3 Razões Pelas Quais os Evangélicos Não Devem Se Tornar Católicos Romanos – Chris Castaldo

3 Razões Pelas Quais os Evangélicos Não Devem Se Tornar Católicos Romanos

Por Chris Castaldo

 

A muito divulgada “reversão” do ex-editor do Christianity Today, Mark Galli (ele foi batizado na Igreja Católica Romana quando criança), naturalmente leva filhos e filhas atenciosos da Reforma, a avaliarem as bases de apoio bíblicas e teológicas de sua fé. Afinal, se alguém que ascendeu ao topo de uma revista evangélica fundada por Billy Graham, finalmente decidiu que a fé protestante está de alguma forma em falta, então o que nos faz pensar que estamos em um terreno teológico sólido?

 

Como diz Carl Trueman, “Precisamos de boas e sólidas razões para não sermos Católicos; não ser Católico deveria, em outras palavras, ser um ato positivo de vontade e compromisso, algo que precisamos sair da cama determinados a fazer todos os dias”.

 

A seguir, então, consideraremos três preocupações que frequentemente instigam movimentos de afastamento e aproximação da Igreja Católica Romana, razões que parecem fazer parte da jornada de Galli: desencanto, a busca por clareza e um desejo de unidade da igreja.

 

  1. Desencanto

Um artigo do Religion News Service (RNS) sobre a “jornada” de Galli, citou-o expressando insatisfação com suas próprias orações enquanto servia como pastor presbiteriano, antes de descobrir o Livro de Oração Comum anglicano. “Eu estava cansado das frases banais que usava o tempo todo”, disse ele. “O Livro de Oração Comum tinha essas orações magníficas de louvor, confissão e ação de graças”, e eu pensei: É isso que quero dizer!

 

Essa insatisfação é comum. Vivemos em um mundo de rápida invenção tecnológica, que cada vez mais nos protege do genuinamente humano. Os limites superficiais dos feeds de notícias de nossos agregadores e, a espiritualidade terapêutica efetivamente nos envolvem em um mundo de nossa própria criação, um mundo que reduz a fé Cristã à uma mercadoria que é comercializada e depois consumida.

 

Acrescente a isso, a ânsia de muitas igrejas protestantes em tornar Deus “amigo do buscador”, e acabamos com congregações abarrotadas de pessoas que se perguntam o que exatamente estavam procurando – nada, ao que parece, que eles não pudessem ter encontrado em um inspirador Ted Talk ou show pop. Tais almas anseiam por um encontro divino que se eleva acima do modo mundano, materialista e digitalmente esgotante da vida secular, mas elas são tratadas com shows de luzes, projetores e sermões interativos do tipo “tweet para o pastor”.7

 

Os que se convertem à Roma, geralmente vêm desse grupo desencantados. Famintos por grandeza e autoridade do alto, eles entram em uma Missa Católica e ouvem pela primeira vez o canto de um Sanctus, observam o partir do pão reverente e são atingidos pela humildade de se curvar na presença de Deus. É a via pulchritudinis sobre a qual o Bispo Robert Barron costuma falar: o “caminho da beleza” encontrada na hóstia consagrada, catedrais, água benta, incenso, velas e vários sacramentos que evidenciam a presença misteriosa de Cristo.

 

A fome pela beleza do ritual Cristão não é nenhuma novidade. Basta ler as histórias de conversão de Newman, Muggeridge e Merton. A questão não teve pouca importância na Reforma do século 16. Entre as capelas, pinturas e afrescos de tirar o fôlego do período, os Reformadores lutaram por algo mais profundo. Brad Littlejohn coloca o seu dedo sobre isso: “Novamente, foi a contestação dos Reformadores de que a beleza da santidade em que Roma se gloriava era apenas uma fachada pintada, um simulacro da coisa real. Em vez de revelar o sobrenatural no natural, o extraordinário no comum, sua transubstanciação só poderia substituir o pão e o vinho por substâncias celestiais. Em vez de conceder ao crente fiel acesso ao Santo dos Santos para festejar perante o Senhor, eles o deixaram boquiaberto enquanto a classe sacerdotal intercedia em seu nome e trazia alguns pedaços de graça para sustentá-lo em sua cansativa peregrinação. Em vez de convidar o crente a piscar atordoado perante a luz ofuscante da presença de Deus, vestido com a justiça de Cristo, eles o encorajaram a descansar contente com um acesso mediado, vestidos com as roupas usadas dos santos e apóstolos”.

 

Há informações valiosas aqui. Como Grant Macaskill enfatiza em seu livro Living in Union with Christ [Vivendo em União com Cristo], os cristãos não são indivíduos tentando apreender a Deus – embora possa parecer em nossas rotinas seculares. Em vez disso, nos tornamos nos espaços sagrados nos quais Deus agora habita por causa da obra consumada de Cristo. De dentro, o Espírito redime todas as dimensões do nosso ser. Em adição à nossa racionalidade, Deus leva cativas nossas partes interiores a partir das quais surgem afeições santas (Col. 3:12; Fm. 1:7).

 

Essa redenção completa e robusta nos estimula a adorar por meio de nossa vocação, música, poesia, confissão, pregação, sacramentos e orações – formas que constituem o rico direito de nascença de nossa herança cristã “católica”. É uma herança que não ousamos permitir que seja trocada por um ensopado de lentilhas dos incensos, coros hipnóticos e sermões biblicamente débeis.

 

  1. Busca por Clareza

Muitos se identificam com a experiência de participar de um estudo bíblico no qual todos têm uma opinião, e voltamos para casa com a sensação de que não há nada claro e objetivo no qual se apoiar. Galli confessa que experimentou “um certo cansaço com as constantes polêmicas teológicas e estilhaços no mundo evangélico”. Ele é citado como tendo dito: “Quero me submeter a algo maior do que eu”.

 

Ao longo dos séculos, os Católicos Romanos descreveram esse fenômeno como “biblicismo”. Em seu sermão  “Unreal Words” [Palavras Irreais] (1840), John Henry Newman expressou sua frustração com o número cada vez maior de interpretações protestantes: “Evitemos falar, seja de que tipo for, seja mera conversa vazia ou censura, ou profissão ociosa, ou desencantamento sobre as doutrinas do evangelho, ou a afetação da filosofia, ou a pretensão de eloquência.” Em oposição a tal “interpretação privada”, Newman foi atraído por uma densa autoridade do magistério que prometia certeza doutrinária e ética.

 

Confrontados por tal ambiguidade interpretativa e rancor, os convertidos procuram Roma para resolver a luta, que alguns acreditam ser um resultado da Reforma Protestante, particularmente a doutrina do Sola Scriptura. Por exemplo, Peter Kreeft escreve: “O Protestantismo mostra um deslizamento maciço e natural em direção ao modernismo, liberalismo, relativismo e historicismo em relação às Escrituras”. Contra este deslize, Kreeft apresenta o magistério Católico Romano como o baluarte que nunca falha, “a rocha de Pedro que se levanta contra as inundações da história.” Novamente, “Essa rocha não existe fora de Roma. É o único dique contra qual o oceano do relativismo nunca apresenta vazamentos. Nem agora nem jamais o fará”.

 

Mas o relato de Kreeft é muito organizado. Um amigo que havia pegado emprestado meu exemplar do livro de Kreeft rabiscou nas margens: “Papa Francisco?” Um pouco atrevido, mas faz sentido. Se há uma coisa que o pontificado de Francisco demonstrou, é a natureza imperceptível do magistério Católico Romano. Como Onsi Kamel explica em seu recente artigo no First Things, “O Catolicismo Me Tornou Protestante”, as lutas internas entre os católicos tradicionalistas, conservadores e liberais destacam a redução considerável na reivindicação de Roma de falar com a voz viva da autoridade divina. A certeza interpretativa completa não pode ser realizada na posição sola magisterium de Roma, mais do que na interpretação privada de alguém.

 

Até que Cristo volte, continuaremos a enxergar através de um espelho, vagamente (1Co 13:12). Nesse ínterim, felizmente, temos a graça iluminadora do Espírito, que transmite a fé, a esperança e o amor divinos.

 

  1. Unidade da Igreja

A preocupação de Galli com a divisão eclesial, segundo o artigo da RNS, “o deixou exausto”. Ele achou atraente a afirmação da igreja romana de ser a única igreja verdadeira. “A verdadeira unidade requer não apenas um consentimento mental e emocional”, disse ele, “mas na verdade, um acordo para viver sob uma estrutura, um ethos, uma maneira de fazer as coisas juntos.” Esse motivo, parece-me, é um fator que aparece em praticamente todas as conversões a Roma.

 

A divisão tem sido uma dimensão dolorosa – e às vezes embaraçosa – de nossa herança Protestante, uma falha que devemos reconhecer e assumir. Claro, entendemos as razões teológicas pelas quais Lutero recuou de Zwínglio em Marburg quando Lutero afirmou: “Seu espírito e nosso espírito não podem andar juntos. Na verdade, é bastante óbvio que não temos o mesmo espírito.” Mas ainda é preocupante. E deveria ser, pois a Bíblia tem muito que dizer sobre a preservação da unidade cristã (Sl. 133; João 17: 20–21; Rom. 15:5-6; 1 Cor. 1:10–13; Ef. 4:1-3).

 

De acordo com Roma, a experiência da unidade da Igreja é mantida por padres que servem como mediadores espirituais e bispos que representam os apóstolos. Nessa visão, o clero ordenado não ministra simplesmente em nome de Cristo; eles operam em ofícios imbuídos de sua autoridade sagrada, uma continuação de sua presença encarnada. A infalibilidade desta igreja é entendida como sustentada por Cristo governando por meio de Pedro e dos outros apóstolos que estão presentes em seus sucessores, o papa e o colégio dos bispos. Os limites da igreja de Cristo são, portanto, identificados em certo sentido com os da Igreja Católica Romana.

 

Quando os Reformadores se separaram ou foram excomungados por Roma, eles rejeitaram essa estrutura romana. Em vez disso, eles enfatizaram a identidade e o chamado da igreja como comunhão de santos, a congregação dos fiéis que recebem a palavra redentora de Deus, administrada e confessada de várias maneiras na pregação, instrução, confissão, sacramento e vida.

 

Com relação ao relacionamento da autoridade divina com essa identidade, Michael Horton nos lembra de maneira útil: “A igreja está sempre recebendo o fim em seu relacionamento com Cristo; nunca é o redentor, mas sempre o redimido; nunca a cabeça, mas sempre o corpo.” A coerência desta igreja pode parecer deficiente para aqueles que a comparam com os órgãos institucionais e escritórios de Roma. Mas a verdadeira unidade envolve diversos homens e mulheres que se definem pelo evangelho, uma adesão compartilhada pelas tradições cristãs de cada tribo, língua e nação.

 

Embora as razões familiares de Mark Galli para nadar no Tibre – suavizando sua escolha ao afirmar ser um “Católico evangélico” – continuam a ter uma certa força entre alguns Protestantes vacilantes, elas não precisam vencer. Quer seja o desencanto com o cenário da igreja de hoje, a busca por clareza teológica ou o desejo de unidade eclesial, a fé bíblica defendida e redescoberta durante a Reforma tem sustentação histórica e teológica mais do que suficiente para nos manter eretos e caminhando com confiança em nosso Salvador.

 

FONTE: https://www.thegospelcoalition.org/article/evangelicals-not-become-catholic/

Tradução: Douglas Moura

Revisão: Thaís Gerhardt