A Guerra Espiritual do Cristão – J.C.Ryle

A Guerra Espiritual do Cristão

Sermão[1] pregado por

J.C.Ryle

1º Bispo na Diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool

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É um fato curioso que não há assunto sobre quais pessoas sentem tão profundo interesse como “lutas”. Moços e moças, velhos e crianças pequenas, altos e baixos, ricos e pobres, cultos e incultos, todos sentem um profundo interesse em guerras, batalhas e combates.

 

Isso é um fato simples, seja lá qual for a maneira que podemos tentar explicar. Devemos chamar de um chato aquele camarada inglês que não se preocupa em nada sobre a história de Waterloo[2], Inkermann[3], Balaclava[4], Lucknow[5]. Devemos pensar em como é frio e estúpido aquele coração por não ter se abalado e emocionado pelos acontecimentos em Sedan, Estraburgo, Metz, e Paris[6].

 

Mas, leitor, existe outra guerra de muito maior importância do que qualquer guerra que já foi travada por homens. É uma guerra que não diz respeito a duas ou três nações apenas, mas a cada homem e mulher cristã nascidos no mundo. A guerra de que falo é a guerra espiritual. É a luta que todo aquele que será salvo deve lutar por sua alma.

 

Esta guerra, estou ciente, é uma coisa que muitos não sabem nada. Converse com eles sobre isso, e eles estarão prontos para chamar-lhe de louco, um entusiasta ou um tolo. E ela é ainda tão real e verdadeira como qualquer guerra que o mundo já viu. A mesma tem seus conflitos homem a homem e as suas feridas. Tem suas vigílias e fadigas. Tem os seus cercos e assaltos. Tem as suas vitórias e as suas derrotas. Acima de tudo, tem consequências que são horríveis, tremendas e muito peculiares. Em guerras terrestres as consequências para as nações são frequentemente temporárias e remediáveis​​. Na guerra espiritual é muito diferente. Desta guerra, as consequências, quando a luta estiver acabada, são imutáveis e eternas.

 

Leitor, é desta guerra que Paulo falou a Timóteo quando escreveu aquelas palavras ardentes: “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna”. É desta guerra que eu quero falar hoje com você. Nós nos encontramos em um período crítico da história do mundo. As mentes dos homens estão cheias de “guerras e rumores de guerras“. Os corações dos homens estão cheios de medo, enquanto eles olham para as coisas que parecem vir sobre a Terra. Por todos os lados o horizonte parece negro e sombrio. Quem pode dizer quando a tempestade vai começar? Dê-me sua atenção por alguns momentos, enquanto eu tento convencer-lhe das palavras solenes que o Espírito Santo ensinou Paulo a escrever: “Milita a boa milícia da fé”.

 

  1. A primeira coisa que tenho a dizer é a seguinte: O verdadeiro Cristianismo é uma luta.

O verdadeiro Cristianismo” — observe a palavra “verdadeiro”. Que não haja engano sobre o meu significado. Há uma vasta quantidade de religião atual no mundo que não é verdadeira, não é o Cristianismo genuíno. A mesma é satisfatória; a mesma satisfaz as consciências adormecidas; mas é como dinheiro falso. Não é a coisa real que foi chamada de Cristianismo 1800 anos atrás. Existem milhares de homens e mulheres que vão às Igrejas e Capelas todos os domingos, e chamam-se Cristãos. Seus nomes estão nos registros de batismo. Eles são reconhecidos como cristãos enquanto vivem. Eles são casados ​com um serviço de casamento cristão. Eles são enterrados como cristãos quando morrem. Mas você nunca vê qualquer “luta” sobre a religião deles! De luta espiritual, esforço, conflito, autonegação, vigilância e guerrear eles literalmente não sabem nada. Tal cristianismo pode satisfazer o homem, e aqueles que dizem qualquer coisa contra isso pode ser considerado muito duro e sem caridade; mas isso certamente não é o Cristianismo da Bíblia. Não é a religião que o Senhor Jesus fundou, e Seus Apóstolos pregavam. O verdadeiro Cristianismo é “uma luta”.

 

O verdadeiro cristão é chamado para ser um soldado, e deve comportar-se como tal a partir do dia de sua conversão até o dia de sua morte, e ele não foi feito para viver uma vida de comodidade religiosa, indolência, e segurança. Ele nunca deve imaginar por um momento que ele possa dormir e cochilar ao longo do caminho para o céu, como um viajante em uma carruagem tranquila. Se ele tomar seu padrão de Cristianismo das crianças deste mundo ele poderá estar contente com tais noções, mas ele não encontrará semblante para eles na Palavra de Deus. Se a Bíblia é a regra de sua fé e prática, ele encontrará suas linhas estabelecidas muito claramente nesta matéria. Ele deverá “lutar”.

 

Com quem deve o soldado cristão lutar? Não com os outros cristãos. Miserável realmente é a ideia do homem sobre a religião que imagina que a mesma consiste em controvérsia perpétua. Aquele que nunca está satisfeito a menos que esteja envolvido em algum conflito entre igreja e igreja, capela e capela, seita e seita, partido e partido, ainda não conhece nada como deveria conhecer. Nunca a causa do pecado é tão fortalecida quando os cristãos desperdiçam suas forças em brigas uns com os outros, e passam o tempo em disputas mesquinhas.

 

Não! A luta principal do cristão é com o mundo, a carne e o diabo. Estes são os seus inimigos que nunca morrem. Estes são os três principais inimigos contra os quais ele deve travar a guerra. A menos que ele receba a vitória sobre estes três, todas as outras vitórias são inúteis e vãs. Se ele tivesse uma natureza como de um anjo, e não fosse uma criatura caída, a guerra não seria tão essencial. Mas com um coração corrupto, um diabo ocupado, e um mundo ludibriador, ele deve ou “lutar” ou ficar perdido.

 

Ele deve lutar contra a carne. Mesmo após a conversão o cristão carrega dentro de si uma natureza propensa ao mal, e um coração fraco e instável como a água. Para manter esse coração de se desviar, há a necessidade de uma luta diária e uma briga diária em oração. “Antes subjugo o meu corpo”, clama Paulo, “o reduzo à servidão”. “Mas vejo a lei nos meus membros batalhando contra a lei da minha mente, e me levando ao cativeiro”. “Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? …. Os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”. “Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra” (1 Coríntios. 9: 27; Romanos. 6: 23, 24; Gálatas 5: 24; Cl 3:5).

 

Ele deve lutar contra o mundo. A sutil influência daquele poderoso inimigo deve ser diariamente resistida, e sem uma batalha diária nunca pode ser vencido. O amor das coisas boas do mundo, o medo do riso ou culpa do mundo, o desejo secreto de continuar com o mundo, o desejo secreto de fazer como os outros no mundo fazem, e não se envolver em extremos — tudo isso são inimigos espirituais que assolam o cristão continuamente em seu caminho para o céu, e deve ser conquistado. “A amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”. “O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. “Todo o que é nascido de Deus vence o mundo”. “Não sede conformados com este mundo”. (Tiago 4:4; 1 João 2:15; Gálatas 6:14; 1 João 5:4; Romanos12:2).

 

Ele deve lutar contra o diabo. Esse velho inimigo da humanidade não está morto. Desde a queda de Adão e Eva, ele tem ido para lá e para cá na terra, e andando para cima e para baixo da mesma, e esforçando-se para alcançar um grande fim — a ruína da alma do homem. Nunca adormecido e nunca dormindo, ele sempre anda como um leão buscando a quem possa tragar. Um inimigo invisível, ele está sempre perto de nós, perto de nosso caminho e perto de nossa cama, a espiar todos os nossos caminhos. Um assassino e um mentiroso desde o princípio, ele trabalha dia e noite para lançar-nos para o inferno. Às vezes levando em superstição, às vezes por sugerir infidelidade, às vezes por um tipo de tática e às vezes por outro, ele está sempre fazendo uma campanha contra as nossas almas. “Satanás tem desejado tê-lo, para que ele possa vos cirandar como trigo”. Esse adversário poderoso deve ser diariamente resistido se nós quisermos ser salvos. Mas “essa casta não sai” senão pelo jejum e oração, e por usar toda a armadura de Deus. O homem forte armado nunca será mantido de fora de nossos corações sem uma batalha diária.  (Jó 1:7; 1 Pedro 5:8; João 8:44; Lucas 12:31; Efésios 6:11).

 

Leitor, talvez você pense que essas afirmações são fortes demais. Você imagina que eu estou indo longe demais, e pondo as cores muito grossamente. Você está secretamente dizendo para si mesmo que os homens e mulheres na Inglaterra podem certamente chegar ao céu sem todo esse trabalho, guerra e luta. Escute-me por alguns minutos, e eu irei mostrar que eu tenho algo a dizer da parte de Deus. Lembre-se da máxima do mais sábio general que já viveu na Inglaterra: “Em tempo de guerra, o pior erro é subestimar o inimigo, e tentar fazer uma pequena guerra“. Esta luta Cristã não é uma questão leve. Dê-me a sua atenção e considere o que eu digo.

 

O que diz as Escrituras? “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna. …. Sofre as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo”. “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mal e, havendo feito tudo, ficar firmes”. “Porfiai por entrar pela porta estreita”. “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna”. “Não cuideis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada”. “O que não tem espada, venda a sua capa e compre-a”. “Vigiai, estai firmes na fé; portai-vos varonilmente, e fortalecei-vos”. “Milites uma boa milícia; Conservando a fé, e a boa consciência” (1 Timóteo 6:12; 2 Timóteo 2:3; Efésios 6:11-13; Lucas 13:24; João 6:27; Mateus 10:34; Lucas 22:36; 1 Coríntios 16:13; 1 Timóteo 1:18-19). Palavras como essas parecem-me claras, simples e inconfundíveis. Todas elas ensinam a mesma grande lição, se nós estivermos dispostos a recebe-las. Essa lição é que o verdadeiro Cristianismo é uma batalha, uma luta, uma guerra.

 

O que diz o Serviço Batismal da Igreja da Inglaterra[7]? Sem dúvida que o culto não é inspirado, e como toda composição não inspirada, tem seus próprios defeitos, mas para os milhões de pessoas por todo o globo que professam e se chamam de Clérigos[8] Ingleses, a voz da mesma deve falar com algum peso. E o que diz a voz? Diz que sobre todo novo membro que é admitido na Igreja da Inglaterra as seguintes palavras são usadas: “Eu te batizo no nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo”. “Eu consagro essa criança com o sinal da cruz, como sinal que daqui para frente ele não terá vergonha de confessar a fé de Cristo crucificado, e corajosamente lutar sob Seu estandarte contra o pecado, o mundo, e o diabo, e continuar sendo o soldado e servo fiel de Cristo até o fim de sua vida”. É claro que todos nós sabemos que em miríades de casos o batismo é uma mera forma, e que os pais trazem suas crianças à fonte batismal sem fé, oração ou entendimento, e não recebem benção alguma. O homem que supõe que o batismo em tais casos age mecanicamente, como um remédio, e que os pais, devotos ou não, que oram ou não, todos semelhantemente recebem o mesmo benefício para os seus filhos, devem estar em um estado de espírito muito estranho. Mas uma coisa de qualquer forma é muito certa. Cada clérigo batizado é por sua profissão um “soldado de Jesus Cristo“, e está comprometido “a lutar sob Seu estandarte contra o pecado, o mundo e o diabo”. Aquele que duvida seria melhor tomar o seu Livro de Oração Comum e o ler, marcar e aprender o seu conteúdo. A pior coisa sobre muitos Clérigos bastante zelosos é a sua total ignorância do que o seu próprio Livro de Oração Comum contém.

 

Leitor, se você for um Ministro ou não, uma coisa está muito certa, essa guerra Cristã é um assunto de extrema importância. Não é um assunto como o governo da Igreja e o ritualismo, sobre quais homens podem ser diferentes, e ainda assim chegar ao céu finalmente. A necessidade é imposta sobre nós. Não há promessas nas Epístolas do Senhor Jesus Cristo às Sete Igrejas, exceto para aqueles que “vencerem”.

 

É uma luta de absoluta necessidade. Não pense que nesta guerra você pode permanecer neutro e ficar parado. Tal linha de ação pode ser possível na luta das nações, mas é totalmente impossível nesse conflito que diz respeito à alma. A política vangloriosa de não-interferência, a “inatividade magistral” que agrada a tantos estadistas, o plano de manter calma e deixar as coisas rolarem sozinhas—tudo isso nunca vai ajudar na guerra Cristã. Aqui de qualquer forma ninguém pode escapar sob o argumento de que ele é “um homem de paz”.  Estar em paz com o mundo, a carne e o diabo é estar em inimizade com Deus, no caminho largo que conduz à destruição. Não temos escolha ou opção. Devemos lutar ou se perder.

 

É uma luta de necessidade universal, sem que status, classe, ou idade possa alegar isenção, ou escapar da batalha. Ministros e Leigos, pregadores e ouvintes, velhos e jovens, altos e baixos, ricos e pobres, nobres e simples, reis e súditos, proprietários e inquilinos, cultos e incultos, todos igualmente devem portar armas e ir à guerra. Todos têm por natureza um coração cheio de orgulho, incredulidade, preguiça, mundanismo e pecado. Todos estão vivendo em um mundo assediado de laços, armadilhas e ciladas para a alma. Todos têm perto de si um ocupado, inquieto e malicioso diabo. Todos, desde o Rei em seu palácio até o pobre na oficina, todos devem lutar se eles querem ser salvos.

 

É uma luta de necessidade perpétua. A mesma não admite tempo para respirar, armistício ou trégua. Nos dias de semana bem como aos domingos, em privado bem como em público, em casa na lareira da família bem como no exterior, em pequenas coisas como no cuidado com a língua e o temperamento, bem como nas grandes como o governo dos reinos — a guerra do cristão deve incessantemente continuar. O inimigo que temos que lidar não tira férias, nunca descansa e nunca dorme. Então, enquanto tivermos fôlego em nossos corpos devemos manter a nossa armadura, e lembrarmos que estamos no terreno do inimigo. “Mesmo à beira do Jordão”, disse um santo morrendo, “eu acho Satanás mordiscando meus calcanhares”. Temos que lutar até morrermos.

 

Leitor, considere bem o que eu tenho dito. Cuide que a sua própria religião pessoal seja real, genuína e verdadeira. O sintoma mais triste sobre muitos que se chamam cristãos é a ausência total de qualquer coisa como o conflito e a luta em seu Cristianismo. Eles comem, bebem, se vestem, trabalham, se divertem, ganham dinheiro, gastam dinheiro, passam por uma rodada escassa de cultos religiosos formais uma vez por semana. Mas sobre a grande guerra espiritual — suas vigias e dificuldades, suas agonias e ansiedades, suas batalhas e disputas — de tudo isso eles não parecem saber de nada. Cuide que esse caso não seja o seu. O pior estado da alma é quando o “forte homem armado protege o seu palácio, e os seus bens estão em paz”, quando ele lidera homens e mulheres “cativos à sua vontade”, e eles não resistem. As piores correntes são aquelas que não são nem sentidas nem vistas pelo prisioneiro. (Lucas 11:21; 2 Timóteo 2:26).

 

Leitor, conforte-se acerca da sua alma se você conhece alguma coisa sobre essa luta e conflito interior. Não é tudo, estou bem ciente, mas é algo. Você encontra no seu coração uma luta espiritual? Você sente alguma coisa da carne cobiçando contra o espírito e o espírito contra a carne, para que você não possa fazer as coisas que você queira? (Gálatas 5:17). Você está consciente de dois princípios dentro de você, competindo para o domínio? Você vê alguma coisa de guerra em seu homem interior? Bem, graças a Deus por isso. É um bom sinal. É evidência para não ser desprezada. Qualquer coisa é melhor do que a apatia, estagnação, impermeabilidade e a indiferença. Você está em um estado melhor do que de muitos. A maior parte daqueles que se chamam de cristãos não têm nenhum sentimento. Você evidentemente não é amigo de Satanás. Como os reis deste mundo, ele não guerreia contra os seus próprios súditos. O próprio fato que ele o ataca deveria encher sua mente de esperança. Leitor, digo de novo, cuide-se, o filho de Deus tem duas grandes marcas sobre si, e dessas duas você tem uma. ELE PODE SER CONHECIDO POR SUA GUERRA INTERIOR, BEM COMO POR SUA PAZ INTERIOR.

 

  1. Eu prossigo para a segunda coisa que tenho que falar sobre o meu assunto: O verdadeiro Cristianismo é a luta da fé.

 

Sobre isso a guerra Cristã é totalmente diferente dos conflitos deste mundo. A mesma não depende do braço forte, o olhar rápido ou o pé rápido. Não é lutada com armas carnais, mas com espirituais. A fé é a dobradiça pela qual a vitória gira. O sucesso depende completamente em crer.

 

Uma fé geral na verdade da Palavra escrita de Deus é a fundação primária do caráter do soldado cristão. Ele é o que ele é, faz o que ele faz, pensa o que ele pensa, age como ele age, espera como ele espera, se comporta como ele se comporta, por uma simples razão — ele crê em certas proposições reveladas e estabelecidas nas Sagradas Escrituras. “Aquele que se aproxima de Deus deve crer que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11:6).

 

Uma religião sem doutrina ou dogma é uma coisa que muitos gostam de falar no presente dia. Isso soa muito bem à primeira vista. Isso parece muito bonito à distância. Mas no momento que você sentar para examinar e considerá-la, você descobrirá que é uma simples impossibilidade. Se for assim você poderá muito bem falar de um corpo sem ossos e nervos. Nenhum homem jamais será alguma coisa ou fará alguma coisa na religião a menos que creia em algo. Até aqueles que professam crer nos miseráveis e inconfortáveis pontos de vista dos Deístas são obrigados a confessar que eles creem em algo. Com todos os seus amargos escárnios contra a teologia dogmática e credulidade Cristã, como eles chamam, ele mesmos têm um tipo de fé.

 

Enquanto aos cristãos, a fé é a própria espinha vertebral de sua existência espiritual. Ninguém nunca luta seriamente contra o mundo, a carne, e o diabo, a menos que este tenha gravado em seu coração certos grandes princípios em que acredita. O que eles são ele dificilmente saberá, e certamente não conseguirá defini-los ou escrevê-los. Mas lá estão eles, e consciente ou inconscientemente eles formam as raízes de sua religião. Onde quer que você veja um homem, seja rico ou pobre, instruído ou inculto, lutando virilmente com o pecado, e tentando vencê-lo, você pode observar que há certos grandes princípios que esse homem acredita. O poeta que escreveu as famosas linhas:

 

“Para os modos de fé deixe os zelotes sem graça lutarem,

Ele não pode estar errado, já que vida está correta”,

 

Foi um homem inteligente, mas um pobre teólogo. Não há tal coisa como vida correta sem fé e crença.

 

Uma fé especial na pessoa, obra, e ofício de nosso Senhor Jesus Cristo é a vida, coração e fonte principal do caráter do soldado Cristão.

 

Ele vê pela fé um Salvador invisível, que o amou, Se deu por ele, pagou as contas dele para ele, carregou suas transgressões, ressuscitou de novo por ele, e se apresenta no céu para ele como seu Advogado à mão direita de Deus. Vendo o seu Salvador e confiando nEle, o crente sente paz e esperança, e voluntariamente batalha contra os inimigos de sua alma.

 

Ele vê seus muitos pecados — seu coração fraco, um mundo tentador, um diabo ocupado, e se ele olhasse somente para eles, ele poderia muito bem desesperar. Mas ele vê também um poderoso Salvador, um Salvador que intercede, um Salvador simpatizante; Seu sangue, Sua justiça, Seu sacerdócio eterno; e ele acredita que tudo isso pertence a ele. Crendo nisso, ele alegremente continua lutando, com a confiança completa que Ele provará ser “mais que um vencedor através daquele que o amou”.

 

Fé viva habitual na presença de Cristo e prontidão para ajudar é o segredo do soldado Cristão lutar com sucesso.

 

Nunca deve ser esquecido que a fé tem níveis. Todos os homens não creem da mesma forma, e até mesmo a mesma pessoa tem seus fluxos e refluxos de fé, e crê mais de coração em certa vez do que em outra. De acordo com o grau de sua fé o cristão luta bem ou mal, conquista vitórias ou sofre repulsos ocasionais, termina com triunfo ou perde uma batalha. Aquele que tem mais fé sempre será o soldado mais feliz e mais confortável. Nada faz as ansiedades da guerra assentarem tão levemente sobre um homem como a certeza do amor de Cristo e a proteção de Deus. Nada o habilita para carregar a fatiga de vigiar, lutar, e batalhar contra o pecado, como a confiança interior de que Deus está ao seu lado e o sucesso é certo. É a “couraça da fé” que sacia todos os dardos inflamados daquele que é maligno. É o homem que pode dizer: “Eu sei em quem tenho crido”, que pode dizer na hora do sofrimento: “Eu não me envergonho”.

 

Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente”, foi o homem que escreveu com a mesma caneta, “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas”. (Efésios 6:16; 2 Timóteo 1:12; 2 Coríntios 4: 17-18). Quanto mais fé mais vitória! Quanto mais fé mais paz interna!

 

Leitor, acredito que é impossível sobrestimar o valor e a importância da fé. Bem, o Apóstolo Pedro a chama de “preciosa” (2 Pedro 1:1). Faltar-me-ia tempo se eu tentasse recontar a centésima parte das vitórias que pela fé os soldados cristãos têm obtido.

 

Pegue sua Bíblia e leia com atenção o décimo-primeiro capítulo da Epístola de Hebreus. Note a longa lista de heróis cujos nomes estão registrados, de Abel até Moisés. Note bem quais batalhas eles venceram contra o mundo, a carne e o diabo. E então lembre que crendo fizeram tudo isso. “Porque por ela os antigos alcançaram testemunho”. (Hebreus 11:2).

 

Torne para as páginas da história primitiva da Igreja. Veja como os cristãos primitivos mantiveram firme sua religião até a morte, e não foram abalados pelas mais ferozes perseguições dos imperadores pagãos. Durante séculos nunca houve homens procurados como Policarpo e Inácio, que estavam prontos para morrer ao invés de negarem a Cristo. Multas, prisões, tortura, fogo e espada, não foram capazes de esmagar o espírito do nobre exército de mártires. Todo o poder da Roma imperial, a amante do mundo, mostrou-se incapaz de acabar com a religião que começou com alguns pescadores e publicanos na Palestina! E lembre-se que crer foi a força da Igreja. Eles ganharam a vitória pela fé.

 

Examine a história da Reforma Protestante. Estude a vida de seus principais campeões: Wycliffe, Huss, Lutero, Ridley, Latimer, Hooper. Note como esses nobres soldados de Cristo ficaram firmes contra uma série de adversários, e estavam prontos para morrer por seus princípios. Que batalhas eles lutaram! Que controvérsias eles mantiveram! Que contradição eles suportaram! Que tenacidade de propósito eles exibiram contra um mundo armado! E então lembre que crer era o segredo de suas forças. Eles venceram pela fé.

 

Considere os homens que deixaram as maiores marcas na história da Igreja nos últimos cem anos. Observe como homens como Wesley, Whitefield, Venn[9], e Romaine, ficaram sozinhos em seus dias e gerações, e reviveram a religião Inglesa em face da oposição de homens altos em ofício — e em face de calúnia, perseguição ridículo, e de nove décimos de Cristãos professos em nossa terra. Observe como homens como William Wilberforce, Havelock e Hedley Vicars tem testemunhado por Cristo nas posições mais difíceis, e exibido um estandarte para Cristo, mesmo na mesa bagunçada regimental, ou no chão da Câmara dos Comuns. Note como essas testemunhas domésticas nunca estremeceram até o fim, e conquistaram o respeito até mesmo de seus piores adversários. E então lembre que crendo é a chave para todos os seus personagens. Pela fé eles viveram, andaram, permaneceram, e venceram.

 

Leitor, você poderia viver a vida de um soldado cristão? Ore para ter fé. A fé é um dom de Deus; e um dom que aqueles que pedem nunca devem pedir em vão. Você deve crer antes de pedir. Se os homens não fizerem nada na religião, é porque eles não creem. A fé é o primeiro passo em direção ao céu.

 

Você poderia lutar a luta de um soldado cristão com sucesso e prosperidade? Ore por um crescimento continuo de fé. Seja a sua oração diária a mesma que a dos discípulos — “Senhor, aumente minha fé”. Vigie zelosamente pela sua fé, se você tiver alguma. É a cidadela do caráter cristão, na qual a segurança da fortaleza inteira depende. É o ponto que Satanás ama atacar. Tudo reside na Sua misericórdia se a fé for derrotada. Aqui, se você ama a vida, você deve especialmente vigiar.

 

III. A última coisa que tenho a dizer é isso: O cristianismo verdadeiro é uma boa luta. “Boa” é uma palavra curiosa para aplicar em qualquer guerra. Toda guerra mundana é mais ou menos malvada. Sem dúvida a guerra é uma necessidade absoluta em muitos casos, ou para adquirir a liberdade das nações, ou para prevenir os fracos de serem pisoteados pelos fortes; mas ainda assim é um mal.

 

A guerra envolve uma grande quantidade de derramamento de sangue e sofrimento. Leva para a eternidade miríades que estão completamente despreparadas para a mudança. Suscita as piores paixões do homem. Causa enormes desperdícios e destruição de propriedade. Enche lares pacíficos com viúvas e órfãos de luto. Espalha pobreza, tributação e aflição nacional por todos os lugares. Desarruma toda a ordem da sociedade. Interrompe a obra do Evangelho e o crescimento das missões Cristãs. Em suma, a guerra é uma imensa e incalculável maldade, e todo homem que ora deveria clamar dia e noite: “Dê paz em nossos tempos”. Porém, existe ainda uma guerra que é enfaticamente “boa”, e uma luta na qual não há mal. Essa guerra é a guerra cristã. Essa luta é a luta da alma.

 

Agora, quais são as razões pelas quais a luta cristã é uma “boa luta”? Quais são os pontos na qual a guerra cristã é superior à guerra desse mundo? Deixe-me examinar essa questão e abordá-la em ordem. Não ouso deixar de abordar o assunto e deixá-lo despercebido. Não quero que ninguém comece a vida de soldado cristão sem calcular o custo. Eu não esconderia de ninguém que a batalha cristã, embora espiritual, é real e grave. É necessário coragem, ousadia e perseverança. Mas eu quero que meus leitores saibam que há encorajamento abundante se eles somente começarem a batalha. A Escritura não chama a luta cristã de “uma luta boa” sem razão e causa. Deixe-me tentar mostrar o que eu quero dizer.

 

(a) A luta do cristão é boa porque é travada sob a liderança do melhor dos generais. O Líder e Comandante de todos os crentes é nosso Divino Salvador, o Senhor Jesus Cristo — um Salvador de sabedoria perfeita, amor infinito e todo-poderoso. O Capitão da nossa salvação nunca falha em liderar Seus soldados à vitória. Ele nunca faz nenhum movimento inútil, nunca erra em julgamento, nunca comete algum erro. Seus olhos estão sobre todos Seus seguidores, do maior até o menor. O servo mais humilde em Seu exército não é esquecido. O mais fraco e mais enfermo é cuidado, lembrado, e guardado para a salvação. As almas que Ele comprou e redimiu com Seu próprio sangue são demasiadamente preciosas para serem desperdiçadas e jogadas fora. Certamente isso é bom!

 

(b) A luta do cristão é boa porque é travada com a melhor das ajudas. Fraco como cada crente é em si mesmo, o Espírito Santo habita nele, e seu corpo é um templo do Espírito Santo. Escolhido por Deus o Pai, lavado no sangue do Filho, renovado pelo Espírito, ele não vai à guerra sob seu próprio comando, e nunca está sozinho. Deus Espírito Santo diariamente ensina, lidera, guia, e direciona-o. Deus Pai ajuda o combatente por Seu grande poder. Deus Filho intercede por ele a cada momento, como Moisés no monte, enquanto o crente está lutando no vale lá em baixo. Um cordão de três dobras como esta nunca pode ser quebrado! Suas provisões e suprimentos diários nunca falham. Seu comissariado nunca tem defeito. Seu pão e Sua água são garantidos. Fraco como ele aparenta em si mesmo e sendo como um verme, ele é forte no Senhor para fazer grandes proezas. Certamente isso é bom!

 

(c) A luta cristã é uma boa luta porque é travada com a melhor das promessas. Para todo crente pertence grandíssimas e preciosas promessas — sim, todas, e o amem em Cristo — promessas que certamente serão cumpridas porque foram feitas por Aquele que não pode mentir e tem poder bem como para guardar Sua palavra. “O pecado não terá domínio sobre vós”. “E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés”. “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”. “Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão”. Minhas ovelhas “nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão”. “O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. “Nunca te deixarei, nem te desampararei”. “Estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem o presente, nem o porvir, nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”. (Romanos 6:14; Romanos 16:20; Filipenses 1:6; Isaias 42:2; João 10:28; João 6:37; Hebreus 3:5; Romanos 8:38-39). Palavras como estas valem seu peso em ouro! Quem não sabe que as promessas de ajuda vindoura animaram os defensores de cidades sitiadas como Lucknow, e levantou-os acima de sua força natural? Quem não sabe que a promessa de ajuda antes da noite tinha muito a dizer para a grande vitória de Waterloo? No entanto, todas essas promessas não são nada em comparação com o rico tesouro dos crentes, as promessas eternas de Deus. Certamente isso é bom!

 

(d) A luta do cristão é uma luta boa, porque é travada com a melhor das razões e resultados. Sem dúvida que é uma guerra em que há tremendas lutas, conflitos agonizantes, feridas, machucados, vigílias, jejuns e fadigas. Mas ainda assim cada crente, sem exceção, é “mais que vencedor por meio daquele que o amou“. Nunca nenhum dos soldados de Cristo é deixado perdido, desaparecido ou morto no campo de batalha. Nunca nenhum luto precisará ser utilizado, e nada de lágrimas serão derramadas por soldado ou oficial do exército de Cristo. A lista de convocados, quando a última noite vier, será encontrada precisamente a mesma que era na manhã. Os alistados das Guardas Inglesas marcharam para fora de Londres para a Guerra da Criméia como um corpo magnífico de homens; mas muitos dos companheiros galantes enterraram seus ossos em uma cova estrangeira, e nunca viram Londres novamente. Bem mais diferente será a chegada do exército Cristão na “cidade que tem alicerces, cujo construtor e feitor é Deus”. Ninguém será achado em falta. As palavras de nosso grande Capitão serão achadas verdadeiras: “Dos que Me deste nenhum deles perdi” (João 18. 9). Certamente isso é bom!

 

(e) A luta do cristão é boa porque faz bem para a alma daquele que a combate. Todas as outras guerras têm uma tendência ruim, sombria, e desmoralizante. Estas invocam as piores paixões da mente humana. Estas endurecem a consciência, e debilitam os fundamentos da religião e da moralidade. A guerra cristã sozinha tende a aguçar as melhores coisas que sobraram no homem. Esta promove a humildade e caridade, diminui o egoísmo e mundanismo, induz os homens a estabelecerem os seus afetos nas coisas do alto. O velho, o doente, o moribundo, nunca são conhecidos por se arrependerem de lutar as batalhas de Cristo contra o pecado, o mundo e o diabo. Seu único lamento é que não começam a servir a Cristo muito antes. A experiência do santo eminente, Philip Henry[10], não está sozinha. Em seus últimos dias ele disse à sua família: “Levo-os todos a lembrarem de que uma vida vivida no serviço de Cristo é a vida mais feliz que um homem pode passar sobre a terra”. Certamente isso é bom!

 

(f) A luta do cristão é uma boa luta porque faz bem para o mundo. Todas as outras guerras têm um efeito devastador, destruidor e injurioso. A marcha de um exército por uma terra é um terrível flagelo aos habitantes. Onde quer que vá a mesma empobrece, destrói, e faz dano. Dano à pessoas, propriedades, sentimentos, e morais acompanha-a invariavelmente. Bem diferentes são os efeitos causados por soldados Cristãos. Onde quer que eles morem eles são uma benção. Eles elevam o padrão da religião e moralidade. Eles invariavelmente verificam o progresso de embriaguez, violação do Shabbat, libertinagem, e desonestidade. Até os seus inimigos são obrigados a lhes respeitar. Vá onde quiser e você raramente encontrará que quartéis e guarnições fazem bem à vizinhança. Mas vai onde você quiser, e você descobrirá que a presença de quatro poucos cristãos verdadeiros são uma benção. Certamente isso é bom!

 

(g) Finalmente, a luta do cristão é boa porque o seu fim é uma recompensa gloriosa para todos os que a lutarem. Quem pode dizer qual será o salário que Cristo irá pagar para todo o Seu povo fiel? Quem pode estimar as boas coisas que o nosso Divino Capitão tem guardado para aqueles que O confessam diante dos homens? Um país grato pode dar para os seus guerreiros vencedores medalhas, a Cruz Vitória, pensões, nobrezas, honras, e títulos. Mas esta não pode dar nada que durará e permanecerá para sempre, nada que possa ser carregado além da sepultura. Palácios como Blenheim e Strathfield somente podem ser desfrutados por alguns anos. Os generais e soldados mais corajosos devem ir um dia comparecer diante do rei dos terrores. Melhor, bem melhor, é a posição daquele que luta debaixo do estandarte de Cristo contra o pecado, o mundo, e o diabo. Ele pode receber poucos elogios dos homens enquanto vive, e descer à sepultura com pouca honra; mas ele terá aquilo que é muito melhor, porque é muito mais duradouro. Este deverá receber “a incorruptível coroa de glória”. Certamente isso é bom.

 

Leitor, estabeleça em sua mente que a luta cristã é uma luta boa, muito boa, realmente boa, enfaticamente boa. Você vê apenas uma parte dela ainda. Você vê a luta, mas não o seu fim; você vê a campanha, mas não a recompensa; você vê a cruz, mas não a coroa. Você vê algumas pessoas humildes, quebrantadas de espírito, penitentes de oração, aguentando dificuldades e desprezadas pelo mundo; mas você não vê a mão de Deus sobre elas, o rosto de Deus sorrindo para elas, o reino da glória preparada para elas. Essas coisas ainda serão reveladas. Não julgue pelas aparências. Há mais coisas boas sobre a guerra Cristã do que você vê.

 

E agora, leitor, deixe-me concluir todo o meu assunto com algumas palavras de aplicação prática. Nossa sorte se lança em tempos quando o mundo parece pensar nada além de batalhas e lutas. O ferro está penetrando nas almas de mais de uma nação, e a alegria de muitos em um amplo espaço se dissipou. Certamente em um tempo como esse um ministro poderá justamente mandar os homens lembrarem-se da guerra espiritual. Tenha paciência comigo enquanto eu digo algumas palavras de despedida sobre a grande luta da alma.

 

(1) Pode ser que você esteja lutando duramente pelas recompensas deste mundo. Talvez você esteja esforçando cada nervo para obter dinheiro, posição, poder ou prazer. Leitor, se esse for seu caso, cuide-se. Você está semeando uma colheita de decepção amarga.

 

Milhares têm trilhado o caminho que você está perseguindo, e despertaram muito tarde para descobrir que o mesmo acaba em miséria e ruína eterna. Eles lutaram arduamente para a riqueza, honra, posição e promoção e viraram as suas costas para Deus, Cristo, o céu e o mundo vindouro. E qual tem sido o seu fim? Muitas vezes, demasiadas vezes, eles descobriram que toda sua vida tem sido um grande erro. Eles provaram pela experiência amarga os sentimentos dos estadistas que estão morrendo que gritaram em voz alta em suas últimas horas: “A batalha é travada, a batalha é travada, mas a vitória não está ganha”.

 

Leitor, por amor a sua própria felicidade decida neste dia se juntar ao lado do Senhor. Largue o seu passado de descuido e descrença. Saia dos caminhos de um mundo imprudente e irracional. Tome a cruz, e torne-se um bom soldado de Cristo. Lute a boa luta da fé, para que você possa ser feliz bem como seguro.

 

Pense no que os simples deste mundo com frequência farão pela liberdade, sem nenhum princípio religioso. Lembre-se de como os Gregos, Romanos, Suíços e Tiroleses têm aguentado a perda de todas as coisas, e até mesmo da própria vida, ao invés de dobrarem suas nucas para um julgo estrangeiro. Deixe o exemplo deles provocar-lhe para a peleja. Se os homens podem fazer tanto para uma coroa corruptível, quanto mais você deveria fazer para uma que seja incorruptível! Acorde para um senso da miséria de ser um escravo. Para a vida, felicidade e liberdade, levante-se e lute.

 

Não tema em começar e se alistar sob o estandarte de Cristo. O grande Capitão da sua salvação não rejeita nenhum que vem até a Ele. Como Davi na caverna de Adulão, ele está pronto para receber todos os que vêm até Ele, por mais indigno que eles pensam ser. Nenhum dos que se arrependem e creem são tão ruins que não possam ser inscritos nos regimentos do exército de Cristo. Todos que vem até Ele são aceitos, revestidos, armados, treinados, e finalmente guiados para a completa vitória. Leitor, não tema em começar nesse mesmo dia. Ainda há espaço para você.

 

Não tema em continuar a lutar, se você se alistar. Quanto mais profundo e sincero você for como um soldado, mais confortavelmente você ficará com sua guerra. Sem dúvida que você frequentemente achará problemas, fadiga e lutas difíceis antes que a sua guerra seja concluída. Mas não deixe que nenhuma dessas coisas o desanime. Maior é Aquele que é por você do que todos aqueles que são contra você. Liberdade eterna ou cativeiro eterno são as alternativas diante de você. Escolha a liberdade, e lute até o fim.

 

(2) Leitor, pode ser que você conheça algo sobre a guerra Cristã, e já seja um soldado experimentado e provado. Se este for o seu caso, aceite uma palavra de despedida, de conselho e encorajamento de um soldado-companheiro. Deixe-me falar a mim mesmo bem como a você. Vamos atiçar nossas mentes pela lembrança. Há algumas coisas que nós não conseguimos lembrar muito bem.

 

Lembremo-nos de que se nós vamos lutar com sucesso devemos colocar toda a armadura de Deus, e nunca deixá-la de lado até que nós morramos. Nenhuma parte da armadura pode ser dispensada. O cinturão da verdade, a couraça da justiça, o escudo da fé, a espada do Espírito, o capacete da salvação, cada uma dessas partes são necessárias. Em nenhum dia podemos dispensar qualquer parte dessa armadura. Diz bem um velho veterano do exército de Cristo, que morreu 200 anos atrás: “No céu apareceremos, não com armaduras, mas com vestes de glória. Mas aqui as nossas armaduras devem ser usadas de dia e de noite. Devemos andar, trabalhar, dormir nelas, ou então não somos verdadeiros soldados de Cristo[11].

 

Lembremo-nos a solenes palavras de um antigo guerreiro, que foi para seu descanso a mais de 1800 anos atrás: “Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra” (2 Timóteo 2:4). Que nunca esqueçamos esse ditado.

 

Lembremo-nos que alguns têm parecido ser bons soldados por um pouco de tempo, e falaram alto sobre o que eles fariam, e mesmo assim retrocederam desgraçadamente no dia da batalha. Nunca venhamos a esquecer Balaão, Judas, Demas e a esposa de Ló. O que quer que somos, e qualquer que seja a nossa fraqueza, sejamos reais, genuínos, verdadeiros, e sinceros.

 

Lembremo-nos que os olhos de nosso amado Salvador estão sobre nós de manhã, de tarde e de noite. Ele nunca nos deixará ser tentados além do que consigamos suportar. Ele pode ser tocado com o sentir de nossas enfermidades, pois Ele mesmo foi assaltado pelo príncipe deste mundo. Tendo um Sumo Sacerdote como esse, Jesus o Filho de Deus, retenhamos firmemente nossa confissão.

 

Lembremo-nos de que milhares de soldados antes de nós lutaram a mesma batalha que estamos lutando, e foram mais do que vencedores através Dele que os amou. Eles venceram pelo sangue do Cordeiro; e assim também nós podemos vencer. O braço de Cristo é tão forte como sempre, e o coração de Cristo é tão amoroso como sempre. Aquele que salvou homens e mulheres antes de nós é Aquele que nunca muda. Ele é capaz de salvar totalmente tanto você quanto eu e todos os que vêm a Deus através Dele. Então, lancemos fora as dúvidas e medos. Vamos seguir aqueles que pela fé e paciência herdam as promessas, e estão esperando por nós para se juntar a eles.

 

Finalmente, lembremo-nos de que o tempo é curto, e a vinda do Senhor está próxima. Mais algumas batalhas e a última trombeta soará e o Príncipe da Paz virá para reinar sobre uma terra renovada. Um pouco mais de lutas e conflitos, e então oferecemos um adeus eterno ao pecado, sofrimento e morte. Então, vamos lutar até o fim e nunca se render. Assim diz o Capitão de nossa salvação: “Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho”. (Apocalipse 21: 7).

 

Deixe-me concluir tudo com as palavras de John Bunyan, em uma das partes mais lindas de “O Peregrino”. Ele está descrevendo o fim de um dos seus melhore e mais santos peregrinos: —

 

“Depois disso foi dito adiante que o Sr. Valente-pela-verdade foi enviado por uma intimação, pelo mesmo partido do que os outros. E ele teve a sua palavra por sinal que a intimação era verdadeira, ‘O cântaro quebrou-se junto a fonte’ (Eclesiastes 12:6). Quando ele entendeu, ele chamou os seus amigos, e lhes contou sobre isso. Então ele disse: ‘Irei para a casa de meu Pai; e com grande dificuldade eu cheguei aqui, agora eu não me arrependo de todos os problemas que eu passei para chegar onde estou. Minha espada dou àquele que há de me suceder em minha peregrinação, e minha coragem e habilidade para àquele que pode recebê-la. Minha marcas e cicatrizes eu carrego comigo, para ser uma testemunha para mim de que eu tenho lutado Suas batalhas, quem agora será o meu Galardoador.’ Quando o dia que ele deveria ir para casa chegou, muitos o acompanharam para o ribeiro, para o qual, enquanto ele ia, ele disse, ‘Onde está, ó morte, o teu aguilhão?’ E enquanto ele ia mais para o fundo, ele clamava, ‘Onde está, ó sepultura, a tua vitória?’ Então ele passou para o outro lado, e todas as trombetas soaram para ele no outro lado”. Leitor, que o nosso fim seja assim!

 

HINO

Até aqui o Senhor nos guiou!

Na escuridão e no dia,

Através de todos os níveis

Do caminho Estreito em direção à casa.

 

Há muito tempo desde que Ele foi naquela jornada,

Ele trilhou aquele caminho sozinho,

Suas provações e seus perigos

Foram conhecidos completamente por Ele mesmo.

 

Até aqui o Senhor nos guiou!

A promessa não falhou,

O inimigo, encontrado

Frequentemente, nunca realmente prevaleceu;

O escudo da fé tem desviado,

Ou saciado cada dardo inflamado,

A espada do Espírito nas mãos

Mais fracas tem forçado ele a partir

 

Até aqui o Senhor nos guiou!

As águas têm sido elevadas,

Mas ao passar por elas sentimos que

Ele estava perto.

Um Ajudador muito presente

Nas aflições temos encontrado;

Seus confortos mais abundaram

Quando nossas tristezas abundavam.

 

Até aqui o Senhor nos guiou!

Nossa necessidade tem sido suprida,

E misericórdia tem nos envolvido em todos os lados.

Ainda caiu o maná diário, a pura fonte da rocha flui,

E muitas flores de amor e esperança

Ao longo da beira da estrada crescem.

 

Até aqui o Senhor nos guiou! e irá Ele agora abandonar

Os fracos os quais para Ele mesmo agradou-Lhe tomar?

Oh, nunca, nunca! Amigos terrenos,

Frio e incredulidade podem nos provar,

Mas Sua é a compaixão imutável e Seu o amor eterno.

 

Calmamente olhamos para trás de nós,

Em alegrias e tristezas passadas,

Sabemos que tudo é misericórdia agora, e estará bem por fim;

Calmamente olhamos diante de nós

Não tememos enfermidade futura,

Suficiente para segurança e para paz,

Se Tu estiveres conosco ainda.

 

Sim! “Aqueles que conhecem o Seu nome,

Senhor, colocarão a sua confiança em Ti”,

Enquanto nada em si mesmos menos

O pecado e desamparo eles veem.

A corrida o Senhor tem determinado

Para nós com paciência podemos correr,

O Senhor irá fazer até o fim a obra que o Senhor começou.

 

 

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.

 

 

FONTE:
Traduzido de http://www.tracts.ukgo.com/are_you_fighting.doc

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público

Original em inglês: The Great Battle

Tradução: equipe Projeto Castelo Forte

 

2° edição: agosto de 2019


Projeto Castelo Forte

www.projetocasteloforte.com.br

 

 

[1] Título original desse sermão “Are You Fighting?”.

[2] Batalha de Waterloo foi um confronto militar ocorrida em 18 de Junho de 1815 perto de Waterloo, na atual Bélgica. Foi a última batalha de Napoleão e a sua derrota terminou com o seu governo como Imperador.

[3] Batalha de Inkerman foi uma batalha da Guerra da Crimeia, Foi travada em 5 de novembro de 1854, em Inkerman, perto de Sebastopol, um porto do Mar Negro.

[4] A Batalha de Balaclava foi uma batalha da Guerra da Crimeia. Foi travada em 25 de outubro de 1854, em Balaclava, na margem do Mar Negro e foi o segundo maior confronto durante este conflito (1854-1856).

[5] Batalha de Lucknow: Lucknow é uma cidade ao norte da Índia, que em 1857 foi cenário de sangrentos confrontos relacionados com a Revolta dos Cipaios. Lucknow foi assediada em primeiro lugar pelas forças rebeldes. Só foi recuperada pelos ingleses em março de 1858 após uma resistência feroz

[6] As Batalhas de Sedan e Metz foram batalhas decisivas da Guerra Franco Prussiana, entre 1870 e 1871, sendo que em Sedan houve a derrota francesa em 1871 e a captura de Napoleão III.  Estraburgo é uma cidade na região da Alsácia-Lorena, que foi tomada dos franceses para o II Reich Alemão nessa Guerra. Paris é citada, pois após a Guerra, ter sido cenário do levante popular revolucionário conhecido como Comuna de Paris.

[7] O Serviço Batismal é uma das partes do Livro de Oração Comum usado como a liturgia oficial da Igreja da Inglaterra.

[8] Clérigos, tradução de “Churcheman”, nos textos de Ryle geralmente termo ligado aos partidários evangélicos e reformados da Igreja da Inglaterra, no caso do presente texto relacionado aos membros ordenados da Igreja da Inglaterra.

[9] Henry Venn (1725- 1797), foi um evangélico ministro Inglês e um dos fundadores do Grupo de Clapham, um grupo evangélico pequeno, mas muito influente dentro da Igreja da Inglaterra.

[10] Philip Henry (1631 – 1696) foi um Clérigo Anglicano que virou dissidente ao ser expulso pelo Ato de Uniformidade de 1662. Foi pai do famoso teólogo presbiteriano Mathew Henry

[11] Citação do livro “A Armadura Cristã” de Willian Gurnall.