central deixar Havana, uma forte tempestade surgiu. Três ou quatro mares pesados em sucessão atingiram o navio e o danificaram. Os motores toraram-se desativados e inúteis, e o navio caiu no vale do mar. Começou um vazamento e, apesar de todos os esforços, o navio começou a encher. E depois de um tempo, quando todos a bordo tinha bombeado e baldeado, e baldeado e bombeado até estarem esgotados, tornou-se claro que o América Central, com suas três ou quatro centenas de passageiros e toda a sua tripulação, iria provavelmente descer até o mar profundo, e carregar com ela praticamente todos a bordo. A tripulação lançou os únicos botes que tinha. Eles colocaram as mulheres nesses botes, com apenas um complemento suficiente de marinheiros para controlá-los. Toda a honra seja dada a eles por seu sentimento generoso com os mais fracos e indefesos em um momento como esse! Os botes desceram para fora do navio; mas deixaram para trás duas ou três centenas de pessoas, muitas delas caçadores de tesouros, quando o América Central naufragou. Um homem que deixou o América Central em um dos últimos botes que levavam as mulheres, descreveu o que viu na cabine do navio quando toda a esperança se foi e o grande navio estava prestes a afundar. Os homens abandonavam seu ouro. Um deles disse, segurando sua bolsa de couro, contendo aquilo que acumulara ao longo de sua busca, “Aqui: pegue-o quem quiser! Tome-o quem quiser. Não é mais útil para mim: o navio está afundando. Tome-o quem quiser.” Outros tiravam seu ouro em pó, e espalhavam-no ao longo da cabine. “Ali”, diziam eles, “tomem-no quem quiser! Estamos todos afundando. Não há mais chance para nós. O ouro não nos fará bem algum.” Ah, que comentário sobre a verdadeira falta de valor das riquezas quando um homem vai aproximando-se de Deus. “As riquezas de nada aproveitam no dia da ira, mas a justiça livra da morte“. (Provérbios 11.4.) Pense na sua loucura. Sua loucura, bem como em seu perigo, na sua loucura, bem como na sua culpa, caso você desejar apegar-se a seus pecados. Pense na sua insensatez, caso não queira ouvir o aviso que lhe dou neste dia. Em nome do meu Mestre, digo a você, mais uma vez, que “se não vos arrependerdes,” você, você que está lendo este texto, “vós igualmente perecereis”.

(2) A minha segunda palavra de aplicação deve ser um convite­ a todos os que sentem seus pecados e desejam arrepender-se, e que não sabem o que fazer. Dou-lhe ampla e plenamente a todos os que me perguntam: “O que devo fazer, hoje mesmo, se eu quiser seguir seu conselho?” Respondo a essa pergunta sem qualquer hesitação. Digo-lhes, em nome do meu Mestre: arrependam-se, arrependam-se, arrependam-se hoje mesmo. Arrependam-se sem demora.

Eu não sinto nenhuma dificuldade em dizer isso. Não posso concordar com aqueles que dizem que as pessoas não convertidas não devem ouvir que devem se arrepender ou orar. Encontro o apóstolo Pedro dizendo a Simão, o Mago, “Arrepende-te, pois, da tua maldade.” Eu o encontro dizendo: “Rogue ao Senhor; talvez te seja perdoado o intento do coração”. (Atos 8.22.) Estou contente por seguir os passos do Apóstolo. Eu digo o mesmo para todos os que estão preocupados com sua alma. Eu digo: arrependam-se, arrependam-se, arrependam-se sem demora. Virá em breve o tempo em que deverá ter decidido, caso você tenha algum dia desejado estar decidido. Por que não o dia de hoje? Por que não esta noite? A audição de sermões não pode continuar para sempre. A ida às igrejas e capelas deve ter um fim. O gostar deste ministro e daquele ministro, pertencer àquela igreja e àquela capela, sustentar estas ou aquelas visões, considerar este pastor são ou não, tudo isso não é o suficiente para se salvar uma alma. É preciso agir, finalmente, bem como pensar, caso queira ir para o paraíso. Deve-se abandonar seus pecados e fugir para o Senhor Jesus, caso não queira ser condenado. Deve-se abandonar o mundo e tomar a cruz. Deve-se estar decidido, arrepender-se e crer. Deve-se ser verdadeiro e estar ao lado do Senhor Jesus Cristo, caso queira ser salvo. E por que não começar tudo isso hoje? Oh, arrependam-se, arrependam-se, arrependam-se, sem demora!

Você me pergunta novamente o que deve fazer? Vá, eu lhe digo, e clame ao Senhor Jesus Cristo neste mesmo dia. Vá e derrame seu coração diante dele. Vá e diga a Ele o que você é e diga-lhe o que deseja. Diga-lhe que é um pecador. Ele não terá vergonha de você. Diga a Ele que você deseja ser salvo. Ele vai ouvi-lo. Diga a Ele que você é uma pobre e fraca criatura. Ele o ouvirá. Diga a Ele que você não sabe o que fazer ou como se arrepender. Ele lhe dará Sua graça. Ele vai derramar o Seu Espírito sobre você. Ele vai ouvi-lo. Ele irá conceder a sua oração. Ele salvará sua alma. Há o suficiente em Cristo, e de sobra, para todas as necessidades de todo o mundo, – para todos os desejos de cada coração que não é convertido, não santificado, descrente, impenitente e não renovado. “Qual é a sua esperança?”, disse um homem a um menino galês pobre, que não falava inglês muito bem, e que um dia foi encontrado morrendo em uma pousada.- “Qual é a sua esperança sobre sua alma?” Qual foi sua resposta? Ele se virou para aquele que fez a pergunta e lhe disse, em um inglês imperfeito, “Jesus Cristo é abundante para todos! Jesus Cristo é abundante para todos!” Havia uma fonte de verdade nessas palavras. E bem disse um outro, um navegador que morreu no Senhor em Beckenham: “Digam a todos, digam a todo homem que encontrarem, Cristo é para todos! JESUS CRISTO É PARA TODOS!” Vá para este Salvador hoje mesmo, e digo a Ele os desejos de sua alma. Vá até Ele, nas palavras daquele belo hino[14] que diz:

“Assim como eu estou: sem um motivo,

Senão Teu sangue que foi derramado por mim,

E o convite que Tu me fazes ir ter Contigo,

Ó, Cordeiro de Deus, eu venho!

 

“Assim como eu estou, e não esperando

Para livrar minha alma de sequer uma mancha escura,

Para Ti, cujo sangue é capaz de limpar mancha, –

Ó, Cordeiro de Deus, eu venho!”

Vá até o Senhor Jesus neste espírito; e Ele irá recebê-lo. Ele não irá recusá-lo. Ele não irá desprezá-lo. Ele lhe concederá o perdão, a paz, a vida eterna, e lhe dará a graça do Espírito Santo.

Você me pergunta se existe alguma coisa a mais que deve fazer? Sim! Respondo. Vá e decida romper com todo pecado conhecido. Não ouça àqueles que irão chamar tal conselho de legalista: confio que jamais ousarei não oferecê-lo. Nunca estará certo permanecer inerte quanto ao pecado. Nunca estará errado dizer como Isaías: “Cessai de fazer o mal.” (Isaías 1. 16.) Qualquer que seja o seu pecado, decida, com a ajuda de Deus, que amanhã de manhã você despertará um homem diferente, e que romperá com este pecado. Quer seja a bebida ou a maledicência, ou quebrar o dia do Senhor, ou a paixão ou mentira, ou traição ou cobiça: qualquer que seja seu pecado e sua culpa, decida, pela graça de Deus, que os abandonará de uma vez por todas. Desista, sem demora, e desvie-se dele, com a ajuda de Deus, pelo resto de seus dias. Afaste-se dele: trata-se de uma serpente que irá mordê-lo até a morte. Lance-o para longe de você: trata-se de uma madeira serrada inútil, que irá afundar o navio até a perdição. Livre-se de seu pecado crônico, abra mão, abandone-o, liberte-se dele. Com a ajuda de Deus, decida firmemente que, neste quesito, não pecará mais.

No entanto, penso que seja possível algum leitor estar envergonhado do arrependimento. Eu suplico: livre-se de tal vergonha para sempre. Nunca se envergonhe de seu arrependimento diante de Deus. Do pecado você pode se envergonhar. Da mentira, da maledicência, da embriaguez, das apostas, da quebra do dia do Senhor – disso um homem deve se envergonhar. Porém, do arrependimento, da oração, da fé em Cristo, da busca por Deus, do zelo por sua alma – nunca, nunca, enquanto viver, nunca se envergonhe por tais coisas. Lembro-me de algo de que fiquei sabendo muito tempo atrás que me deu alguma ideia do que o medo de homens pode fazer. Estava servindo a um homem em seu leito de morte, que havia sido um sargento da guarda real britânica. Ele havia destruído sua saúde bebendo álcool. Ele havia sido um homem descuidado e imprudente com sua alma. Ele contou-me em seu leito de morte que quando começou a orar tinha tanta vergonha de sua esposa descobrir que, quando subia as escadas para orar, tirava os sapatos e deslizava cuidadosamente sobre suas meias, para que ela não soubesse como ele estava passando seu tempo. De fato, receio que haja muitos homens como ele. Não seja um deles. Não importa de que se envergonhe, nunca tenha vergonha de buscar a Deus.

Porém, creio ser possível que algum leitor esteja receoso de se arrepender. Você pensa ser tão ruim e indigno que Cristo não o receberá. Eu suplico, mais uma vez, que lance fora tal medo para sempre. Nunca, nunca tenha medo de se arrepender. O Senhor Jesus Cristo é muito gracioso. Não quebrará o caniço rachado, não apagará o pavio fumegante. Não tenha medo de aproximar-se dEle. Existe um confessionário pronto para você. Você não precisa de nenhum feito por homens. O trono da graça é o verdadeiro confessionário. Há um Confessor preparado para você. Você não precisa de nenhum homem ordenado, de nenhum pregador, nenhum bispo, nem ministro para fazer a mediação entre você e Deus. O Senhor Jesus é o verdadeiro Sumo Sacerdote. O Senhor Jesus Cristo é o verdadeiro Confessor. Nenhum confessor é tão sábio nem tão amoroso quanto Ele. Nenhum outro além dEle pode dar-lhe a absolvição e deixá-lo com um coração leve e em perfeita paz. Ah, tome o convite que trago até você. Não tema. Cristo não é um “homem severo.” Ele a ninguém despreza. (Jó 36.5.) Levante-se hoje mesmo e fuja para Ele. Vá até Cristo e arrependa-se esta noite sem demora.

(3) A minha última palavra de aplicação será uma exortação a todos os que têm conhecido o que é o arrependimento por experiência própria. Dirijo-me a todos os que já, pela graça de Deus, sentiram seus pecados, entristeceram-se por seus pecados, confessado-os e abandonado-os, e encontrado paz no sangue de Jesus Cristo. O que posso dizer a você a não ser: mantenha o seu arrependimento, –mantenha o seu arrependimento. Que vigiar torne-se um hábito mental até o último dia de sua vida. Que seja um fogo que você nunca deixará se apagar ou perder o brilho. Mantenha o seu arrependimento caso ame a vida.

Eu não quero que você faça do arrependimento um Cristo, ou que ele se torne uma escravidão para sua alma. Não peço que meça seu grau de justificação de acordo com seu arrependimento ou que suponha que seus pecados não serão perdoados visto que seu arrependimento é imperfeito. Justificação é uma coisa e o arrependimento é outra. Não deve confundir coisas distintas. Somente a fé justifica. É somente a fé que se apodera de Cristo. No entanto, continue vigiando seu arrependimento com bastante cuidado. Mantenha-o, mantenha-o e não deixe o fogo se apagar. Sempre que encontrar uma frouxidão vindo sobre sua alma, sempre que se sentir lento, apagado, pesado, frio e imprudente em relação a pequenos pecados, examine seu próprio coração e cuide para que não caia. Diga para a sua alma, “Oh, minha alma, o que está fazendo? Esqueceu a queda de Davi? Esqueceu o retrocesso de Pedro? Esqueceu o sofrimento subsequente de Davi? Esqueceu as lágrimas posteriores de Pedro? Desperta, ó minha alma, desperta mais uma vez. Realimente a chama, faça o fogo brilhar novamente. Retorne novamente ao seu Deus, reanime seu arrependimento mais uma vez. Permita que seu arrependimento seja sentido repetidamente”. – Ah, como são poucas as horas nos melhores dias de um cristão em que ele não “cria motivos para arrependimento!”

Mantenha o seu arrependimento até o último dia de sua vida. Sempre haverá pecados a lamentar e debilidades para confessar. Leve-os diariamente ao Senhor Jesus Cristo e obtenha dEle suprimentos diários de misericórdia e graça. Confesse-se diariamente ao grande Sumo Sacerdote e receba dEle perdão diário. Alimente-se a cada dia com o Cordeiro Pascoal. Mas nunca se esqueça de que ele tinha de ser comido com ervas amargas. “Senhor”, disse um jovem a Philip Henry[15], “quanto tempo deve um homem continuar em arrependimento? Quanto tempo, Sr. Henry, devemos continuar nos arrependendo?” O que o velho Philip Henry respondeu? “Senhor, eu espero levar meu arrependimento até as portas do paraíso. Todos os dias descubro que sou um pecador e a cada dia preciso de arrependimento. Planejo levar meu arrependimento, com a ajuda de Deus, até os portões do paraíso”.

Que esta possa ser nossa divindade, a sua divindade; sua teologia, minha teologia. Que o arrependimento diante de Deus e a fé diante de nosso Senhor Jesus Cristo sejam Jaquim e Boaz[16], – as duas grandes colunas diante do templo de nossa religião, as pedras angulares em nosso sistema de Cristianismo! (2 Crônicas 3.17.) Que as duas jamais sejam desassociadas! Que possamos, enquanto nos arrependemos, crer; e enquanto cremos, nos arrepender! E que o arrependimento e a fé, a fé e o arrependimento sejam sempre as peças fundamentais e mais importantes no credo de nossas almas!

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.

 

 

FONTE:

Tradução: Bia Noé

Revisão: Armando Marcos

Capa: Ranieri Menezes

Publicação

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[1] Almeida R.A.

[2] Almeida R.A.

[3] Após ter sido acusado pelos judeus, Paulo, que era cidadão romano, apelou para Roma e foi ouvido por Festo, governador da Judeia, e por Agripa, o Herodes, rei dos judeus.

[4] Antinominismo: Doutrina que recusa a Lei de Deus como algo que deva reger a vida daquele que pratica o Cristianismo. Literalmente: “antilei”. Teoricamente afirma que, por estar em Cristo, não mais necessita seguir a Lei, visto que está perdoado. Este argumento é criticado, entre outros textos, em Mateus 5.17.

[5] Famosa estrutura barroca do século XVII, a Catedral de St. Paul situa-se no ponto mais alto de Londres, no centro de Londres, e tem mais de 110 metros de altura. Feita por Sir Christopher Wen, foi inspirada na cúpula de Michelangelo no Vaticano.

[6] John Bradford (1510-1555) foi um reformador inglês. Mártir, foi preso na Torre de Londres devido a acusações de crimes contra Mary Tudor, rainha da Inglaterra, e queimado em uma estaca por ser uma ameaça ao Catolicismo. Antes de morrer, pediu perdão a quem pudesse ter ofendido e ofereceu seu perdão também àqueles que o ofenderam. Disse ao companheiro que seria queimado junto com ele, “Fique tranquilo, meu irmão, pois hoje à noite cearemos com nosso Senhor”.

[7] James Usher (1581-1656) foi um arcebispo de Armagh, famoso por ter estudado e criado uma cronologia da vida na Terra, cuja criação teria sido, segundo ele, no ano de 4004 a.C. Teve um papel importante nos conflitos violentos entre anglicanos e presbiterianos na Inglaterra do século XVII. Morreu aos 75 anos de uma suposta hemorragia interna.

[8] William Grimshaw (1708-1763) foi um pregador e famoso evangelista inglês, conhecido por seus métodos excêntricos de pastorear.

[9] Um redente, em arquitetura militar, é uma obra de fortificação com duas faces, sem flancos, formando um ângulo saliente voltado para o lado de um possível ataque.

[10] Torre Malakoff: torre defensiva perto de Sebastopol, na Criméia, hoje uma região da Rússia. A tomada desta torre pelos exércitos de Napoleão III comandadas por Patrice Mac-Mahon permitiram a tomada da cidade de Sebastopol durante a Guerra da Crimeia em 1855, e foi marcada como heroica e sinônimo de força. (Wikipédia)

[11] Corazim e Betsaida: Cidades que Jesus visitou sem realizar milagres, por causa da falta de fé do povo. Jesus disse ainda que, se os sinais e prodígios que haviam sido realizados nessas cidades tivessem sido feitos em Sodoma e Gomorra, até mesmo elas teriam se arrependido de seus pecados.

[12] América Central: Navio a vapor que naufragou em 1857 devido à uma forte tempestade, matando 425 pessoas e que levou consigo uma quantidade inestimada de ouro. Duas toneladas de metais preciosos foram recuperadas e, ainda assim, acredita-se que ainda existam US$86 milhões em ouro no navio naufragado nas águas do oceano Atlântico. Trata-se do maior tesouro perdido na história dos Estados Unidos, com apenas 150 sobreviventes. (Fonte: O Globo.)

[13] Jogo de palavras em língua inglesa: Man proposes and God disposes, significando que os homens podem fazer planos, mas quem decide ou não é Deus.

[14] Hino Just as I am, escrito por Charlotte Elliot em 1836. Acredita-se que a autora tenha escrito este hino após ter tido momentos de reflexão acerca de sua própria fé. Este hino teria sido um lembrete a si mesma de como encontrar perdão e paz, apesar de todas as imperfeiçoes humanas.

[15] Philip Henry (1631-1696) foi um pastor inglês não-conformista, ou seja, que não concordava com o governo e usos da Igreja da Inglaterra.

[16] Duas colunas que ficavam na parte da frente do templo de Salomão.